O Carnaval está chegando e aproveitando à data, traremos a história de um dos primeiros pintores a retratar as festividades no Brasil. Ironicamente não se trata de um brasileiro, mas sim de um francês: Jean-Baptiste Debret.
Só que sua importância, como vocês verão adiante, vai muito além de registrar nossa principal festa popular. Isso porque ele também foi um importante mestre, um dos fundadores da Academia Imperial de Belas Artes e pintor que fez fama em três impérios diferentes: o francês, o português e o brasileiro.
Debret: desde jovem um apaixonado pela arte
Nascido no ano de 1768 em Paris, Jean-Baptiste Debret não teve o mesmo problema que muitos de sua época, que sofriam com os pais sendo contra seu viés artístico. Seu pai, Jacques Debret era um importante político francês e seu irmão François também era um artista, mas na área da arquitetura.
No entanto, sua primeira influência foi o primo Jacques-Louis David, líder do neoclassicismo francês. Ele ingressou em seu ateliê em 1783 e junto com ele viajou para Itália, onde ficou por um ano. Ao retornar, ingressa na Academia Real de Pintura e Escultura da França para se especializar.
Debret consegue, em 1791 vencer um concurso para bolsista em Roma, com a obra “Régulos para Cartago” e seguiu participando dos concursos realizados pela academia, até esta ser fechada, dois anos depois.
A arquitetura entra na vida de Debret e a volta às artes
Com o fechamento da Academia e a conjuntura da França no período, ele ingressa no Institut de France, onde seu irmão era um renomado arquiteto. Ele se forma no local e posteriormente passa a lecionar lá. Apesar de chegar a trabalhar como engenheiro em fortificações para os conflitos que se avizinhavam no país, em 1798 ele retornou ao campo das artes.
Ele começa fazendo trabalhos para edifícios públicos e residências particulares, juntamente com os arquitetos Percier e Fontaine. Entretanto, a grande mudança na vida de Debret seria em 1805, quando pinta pela primeira vez Napoleão Bonaparte.
O período como pintor da corte de Napoleão
O diretor de museus, Vivant-Denon, encomenda a ele obras dedicadas à glória de Napoleão. Com isso, ele ganha um poderoso financiador e passa a pintar diversas obras sobre o então imperador francês.
Entre elas, algumas se destacam:
- Sua primeira tela relacionada ao imperador e que recebeu menção honrosa do Instituto de França – “Napoleão Homenageia a Coragem Infeliz” (1806);
- “Napoleão Condecora o Granadero Lazareff em Tilsitt” (1807);
- “Napoleão discursa para as Tropas Bávaras” (1810).
Porém este período como pintor oficial do imperador dura somente até 1814, quando Napoleão é deposto. Debret ainda nutre expectativas de seu retorno, graças a um golpe que o leva de volta ao poder em 1815. Só que este novo governo dura apenas 100 dias e o agora ex-imperador é deposto novamente e preso.
Tal situação, aliada a perda de seu filho de 19 anos, deixa-o em uma tristeza profunda, mas isso mudaria um ano depois, quando recebe um convite para integrar uma missão para a então colônia portuguesa Brasil.
Debret como pintor do império português
O convite para vir para o Brasil partiu de Lebreton, secretário da Escola de Belas Artes da França, pois D. João VI desejava levar uma missão com artistas e mestres como forma de desenvolver a região culturalmente. Isso ganhou força especialmente depois que a família real portuguesa veio fugida para o país, em 1808.
Juntamente com Jean-Baptiste Debret, também tivemos outros nomes importantes como o arquiteto Grandjean de Montigny e o escultor Auguste Taunay. Juntos os três projetaram e organizaram os ornamentos para a coroação de D. João.
Posteriormente, ele foi um dos fundadores da AIBA (Academia Imperial de Belas Artes), onde era um dos mestres e chegou a ser diretor também. Além disso ele foi o pintor oficial do Império tanto de D. João, como também de Dom Pedro I, mas sua contribuição foi muito além das pinturas da corte.
Ele desenhou artigos como luminárias, roupas de gala, papéis de parede, o modelo da bandeira imperial (base que inclusive é usado até hoje, o losango amarelo sobre o fundo retangular verde), etc. Só que seu trabalho mais valioso foi graças ao interesse pelos costumes da população comum do Brasil.
Retratando a sociedade da época
A importância das pinturas e relatos de Debret sobre o período são incalculáveis. Ele retratava a sociedade como um todo, mostrando também como era o cotidiano da cidade, a vida dos escravos, além claro do “Entrudo”.
O Entrudo no Rio de Janeiro – Debret (1823)
Seu interesse pela festa popular que unia as diversas classes sociais presentes no país foi tema de diversos relatos dele, que viriam a estar presente nas três obras ilustradas que ele fez, chamadas “Viagem pitoresca e histórica ao Brasil”. Debret foi o responsável pela primeira exposição de arte em território brasileiro, quando expôs as obras de seus alunos da AIBA, em 1829.
A segunda, seria em 1830, seguindo os mesmos moldes da anterior. Finalmente em 1831, alegando problemas de saúde, Debret retorna para a França. Entretanto seus relatos sobre o Brasil receberiam um trato especial, pois em 1834, 1835 e 1839, ele lançou as obras “Viagem pitoresca e histórica ao Brasil”.
Cada uma delas contava com um tema diferente, sendo eles:
- A de 1834 falava sobre a cultura indígena;
- Já a de 1835, trazia a relação entre brancos e escravos;
- Por fim a de 1839 falava sobre a corte e as tradições populares.
O interessante de se observar é que além da riqueza de detalhes com que ele retratava, ele buscava ser o mais fiel possível a realidade da época. Ou seja, ele mostrava abusos sofridos por escravos, o modelo patriarcal da sociedade, além claro de todo o contexto das festas populares.
As principais obras de Debret sobre o carnaval
Como dissemos anteriormente, o Entrudo causava uma especial fascinação no artista, que dedicou muitas linhas para falar sobre a festa e a confecção dos “limões de cheiro”, usados na brincadeira. Entretanto esta não foi a única obra destacada dele sobre os primórdios do nosso carnaval.
Podemos destacar também “Marimba, Passeio de Domingo à Tarde” de 1826 e “Carnaval” de 1827.
Debret voltou para Paris, onde viveu até o dia de sua morte, em 28 de junho de 1848.
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