Nesta semana da consciência negra, iremos trazer um dos maiores expoentes brasileiros da cultura afro, Emanoel Araújo. Para além de ser um artista bastante versátil e de suas muitas obras, ele ainda deixou um importante legado para o estudo das contribuições africanas na cultura nacional: o Museu Afro Brasil.
Emanoel Araújo: início na Bahia
Ele nasceu em Santo Amaro da Purificação, uma cidade do Recôncavo baiano, em 1940 e desde cedo já lidava com trabalhos artísticos. Isso porque Emanoel Araújo é de uma tradicional família de ourives. Durante sua juventude aprendeu marcenaria com o mestre Eufrásio Vargas, linotipia, além de estudar composição gráfica na Imprensa Oficial de sua cidade natal.
Ele faz sua primeira exposição individual ainda em 1959, com apenas 19 anos. Posteriormente em 1961 deixa Santo Amaro da Purificação rumo a Salvador. Lá ele ingressa na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde estuda gravura com Henrique Oswald, formando-se em 65.
Durante o período que esteve na universidade, esse período com Henrique Oswald é particularmente importante, pois é quando ele cria suas primeiras obras em xilogravuras. Em suas produções notam-se algumas que já possuem relevos, dobras ou rugas. Essas obras exploram temas locais e representações femininas que aludem à fecundidade.
Um ano depois de formado, ele recebe seu primeiro prêmio nacional: por sua participação na II Exposição Jovem Gravura Nacional no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo.
Os anos 70, as mudanças em seu estilo e o primeiro prêmio internacional
A partir de 1971, Emanoel Araújo passa a demonstrar maior interesse pelo tridimensional. Por conta disso, realiza obras abstratas, compostas por formas geométricas conjugadas. O artista aproxima-se de forma gradual das vertentes construtivas, reduzindo as formas a estruturas primárias.
Obra de 1972. Reprodução: Itaú Cultural
Passamos então a ver trabalhos que contêm segmentos ondulados de outras gravuras, colados sobre o plano de uma gravura maior. Dessa forma ele busca produzir cortes, interferências e justaposições no plano.
Neste período, novamente tem seu trabalho reconhecido, mas desta vez ele também vem internacionalmente. Em 1972 Emanoel Araújo é premiado com medalha de ouro na 3ª Bienal Gráfica de Florença, Itália. Já no ano seguinte, recebe o prêmio de melhor gravador pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).
Já em 1977, o artista participa do 2º Festival Mundial de Arte e Cultura Negra e Africana (Festac ‘77). Neste momento que vemos referências mais diretas da cultura africana tanto na temática como na estética de suas obras.
Por exemplo: há uma forte presença de símbolos de entidades do candomblé em esculturas. Além disso, vemos nas cores e nas formas escolhas que buscam remeter a objetos ritualísticos da religião afro-brasileira.
O início dos trabalhos em museus de Emanoel Araújo
Por conta de seu vasto conhecimento do mundo das artes, entre os anos de 1981 e 83, ele dirige o MAB (Museu de Arte da Bahia). Só que no mesmo ano que ele passou a dirigir este museu, ele também expõe individualmente pela primeira vez no MASP. Já no ano de 1983 ele recebe um novo prêmio da APCA, dessa vez de melhor escultor.
Posteriormente Emanoel Araújo vai para o exterior para lecionar artes gráficas e escultura no Arts College, na The City University of New York. Já em 1992 e até 2002, ele passa a ser diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo, inclusive o processo de revitalização da instituição deu-se graças a ele.
No entanto ele não ficou apenas nela, pois entre 1995 e 96 ele integra a Comissão dos Museus e o Conselho Federal de Cultura, instituídos pelo Ministério da Educação e Cultura. Em 98 ele volta a ser premiado, agora com o Prêmio “Cicillo Matarazzo” pela ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte), vale dizer que em 2007 ele voltaria a recebê-lo.
O navio, obra de 2007
Emanoel Araújo e o Museu Afro Brasil
Apesar de seu trabalho nestas instituições, ele sempre desejou um local voltado para o estudo das contribuições africanas à cultura nacional. Até que finalmente em 2004, depois de muitas tentativas frustradas, ao apresentar uma proposta museológica à então prefeita de São Paulo, Marta Suplicy e encampado pelo poder público, começou o projeto de implementação do Museu Afro Brasil.
O museu foi inaugurado contando com a coleção particular do diretor/curador Emanoel Araújo no Parque do Ibirapuera, onde permanece até hoje. Vale dizer que ele exerceu essa função desde a criação, até sua morte em 7 de setembro de 2022.
Museu Afro Brasil no Parque do Ibirapuera
A idealização do Museu Afro Brasil
Emanoel Araújo descreveu em um artigo o conceito por trás da criação do museu. Explicou que foram mais de duas décadas de pesquisas e exposições exibindo como negro quem negro foi e quem negro é no Brasil. Além disso, destacou a importância a partir do olhar e da experiência do negro criar um museu que pudesse “registrar, preservar e argumentar” a formação da identidade brasileira.
Ele explica qual a principal missão do museu na sua concepção:
“O Museu Afro Brasil tem, pois, como missão precípua a desconstrução de estereótipos, de imagens deturpadas e de expressões ambíguas sobre personagens e fatos históricos relativos ao negro, que fazem pairar sobre eles obscuras lendas que um imaginário perverso ainda hoje inspira, e que agem silenciosamente sobre nossas cabeças, como uma guilhotina, prestes a entrar em ação a cada vez que se vislumbra alguma conquista que represente mudança ou o reconhecimento da verdadeira contribuição do negro à cultura brasileira”.
Primeiramente ele contava com um total de 1100 peças de sua coleção particular. Atualmente ele conta com mais de 8 mil peças em seu acervo, que busca englobar os universos culturais africanos, indígenas e afro-brasileiro. Já sobre os núcleos temáticos, eles visam abranger aspectos da arte, da religião afro-brasileira, do catolicismo popular, do trabalho, da escravidão e das festas populares.
Dessa forma, a ideia é registrar a trajetória histórica, artística e as importantes influências africanas na construção da sociedade brasileira.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA