Em 2024, a Pinacoteca de São Paulo estará realizando a exposição “Lygia Clark: Projeto para um planeta”,
comemorando o centenário da artista mineira, que trouxe uma verdadeira revolução para a arte da sua época.
Aproveitando este grande evento sobre essa notável artista, hoje iremos falar um pouco sobre a importante contribuição dela para a arte, destacando especialmente o movimento neoconcreto, do qual ela foi uma das precursoras, e também algumas de suas obras mais importantes.
Lembrando que a exposição estará em exibição na Pinacoteca até o dia 4 de agosto de 2024, para aqueles que desejarem visitá-la.
Lygia Clark e o neconcretismo
O concretismo chegou ao Brasil e se estabeleceu em São Paulo durante a década de 50. Foi um movimento que teve origem na Europa durante o século XX, e tinha as seguintes características:
- Busca de precisão nas formas;
- Uso de formas abstratas;
- Influência do Cubismo;
- União entre a forma e o conteúdo;
- Defesa da racionalidade, lógica e cientificismo.
Essa arte extremamente técnica fez com que surgisse no Rio de Janeiro um movimento com ideias que se opunham a esta lógica, o neoconcretismo. Ele contava com diversos artistas oriundos do grupo Frente, do qual Lygia Clark foi uma das fundadoras, na década de 50.
Os precursores dele foram o poeta maranhense Ferreira Gullar e a própria artista plástica mineira. O movimento cresceu e tinha como pilares, além da própria oposição ao concretismo:
- Uma busca por maior subjetividade e expressividade artística;
- A Liberdade de experimentações e criações artísticas;
- Interação do público com a obra;
- Abstracionismo e uso de cores e formas geométricas;
- Transcendência da arte;
- Existencialismo e Humanismo.
A exposição neoconcreta e a série “bichos”
O ano de 1959 contou com a I Exposição neoconcreta, inaugurada no MAM do Rio de Janeiro. Foi um dos grandes acontecimentos do ano nas artes, pois, junto a ela, tivemos artistas como Amílcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissman, Lygia Pape, Reynaldo Jardim, Theon Spanudis, além da própria Lygia Clark assinando o Manifesto Neoconcretista, que destacava a defesa dos pontos citados acima, juntamente com a oposição ao concretismo.
A exposição contou com 20 obras da artista, com destaque para as primeiras obras da série “bichos”, a mais famosa de Lygia, e uma das grandes atrações da exposição da Pinacoteca.
Elas são placas de metal unidas por dobradiças que podem ser manipuladas pelo público. Essa interação permite a cada pessoa criar outras formas, ressignificar a obra e explorar as diversas possibilidades que ela oferece. Ainda assim, não é exatamente simples manipular, pois a peça traz certa resistência, fazendo com que os resultados nem sempre sejam aqueles esperados por quem está mexendo.
A própria Lygia Clark fala sobre a sua ideia ao criar estas obras:
“É um organismo vivo, uma obra essencialmente atuante. Entre você e ele se estabelece uma integração total, existencial. Na relação que se estabelece entre você e o Bicho não há passividade, nem sua nem dele”.
Inclusive, essa se tornou uma marca das obras de Lygia: de tirar o público do papel de mero espectador e torná-los participantes ativos em suas criações.
Outras obras interativas de Lygia Clark
A artista foi uma grande defensora dessa interação do público com suas obras. Um caso interessante começa em 1966, quando ela cria os Objetos Sensoriais Pedra e Ar, Diálogo de Mãos, Livro Sensorial, Respire Comigo entre outros trabalhos.
Dez anos depois, por conta de uma artrite em estado avançado, Lygia Clark artista abandona as experiências coletivas praticadas em Paris e inicia uma nova fase, com uma abordagem individual para cada pessoa.
Essa abordagem posteriormente se chamaria “Estruturação do Self”, na qual ela recorre aos Objetos Sensoriais, criados por ela mesma desde 1966, e os utiliza com fins terapêuticos.
Ainda temos uma obra bastante curiosa de Lygia Clark, intitulada “Baba Antropofágica”. Nesta obra, uma pessoa se deitava no chão, enquanto as outras recebiam um carretel de linhas coloridas cada uma. Em seguida, elas colocavam os fios na boca para desenrolá-los e depositavam a linha encharcada de saliva sobre o corpo da pessoa que estava deitada.
Depois que as linhas acabavam, todos se juntavam aos fios, em um emaranhado. Segundo Lygia, a ideia era fazer a experimentação do corpo alheio com esta experiência.
Lygia Clark e as artes plásticas
Apesar de ser lembrada principalmente pelas suas esculturas, o acervo de Lygia Clark também conta com muitas pinturas, principalmente do começo de sua carreira.
Por exemplo, ela apresenta várias pinturas com o tema de escadas, que realizou entre o final dos anos 40 e o início dos anos 50.
Posteriormente, ela começa a estudar Planos em Superfícies Moduladas, que renderam uma série de pinturas com o mesmo nome.
Lygia estava dedicada ao estudo do espaço e da materialidade do ritmo das linhas, até que finalmente apresentou suas Superfícies Moduladas na I Exposição do Grupo Frente, em 1954. Ela exibiu várias obras desta série até 1959, quando surgiram as obras “Casulos”.
Trata-se de elementos presos na parede, mas que se dobram para fora, saindo do campo bidimensional. Inclusive, esta foi a base que inspirou ela a criar a famosa série “Bichos”.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA