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O último mês de julho trouxe aos cinemas dois filmes muito aguardados: Barbie e Oppenheimer. Duas produções tão antagônicas em suas temáticas geraram uma brincadeira na internet “shippando” seus nomes como “Barbieheimer”. Contudo, diferente do filme protagonizado pela boneca mais famosa do mundo, o do pai da bomba atômica tem muitas outras discussões em torno do que ele aborda.

Oppenheimer: um filme que leva a discussão para além da ameaça nuclear

O filme conta com a direção de Christopher Nolan, um dos mais respeitados diretores de Hollywood e que tem em seu currículo filmes como a trilogia do Cavaleiro das Trevas, A Origem, Tenet, entre outros. Famoso por não usar CGI em seus longas, um dos intuitos de resgatar a história de Oppenheimer é  alertar para os riscos do uso descontrolado de IAs. 

A reflexão de Oppenheimer: O que a bomba atômica e a inteligência artificial têm em comum? 

Pode parecer estranho para muitos que um filme de uma época em que nem se discutia inteligência artificial como Oppenheimer, possa se relacionar ao tema. Entretanto, Christopher Nolan, ao falar sobre sua produção, deixa bem claro que é exatamente essa reflexão que ele quer levar ao espectador:

“A irrupção de novas tecnologias é algo que acontece constantemente em nossas vidas e muitas vezes elas nos fazem temer o que pode vir junto com elas. Acredito que muito disso provém da história de (Robert) Oppenheimer.” 

Ele até cita o que muitos cientistas chamam de “momento Oppenheimer”, ao se referir sobre o que vivemos em relação as IAs:

“Os pesquisadores de IA se referem ao momento presente como um ‘momento Oppenheimer’. Eles estão interessados nesta história porque oferece pontos de referência sobre o alcance de sua responsabilidade, sobre o que têm de fazer”. 

Ou seja, a reflexão vem a partir de uma situação em que uma nova tecnologia que pode impactar toda a humanidade. E especialmente, sobre algo que não está contando com o devido controle das autoridades.

 

Nolan cita, por exemplo, como a ONU conseguiu estabelecer limites através do controle internacional de armas nucleares e como aplicar esse princípio a algo que não requer processos industriais maciços pode ser mais complicado. Além disso, ele também destaca o fato de a Organização das Nações Unidas não ter mais o poder de outrora para regular de forma adequada essa situação.

Impactos da inteligência artificial já são sentidos também na indústria do entretenimento 

A presença das IAs na indústria do entretenimento rendeu uma das maiores greves da história de Hollywood. Para entender, foi a primeira vez em 60 anos que tanto sindicado dos artistas quanto o dos roteiristas se uniram. Embora muitos possam imaginar que se trata apenas de uma discussão sobre melhor remuneração, a questão da inteligência artificial também está no cerne dessa paralisação.

Isso porque muitos estúdios e serviços de streaming têm avançado sobre a questão da IA de forma preocupante. Para entendermos melhor a situação, vale observar um tema que se tornou comum no meio: a compra da imagem do ator de forma eterna pelo estúdio.

Significa que o estúdio poderá usar perpetuamente a imagem e a voz daquele ator em questão. Isso se aplicaria tanto a quem desempenhasse papéis de destaque quanto a figurantes que cedessem sua imagem. A partir desse ponto, em qualquer filme que necessitasse da presença de transeuntes, público ou outros elementos, o ator estaria presente de forma virtual, sem que o artista recebesse qualquer compensação por isso.

Por conta disso, atores como Keanu Reeves, Samuel L. Jackson já assinam contratos proibindo a manipulação ou uso de sua imagem por IAs. O falecido Robin Willians também proibiu qualquer uso de sua imagem por 25 anos após sua morte. A presença de grandes nomes do cinema só evidencia a gravidade do tema.

Uma situação semelhante ocorre entre os roteiristas, uma vez que já há estudos por parte dos estúdios visando o uso da IA para criar histórias com base em milhões de outros roteiros existentes. Além disso, eles estão considerando sua aplicação para a elaboração de resumos das histórias submetidas para aprovação, permitindo, assim, o “treinamento” da inteligência artificial.

Há um meio termo nesta discussão? 

Difícil dizer, pois os estúdios se portam de maneira moralmente questionável sobre o tema. Por exemplo: um dos chefes desses grandes estúdios disse ao Deadline que eles iriam simplesmente esperar os roteiristas ficarem sem dinheiro para pagar as contas, para aceitarem as condições impostas por eles. Este foi o estopim para o sindicato dos atores aderir à greve.

Pensando apenas em lucrar muito e pagar pouco, os estúdios buscam aumentar o uso de IA para poder reduzir a presença humana tanto na criação, como na atuação. Porém, é preciso ter em mente que, as IAs farão recriações em cima de histórias já prontas. Isso é visto pelos roteiristas como o fim da criatividade, já que teremos apenas reciclados em cima de vários roteiros existentes.

Este acaba sendo um outro problema: o uso sem autorização destes roteiros para treinar a inteligência artificial. Sendo assim, a IA vai aprender usando um texto criado por uma pessoa, mas ela não receberá nada por isso.

Quais perspectivas para o futuro dessa discussão?

Para ser possível encontrar um ponto comum, será preciso haver uma proteção aos direitos autorais de roteiristas. Dessa forma, possibilitar que eles tenham pleno controle sobre aquilo que escrevem e seu uso. Além disso, também será preciso que os atores tenham essa mesma segurança sobre suas imagens, sem que sejam obrigados a aceitar contratos de cessão eterna delas, o que seria praticamente o fim de suas carreiras. Entretanto, isso exigirá que os estúdios recuem muito naquilo que desejam, o que ainda está longe de ocorrer.

O desfecho dessa greve dirá muito sobre os rumos do uso da IA na indústria do entretenimento. E para nós, que trabalhamos com a criatividade e que sempre buscamos explorar ao máximo a imaginação das pessoas, é preocupante a forma como os estúdios têm tratado essa questão, que seria, na prática, uma precarização da arte em detrimento da maximização do lucro.

Aqui na Abra, sempre pensamos na tecnologia como uma forma de ajudar na produção da arte, mas nunca como algo que venha para substituir a criatividade humana.

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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA

 

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