Hoje é comum falar sobre mulheres que ganham a vida como artistas plásticas, mas já ouviram falar de uma mulher que fez isso no período renascentista? Lavinia Fontana entrou para história como uma das primeiras pintoras a efetivamente ter uma carreira na qual dependia apenas da venda de seus quadros para sobreviver.
Retrato de mulher com cachorro, de 1580. Este foi uns dos muitos trabalhos de Lavinia para nobres em Bolonha.
A seguir, mostraremos como ela conquistou esse status e se tornou uma das artistas de maior sucesso no Renascimento, entre homens e mulheres.
A juventude de Lavinia Fontana, o treinamento do pai e influências
Lavínia nasceu em 1552 na cidade de Bolonha, sendo filha de Prospero Fontana, um renomado pintor da Escola de Bolonha. Desde cedo, seu pai foi seu professor, ensinando-a tanto como seus outros dois irmãos. No entanto, Prospero concentrou-se principalmente em Lavinia, reconhecendo seu talento natural excepcional.
O fato de ter um pai artista foi o que provavelmente abriu caminho para sua carreira, uma vez que, na época, pintoras não eram aceitas socialmente. Além disso, ela teve a sorte de nascer em Bolonha, uma cidade considerada como progressista para a época, que já contava com uma artista mulher de destaque em sua história, Caterina Vigri.
A escolha de Prospero Fontana de investir no treinamento de Lavinia provou ser acertada, pois ela demonstrou um talento excepcional. Ele a ensinou seguindo o estilo maneirista e era possível ver traços que remetiam ao seu pai em todas suas obras.
No entanto, ele não foi o único professor de Lavinia, pois ela também foi aluna de Ludovico Carracci. Dessa forma, com o tempo adotou o estilo Carracciesco, caracterizado por uma coloração intensa, quase veneziana.
Além desses dois mestres, outras artistas como Sofonisba Anguissola, Caterina Vigri e Properzia de’ Rossi podem ter influenciado a carreira artística de Lavinia Fontana. Essa é uma questão interessante, pois evidencia que a artista também buscava referências em mulheres de muito sucesso no período.
O início de carreira em Bolonha
Durante a década de 1570, Lavinia iniciou sua carreira em Bolonha e rapidamente conquistou destaque como uma das principais e mais requisitadas artistas da região. É importante destacar a influência de seu pai nessa rápida ascensão, especialmente devido à sua relação com a nobreza local.
Um exemplo disso foi a escolha dos padrinhos para o batizado de Lavinia: Signor Agostino Hercolani e Signor Andrea Bonfiglioli. De acordo com a historiadora Adrianna Hook Stephenson, essa decisão foi estratégica para garantir o apoio e suporte da aristocracia local, o que de fato ocorreu.
A historiadora também destaca que a amizade de Prospero com figuras como o jovem Gabriele Paleotti, futuro arcebispo de Bolonha, e o proeminente acadêmico Armodio de Santi foram fundamentais para a carreira de sucesso de sua filha. Pois, ela desfrutou do patrocínio do círculo secular de religiosos e eruditos de Bolonha.
No início de sua carreira comercial, Lavinia dedicou-se a pintar pequenas obras devocionais em cobre que tinham um apelo popular como presentes para papas e diplomatas. A escolha do material deveu-se ao valor e brilho do metal.
O casamento e a consolidação da carreira como retratista
Em 1577, Lavinia Fontana casou-se com outro pintor chamado Gian Paolo Zappi, e foi morar com Prospero. Embora Gian Paolo tivesse menos sucesso que a esposa como artista, ele decidiu colocar sua própria carreira em segundo plano para priorizar a dela. Como prova disso, a pintora teve um total de 11 filhos, e ele era quem os criava, enquanto ela trabalhava, algo raríssimo na época.
