Você já ouviu falar em Sebastião Salgado? Caso não, saiba que este brasileiro é um dos mais renomados fotógrafos do mundo, sendo uma referência no fotojornalismo. Além disso, ele também é reconhecido pelo teor social de seus trabalhos. Todavia, ele não começou desde cedo, descobrindo sua vocação bem mais tarde e quase “por acaso”.
Sebastião Salgado: o início como economista e a mudança para fotógrafo
Ele nasceu na cidade de Aimorés, em Minas Gerais, no dia 8 de fevereiro de 1944. Em princípio, sua vocação inclinou-se para a área de exatas, com ele se graduando em economia na Universidade Federal do Espírito Santo em 1967. Posteriormente ele fez a pós e o mestrado na USP, concluindo em 1968, mesmo período em que trabalhava no ministério da economia.
Contudo, sua vida sofreu uma grande mudança devido à perseguição política. Por conta da ditadura militar, ele teve de pedir asilo na França. Já vivendo em Paris, ele concluiu em 1971 o doutorado na área de economia na própria Universidade de Paris.
Logo depois, ele passou a trabalhar como secretário para a Organização Internacional do Café, em Londres. Ele ficou lá entre 1971 e 73, sendo neste último ano que sua carreira sofreu uma grande mudança.
Foi em uma viagem para Angola, na África, onde coordenou um projeto sobre a cultura de café, que passou a fotografar como hobby. Foi neste momento que ele descobriu no trabalho fotográfico, a melhor forma de retratar os acontecimentos no planeta. Desde o início ele sempre deu foco especial aos excluídos e naqueles que vivem à margem da sociedade. Logo após voltar de viagem, ele passa a trabalhar como fotógrafo freelance na França.
A carreira pelas grandes agências fotográficas da Europa e nos EUA
Um ano depois de iniciar sua carreira como fotógrafo freelance, ele vai para a agência Gamma. Nela, seu trabalho de destaque foi a cobertura da Revolução dos Cravos, em Portugal (1974). Entre 1975 e 79, ele integrou a Sygma. Durante este período ele viajou através de mais de 20 países, onde retratou os mais variados acontecimentos.
Logo depois, em 1979, ele deixa a Sygma e passa a fazer parte de uma cooperativa instituída por Robert Capa e Henri Cartier-Bresson, entre outros fotógrafos. Com o nome de Magnum Photos, ela foi importante em sua carreira por dois motivos diferentes. Primeiramente por conta das fotos documentais sobre camponeses latino-americanos, que deram origem a seu primeiro livro.
Só que um outro fato o fez ganhar notoriedade nos EUA. Isso porque em 1981, ele estava trabalhando como repórter fotográfico do The New York Times. Por conta disso, ele ficou encarregado de fazer uma série de fotos sobre os 100 primeiros dias de governo de Ronald Reagan.
Graças a isso, ele acabou sendo o único a registrar o atentado a tiros que o então presidente sofreu, em 30 de março daquele ano. Além da notoriedade mundial com o acontecimento, ele conseguiu um bom dinheiro vendendo as fotos para jornais do mundo todo. Esse valor possibilitou um projeto pessoal seu: viajar para a África.
Os primeiros livros de Sebastião Salgado
Graças a muitos dos registros realizados por ele durante seu trabalho na América do Sul, ele pôde lançar seu primeiro livro. Chamado “Outras Américas”, ele trazia fotos que mostravam as condições de vida dos camponeses e dos índios da América Latina.
Este livro é de 1986, mas não foi o único que ele lançou no ano. Ainda em 86, após um período de 15 meses, em que esteve trabalhando com o grupo francês, Médicos Sem Fronteiras, veio “Sahel: O Homem em Agonia”.
Ele percorreu a região de Sahel na África, registrando a devastação causada pela seca, documentando-a no livro. Sua inclinação para as causas sociais fez com que ele iniciasse um novo trabalho, ainda em 1986. Até o ano de 1992 ele fotografou o trabalho manual e as péssimas condições de vida dos trabalhadores em diversos locais do mundo.
