O Abaporu é uma das obras símbolo da arte brasileira, assim como sua autora, Tarsila do Amaral. Só que para além do valor artístico, do próprio valor financeiro, ela também é icônica por inspirar um dos principais movimentos culturais brasileiros: a Antropofagia.
Tarsila do Amaral: influências artísticas e o modernismo brasileiro
Primeiramente é interessante observar a formação de Tarsila do Amaral. Inicialmente naturalista, ao se mudar para Paris e estudar na Academia Julian e no ateliê de Émile Renard, ela recebe uma bagagem vanguardista. Ao voltar para o Brasil em 1922, adere ao modernismo e forma o “Grupo Dos Cinco”.
Este era composto também por Anita Malfatti, que a apresentou para Oswald de Andrade, Mario de Andrade e Menotti Del Picchia. Primeiramente eles deram início ao movimento “Pau-Brasil” (1924), com um manifesto de mesmo nome, que convocava poetas a exaltarem as peculiaridades do Brasil. Tarsila havia viajado um ano antes para Espanha e voltou com inspirações cubistas de Picasso e Léger.
Nesta época, ela buscava representar as paisagens do Brasil rural e urbano, usando das técnicas aprendidas na Europa. Entretanto a mudança veio em 1928, quando Tarsila durante meses, pinta em segredo um quadro para seu marido Oswald de Andrade. A obra ainda sem nome, que mostrava uma figura desproporcional, o fascinou e ele a levou para seu amigo, o também poeta Raul Bopp.
Juntos, eles começaram a ver na pintura a figura de um índio canibal, um antropófago que devoraria a cultura para em seguida reinventá-la. Empolgada com a interpretação de sua obra, ela buscou um dicionário de tupi-guarani e batizou-a de “O Abaporu”.
O Abaporu – 1928
O Abaporu: de obra sem nome à início de movimento artístico
Com seu nome oficialmente escolhido (que significa “o homem que come”), O Abaporu inspirou um dos principais movimentos artísticos do Brasil: a Antropofagia. O próprio Oswald de Andrade, inspirado pela obra, criou o “Manifesto Antropófago”.
Como a cultura europeia era dominante na época, a ideia do manifesto era de absorvê-la e transformar em algo nacional. A importância do Abaporu é fundamental, pois ele representa exatamente esse conceito de dar “brasilidade” a arte produzida com inspirações estrangeiras.
Apesar de ser um presente para Oswald, logo ele voltaria para posse de Tarsila. Isso porque eles se separaram em 1929 e na divisão de bens, ela ficou com o quadro, em troca de outro de seu acervo, o “O Enigma de Um Dia”, de Giorgio de Chirico, que ela deixou com seu ex-marido. Sob sua posse, o quadro tornou-se uma obra itinerante, passando por diversas cidades e países.
Passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Veneza e por várias cidades brasileiras. Entretanto, nos anos 60, ele já não estava mais com Tarsila, pois ela havia vendido para o colecionador Pietro Maria Bardi. Fundador do MASP, ela vendeu para ele, pois esperava que ele integrasse de forma permanente o acervo de um museu.
No entanto o colecionador preferiu vendê-lo para o colecionador Érico Stickel menos de um mês depois de comprá-lo. Em 1984, o galerista Raul Forbes o comprou por 250 mil dólares (recorde de uma obra brasileira). Posteriormente ele leiloou o quadro na famosa Christie’s, em Nova York.
Arrematado por 1,35 milhão de dólares (novo recorde) ele foi para a posse do empresário argentino Eduardo Constantini. Ele criou o MALBA, o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, e doou o Abaporu para ele, onde faz parte até hoje de seu acervo.
Curiosidades de O Abaporu
- Apesar de ter passado pelas mãos do fundador do MASP, a obra foi ser exposta lá pela primeira vez apenas em 2019;
- O quadro foi símbolo de um movimento que buscava dar brasilidade a cultura vinda da Europa, mas ironicamente foi exposto pela primeira vez fora do país: em 1928, em Paris;
- O Abaporu é a obra brasileira mais valiosa, com valor estimado de 45 milhões de dólares. Entretanto não é a que custou mais da história. Esse posto pertence ao quadro “A Lua”, também de Tarsila, que foi comprado pelo MoMa por 20 milhões de dólares;
- Com muitas interpretações sobre o que seria o personagem pintado, a sobrinha-neta dela, Tarsilinha em 2014 trouxe no livro “Abaporu: Uma Obra de Amor” uma tese totalmente nova. Trata-se de um autorretrato da própria Tarsila do Amaral. Segundo ela, havia um espelho na casa onde ela morava com Oswald, que tinha esse reflexo distorcido, que pode ter servido como inspiração para ela. Por fim, ela destaca também que a pintora tinha o segundo dedo maior que o dedão, exatamente como na obra.
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