Os arranjos desse casamento tiveram diversas peculiaridades. Como Prospero frequentemente se endividava com empréstimos, ele não pagou dote algum, mas em vez disso, pintou para a família do noivo. Lavinia, por sua vez, ofereceu uma de suas principais obras, “Auto-Retrato no Virginal com uma Serva” como dote para a família Zappi. Além disso, a escolha dos noivos morarem com a família dela era incomum na época, mas Gian Paolo argumentou que isso lhe permitiria ensinar aos dois.
Pintura de Lavinia, dada como dote no casamento.
Por fim, o próprio casamento era uma necessidade para Lavinia, pois ela teria dificuldades de aceitação devido à sua origem que não era de convento ou da nobreza. Esse arranjo também possibilitou que a pintora concluísse seus estudos na Universidade de Bolonha, onde obteve seu doutorado em 1580, sem abrir mão da pintura.
Esta nova década marcou uma mudança na carreira da artista, que começou a pintar retratos de nobres bolonheses. O sucesso foi impressionante, a ponto de haver disputa entre a aristocracia por seus serviços. Essa demanda permitiu que Lavinia ganhasse uma considerável fortuna na época.
Roma: as primeiras viagens
Juntamente com seu trabalho como retratista, ela começou a se dedicar também à pintura em grande escala, abordando temas religiosos e mitológicos, que às vezes incluíam representações de nus femininos. Nesse período, ela realizou importantes retábulos nas igrejas de Bolonha e, em 1589, pintou o retábulo “Sagrada Família com o Menino Jesus Adormecido” para El Escorial, em Madri.
Sagrada Família com o Menino Jesus Adormecido.
Isso foi possível após uma visita à Roma em 1586, em que conheceu o cardeal espanhol Francisco Pacheco. Foi por meio dele que ela recebeu essa e outras encomendas para o rei da Espanha.
Lavinia Fontana retornou a Roma em 1600, desta vez sendo encarregada de pintar o retábulo de uma capela dominicana construída em homenagem a São Jacinto da Polônia. Esta obra é particularmente significante, pois marca sua inserção definitiva em um cenário artístico que contava apenas com artistas homens.
A mudança em definitivo para Roma e os últimos trabalhos de Lavinia Fontana
Após o falecimento de seu pai em 1603, a artista recebeu um convite do Papa Clemente VIII para mudar-se definitivamente para Roma com sua família. Embora o pontífice tenha falecido apenas dois anos depois, seu sucessor, o Papa Paulo V, continuou como o patrono de Lavinia, nomeando-a Retratista Ordinária do Vaticano, título dado ao principal pintor do Papa.
Infelizmente, uma de suas obras mais importantes desse período, o retábulo “O apedrejamento de Santo Estêvão Mártir”, com seis metros de altura e destinado à Basílica de San Paolo Fuorile Mura, não existe mais. Isso ocorreu pelo fato do local ter sido completamente destruído por um incêndio em 1823.
Sua carreira em Roma foi tão bem-sucedida quanto em Bolonha, rendendo-lhe diversas homenagens. Entre as principais, destaca-se sua eleição para a Accademia di San Luca de Roma, uma honraria raríssima para uma mulher e um medalhão de retrato de bronze fundido em 1611, pelo escultor e arquiteto Felice Antonio Casoni.
Medalhão feito em homenagem a Lavinia.
Lavínia faleceu em Roma em 11 de agosto de 1614, aos sessenta e dois anos, e foi sepultada em Santa Maria sopra Minerva.
Aprenda Pintura na ABRA
Gostou destas curiosidades? E que tal a oportunidade de realizar um curso acadêmico completo, com acompanhamento individualizado, tudo no conforto e segurança da sua casa? O curso online “Pintura Acadêmica: Formação Completa” oferecido pela ABRA é o mais completo no mercado.
Não perca tempo! Conheça agora mesmo os benefícios e metodologias dos cursos clicando aqui e faça a sua matrícula agora mesmo!
Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA