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A Balenciaga é, hoje, uma das marcas mais populares no mundo da moda, especialmente por contar com muitas celebridades que utilizam suas criações peculiares. No entanto, como é comum quando se fala dessas grifes, elas também se destacam por situações polêmicas.

Normalmente, as discussões giram em torno de criações de gosto bastante duvidoso, mas no final de 2022, a marca espanhola recebeu duras críticas devido a uma campanha de divulgação. Como isso é um elemento recorrente no mundo da moda, vamos mostrar um pouco sobre a escalada de polêmicas que culminaram no “cancelamento” da marca entre 2022 e 2023.

Afinal, de onde surgiu a Balenciaga? 

Talvez para o público que acompanha menos o mundo da moda, a Balenciaga possa parecer uma marca que surgiu recentemente e ganhou notoriedade através de suas criações de gosto bastante duvidoso. No entanto, o que muitos não sabem é que se trata de uma empresa centenária que já passou décadas no ostracismo.

Foi fundada na Espanha em 1919 pelo alfaiate Cristóbal Balenciaga Eizaguirre. Devido à Guerra Civil Espanhola, mudou-se para a França em 1936, onde se tornou uma referência entre a alta sociedade local e celebridades.

Cristóbal Balenciaga Eizaguirre, fundador da marca

A morte do fundador em 72 fez com que a marca caísse no ostracismo até 1997, quando a Balenciaga retornou aos holofotes com a entrada do estilista Nicolas Ghesquière. Por fim, ela se tornou o que conhecemos hoje quando Demna Gvasalia assumiu o posto de diretor criativo.

As criações extravagantes, frequentemente vistas como estranhas (ou mesmo de mau gosto), são de responsabilidade do seu diretor criativo. Embora se possa debater muitas vezes sobre elas, o fato é que ele colocou a marca em evidência e a tornou uma das mais requisitadas do mundo.

As polêmicas envolvendo a Balenciaga 

Primeiramente, precisamos contextualizar uma coisa: chocar, levantar discussões e até fazer uso de elementos controversos é algo inerente ao mundo da moda. A grande maioria das marcas faz isso de forma intencional, esperando justamente polemizar.

O grande problema é que esta é uma linha muito tênue entre o que pode ser tratado como uma polêmica válida e o que se torna ofensivo para um determinado público ou para todo ele. Tendo isso em mente, vamos aos casos:

1 – Denúncias de maus-tratos durante a semana de Paris de 2017 

O caso ocorreu em fevereiro daquele ano e envolveu também as marcas Lanvin, Elie Saab e Hermès, que foram acusadas de assédio e até racismo pelo agente norte-americano James Scully. Ele fez uma longa postagem no Instagram onde denunciou situações degradantes pelas quais as modelos passaram. 

Segundo ele, durante um casting, uma agência deixou mais de 150 garotas esperando em uma escada por mais de três horas, sem poder sair dali. Fecharam-nas lá, apagaram as luzes da escada e foram almoçar. O episódio fez com que muitas ficassem traumatizadas e cancelassem as participações nos castings da Balenciaga, Hermès e Elie Saab (que faziam uso da agência Madia & Ramy).

No caso da Lanvin, Scully relata que agentes ouviram da marca que não deveriam selecionar mulheres negras para o casting. Por sua vez, Elie Saab respondeu que havia usado mulheres negras em seus desfiles (7 de 137 em três desfiles). Enquanto isso, a Balenciaga cancelou o contrato com a agência e informou que havia se desculpado com a agência das modelos em questão.

2 – Plágio em campanha 

Este caso ocorreu em 2020 e envolveu um estudante de origem vietnamita da Universidade das Artes de Berlim, Tra My Nguyen, que denunciou  nas redes sociais (e em matéria da CNN) que a marca teria copiado seu trabalho para suas últimas criações

Ele explicou que enviou seu portfólio para a marca após esta mostrar interesse em seu trabalho, alegando que estavam buscando estagiários. No entanto, eles não responderam e nem solicitaram sua autorização para usar as imagens, que apresentavam fotos de motos envoltas em roupas.

Imagens presentes no processo movido por Nguyen contra a Balenciaga

Contudo, neste caso eles negam o plágio e alegam que se inspiraram em formas que ambulantes exibem suas mercadorias. Ele questiona essa versão e ainda alega que fez isso como um alerta, pois afirma que as grandes marcas exploram jovens criativos, especialmente se forem “negros, indígenas ou pessoas de cor”.

3 – Apologia à pedofilia 

Por fim, trazemos o mais recente e grave dos casos envolvendo a Balenciaga. Tudo começou com uma campanha que traz crianças abraçadas a ursinhos de pelúcia com apetrechos associados ao universo BDSM (prática sexual que envolve bondage, disciplina, dominação e submissão, sadismo e masoquismo) e semblante machucado.

Uma das imagens da polêmica campanha

A ideia era seguir a inspiração de uma série fotográfica chamada “Toy Story”, realizada por Gabriele Galimberti (o mesmo profissional que capturou as imagens da Balenciaga) e que apresentava crianças junto de seus brinquedos favoritos.

O problema começa aí, pois as crianças foram fotografadas com bolsas de pelúcia criadas pela Balenciaga e usadas durante a semana de moda em Paris. A diferença é que no desfile, quem as carregava eram modelos adultos, em um contexto que os mostrava sendo arrastados na lama, em mais um dos cenários de destruição comuns nos trabalhos da marca.

Por si só, a campanha já gerou revolta, mas tudo piorou quando novas peças publicitárias trouxeram algumas “mensagens subliminares”. São elas:

  • Uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, de 1996, que reverte a Lei de Prevenção de Pornografia Infantil sob a justificativa de liberdade de expressão (imagem abaixo);
  • Um livro do artista Michaël Borremans, com uma obra em que crianças aparecem nuas em uma espécie de ritual;
  • O certificado universitário com um nome que, quando pesquisado no Google, revela-se ser o de um abusador

O estrago e a tentativa da Balenciaga de recuperar sua imagem 

A marca até conseguiu atingir seu objetivo de gerar polêmica e discussão nas redes sociais, mas o público foi unânime em condená-la. O estrago extrapolou a bolha do mundo da moda, gerando revolta entre ativistas contra o abuso infantil, além de provocar cobranças dirigidas a Kim Kardashian, uma das principais divulgadoras da marca.

Diante do estrago causado, coube ao fotógrafo e à Balenciaga tentarem recuperar suas imagens, seja por meio de desculpas ou explicações sobre os pontos de vista envolvidos na campanha. No entanto, essas respostas não convenceram, parecendo muito mais protocolares do que um verdadeiro arrependimento por parte da marca.

Prova disso é que eles chegaram a abrir um processo contra a produtora North Six, Inc. e o profissional Nicholas Des Jardins, que assina o set design da campanha de verão 2023. Alegavam buscar “reparação por danos extensos que a produtora causou em relação a uma campanha publicitária para a qual a Balenciaga os contratou”, numa tentativa de eximir seu diretor criativo e a marca de culpa.

Como essa abordagem também não convenceu a opinião pública, eles finalmente admitiram o erro, pediram desculpas (a marca e o diretor) e agora estão colaborando com a National Children’s Alliance (NCA), uma ONG internacional que oferece apoio jurídico e psicológico a crianças vítimas de abuso.

No âmbito deste acordo, a organização fornecerá pequenos cursos sobre proteção infantil para os funcionários da Balenciaga. Além disso, a marca se comprometeu a apoiar financeiramente a NCA e a aumentar a conscientização pública sobre o abuso infantil.

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