Esses registros renderam a série “Trabalhadores”, que ele lançou em 1996. Aqui é preciso destacar um fato importante, pois um pouco antes, em 1994, ele cria sua própria empresa. Com o nome de “Amazonas Imagens” ela tem como foco gerenciar e publicar seus trabalhos.
Os primeiros trabalhos com temática 100% nacional
Mesmo sendo um fotógrafo brasileiro de renome, ainda não havia nenhum grande trabalho dele apenas retratando temas nacionais. Entretanto, nos anos 90 tivemos dois importantes registros feitos por Sebastião Salgado.
Primeiramente temos o de 1997, que chama-se “Terra”. Nele, o fotógrafo busca mostrar os problemas da questão agrária no Brasil. Em seguida, vem o de 1999 com o título de “Serra Pelada”. Esse é visto até hoje como um de seus principais trabalhos.
Os registros trazem as condições precárias do garimpo que atraiu cerca de 80 mil garimpeiros de diversas partes do mundo a tentar a sorte lá. Serra Pelada ficava no município de Curionópolis, no Pará e os registros são impressionantes. Eles mostram a convivência das pessoas com o perigo de morte a todo momento (e isso ocorreu muito lá), e como era feito o trabalho no local.
Obras “Êxodos”, “Retratos de Crianças do Êxodo” e a relação de Sebastião Salgado com organizações humanitárias
Durante os anos de 1993 até 99, Sebastião Salgado deu atenção especial ao desalojamento de pessoas ao redor do globo. O Fenômeno global, resultou em duas obras, que ele lançou em 2000: “Êxodos” e “Retratos de Crianças do Êxodo”.
Nestes trabalhos, o próprio fotógrafo fez a introdução:
“Mais do que nunca, sinto que a raça humana é somente uma. Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes. Pessoas fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constroem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a situações extremas…”.
Posteriormente, em 2001, ele foi indicado para ser um representante especial da UNICEF. Desde então ele é atuante em várias outras organizações humanitárias como o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ONG Médicos sem Fronteiras e a Anistia Internacional.
Já como representante da UNICEF, ele doou os direitos de reprodução de várias fotografias suas para o Movimento Global pela Criança. Além disso, em 2003, fez um trabalho mundial em que destacava o trabalho pela erradicação da Poliomielite.
Trabalho mais recentes, premiações e indicações
Ao longo do século XXI, Sebastião Salgado teve outros trabalhos de destaque na fotografia, a saber:
- Um Incerto Estado de Graça (2004)
- O Berço da Desigualdade (2005)
- África (2007)
Em 2013, ele lançou outro de seus grandes trabalhos, chamado “Gênesis”. Ele foi fruto de registros feitos entre 2004 e 2012, trazendo retratos da natureza e também de povos que vivem ao redor do mundo de acordo com suas tradições mais antigas.
Um ano depois, com produção de seu filho, Juliano Salgado juntamente com o fotógrafo Wim Wenders fazem um documentário sobre Sebastião. Com o título de “Sal da Terra”, ele mostra a trajetória do fotógrafo, ao longo de vários de seus trabalhos. Ele inclusive recebeu indicação ao Oscar de 2015, mas não venceu.
Uma de suas maiores honrarias veio em 2017, pois ele tomou posse da cadeira n.º 1, das quatro de fotógrafos, na Academia de Belas Artes da França. Ele tornou-se o único brasileiro a receber tal honraria. A importância da França na sua vida foi destacada pelo mesmo, durante a cerimônia de posse:
“A França é muito importante para mim. Passei mais tempo aqui do que no Brasil, que é minha origem, minha raiz. A composição dessas duas nações fez o que sou hoje.”
Por fim, em 2022 ele também recebeu um prêmio. Foi em 25 de abril que a ICP (Centro Internacional de Fotografia) de Nova York deu-lhe o “Infinity Award”. A premiação, anual, o premiou pelo conjunto da obra ao longo de sua vida.
Atualmente, ele segue com o projeto iniciado em 1998 do “Instituto Terra”. A ONG tem como missão a recuperação ambiental e o desenvolvimento rural sustentável do Vale do Rio Doce.
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