Entre as muitas categorias de mangás, separamos especialmente esta para o mês da mulher: shoujo. Apesar de para os brasileiros inicialmente não fosse uma denominação tão familiar, hoje é junto com o shonen, os que tem os públicos mais cativos de suas obras.
O que é o shoujo?
Simplificando podemos dizer que a versão feminina do shonen. Tanto que a palavra shoujo significa literalmente “garotas”, o mesmo que com o shonen, que quer dizer “garoto”. No entanto, há algumas particularidades sobre a origem e seu uso, pois no Japão é comum as meninas (adolescentes) serem referidas como “joshi” e raramente como shōjo.
A título de curiosidade, os termos para mulheres em suas mais diferentes idades são:
- Menina (criança) – onna no ko;
- Garota – joshi;
- Mulher – onna;
Já termos como shoujo e josei (pensando nas categorias de mangás) tratam de algo para o sexo feminino em geral.
Assim como no shonen, no shoujo hoje não há mais uma limitação de temas a serem abordados por esta categoria. Ou seja, temos ação, temas históricos, ficção científica, vida casual (slice of life), isekai, entre outros, voltados para o público feminino.
Quais as características do shoujo?
Ainda que seja sempre importante reforçar que as categorias não necessariamente se referem a estilos, cada uma carrega suas características marcantes. Com o shoujo não é diferente, pois muitos trazem normalmente protagonistas femininas em idade escolar. Mesmo que tenhamos traço mais cartunescos como no shonen, eles ainda assim contam com maior delicadeza na concepção dos personagens.
Uma outra marca muito interessante dos mangás shoujo é a diferença com a qual é retratada o homem. Ele geralmente mostra-se muito mais sentimental, além de em muitas obras ser retratado com traços bem mais finos (não necessariamente afeminados, ainda que tenhamos alguns mais andróginos).
O romance é elemento presente e muito trabalhado em boa parte dos shoujo, mas ele traz um leque muito mais abrangente neste sentido. Isso porque é comum termos o “boys love” (yaoi) o “girls love” (yuri) com muito mais naturalidade que no shonen, por exemplo.
Graças a todos esses elementos, temos muitas histórias acabando com aquele conceito de “princesa espera príncipe” e colocando elas em uma posição de força. Mesmo em mangás que trazem um forte foco no romance, podemos vê-las sem viver em função daquilo. Juntamente com isso, temos também personagens que desafiam papéis e estereótipos tradicionais em torno de gênero e sexualidade.
Origem do gênero
A origem do shoujo acredita-se que seja do início do século XX, mas é bem difícil encontrar relatos sobre mangás do gênero na época. O que se sabe é que as primeiras histórias feitas para meninas, eram de autoria masculina. Ou seja, era muito comum que elas trouxessem um ponto de vista patriarcal de como uma mulher devia se portar e se tornar, reflexo da sociedade da época em que mulheres deviam crescer para se tornar mães e donas do lar.
As coisas passam a mudar após o final da II Guerra Mundial e neste ponto precisamos observar que a situação não é tão simples para explicar como chegamos ao estilo shoujo que se popularizou. Primeiramente temos Osamu Tezuka, que trouxe um dos primeiros shoujos de sucesso com a “Princesa e o Cavaleiro”.
Só que temos a revista “Shojo” onde Makoto Takahashi publicou suas principais obras como “Arashi O Koete” e “Norowareta Kopperia” (o primeiro a abordar o tema balé). Ele é referido como o precursor da estética shoujo, tanto que o chamam de “o rei do brilho nos olhos”.
Algumas características que ele implementou no mangá shoujo, que foram referência para muitas autoras, foram:
- Corpos magros e olhos grandes e brilhantes;
- Sobreposição de painéis;
- Retratos de corpo inteiro que preenchem a totalidade da página;
- Fundos que despertam forte emoção e imagens não narrativas.
A importância da revista Shojo vai ainda além de lançar Takahashi, pois ela foi uma importante incentivadora a futuras mangakás. Ela queria que as personagens fossem desenhadas com roupas criadas pelas leitoras. Às vezes isso era premiado também, pois eles publicavam as melhores ilustrações.
As primeiras mulheres mangakás
Graças a essa soma, autoras como Miyako Maki e Masako Watanabe desenvolveram seus estilos, sendo as primeiras com grande destaque no meio. Miyako Maki ganhou notoriedade por “Haha Koi Warutsu” e “Shojo Sannin”, além de ser uma das primeiras autoras a fazer mangás com temática adulta e até com elementos eróticos. E vale destacar também que ela criou o design das bonecas licca-chan (seria o equivalente oriental da Barbie para o ocidente).
Já Masako Watanabe ampliou o leque de temas shoujo, ao colocar a temática de terror (com “Blue Foxfire”) e de mistério (com “Glass no Shiro”). Assim como Maki, ela também transitou para o josei, com séries como “Kinpeibai”, que é baseado em um romance erótico chinês do século XIX.
Infelizmente nesta época (e até hoje, com autoras shonen), boa parte das mulheres mangakás se valiam de pseudônimos para evitar possíveis preconceitos com suas obras. Neste período começamos a ter diversas mulheres de destaque e que buscavam trazer obras mostrando histórias mais maduras e profundas.
Shoujo: quebrando paradigmas na sociedade japonesa
Suas histórias passaram a questionar papel de gêneros na sociedade, as definições do que era ser mulher, estimulando que entrassem no mercado de trabalho, que batalhassem pelos seus sonhos. Um bom exemplo é a história “Rosa de Versalhes”, de Riyoko Ikeda, que traz uma protagonista chamada Oscar, que era uma mulher que foi criada como homem e entrou na guarda real de Maria Antonieta (a autora faz muitos shoujos com pano de fundo histórico).
Esse fato foi particularmente revolucionário, pois graças aos shoujo que os primeiros personagens homossexuais apareceram em mangás. Além disso, começamos a ter as primeiras mulheres independentes protagonistas que não tinham como prioridade viver pela família às custas de seus sonhos, algo que escandalizou a sociedade da época.
Vamos ter uma nova revolução no shoujo no fim dos anos 80, começo dos anos 90, especialmente com a chegada das Clamp e das mahou shoujo (ou garotas mágicas).
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA