Yayoi Kusama é, nos dias de hoje, uma das principais artistas contemporâneas vivas. Aos 95 anos, ela segue criando ativamente suas obras, que são verdadeiras experiências imersivas. Vamos hoje falar um pouco mais sobre as inspirações dela para suas criações, assim como é seu processo criativo único.
O caminho da arte a contragosto da família e a inspiração decorrente de sua doença psiquiátrica
A artista nasceu em Matsumoto, província rural do Japão, no berço de uma família conservadora que não aceitava a sua vocação para o mundo das artes, que ela já demonstrava desde criança.
Só que a virada na vida da artista veio quando ela foi diagnosticada como portadora de transtorno obsessivo compulsivo, sujeita a ter alucinações e até mesmo comportamentos suicidas. A artista conta que, por sorte, foi atendida ainda jovem por um psiquiatra que a orientou a investir na criação artística baseada em sua doença mental.
Nessa fase da vida, Yayoi Kusama começou a enxergar “pontos”, devido aos problemas psicológicos que sofria. E seguindo as orientações do psiquiatra, ela decidiu retratá-los através de desenhos. Desde então, desenvolver a criatividade e materializá-la em inúmeras obras de arte tem sido o caminho trilhado pela artista para lutar contra os sentimentos negativos que permeiam sua mente.
O maior problema para ela era que a situação do Japão pós-guerra não a favorecia, fazendo com que se sentisse sufocada. Neste período, ela se comunicava com a pintora estadunidense Georgia O’Keeffe para quem fez um pedido:
“Estou apenas no primeiro passo de uma longa e difícil vida para me tornar uma pintora. Você gentilmente me mostraria o caminho?”
Ela foi acolhida por ela em Nova Iorque, mas antes de ir embora do Japão, destruiu praticamente todas as obras que tinha criado até então.
O período nos EUA e o estilo único criado por Yayoi Kusama
Quando Yayoi Kusama chegou aos EUA, ela estava em meio ao surgimento da pop art no país. No início, ela criou as chamadas “pinturas de rede infinita”. Elas consistem em milhares de pequenas marcas repetidas obsessivamente em telas grandes, sem levar em conta as bordas da tela, como se continuassem no infinito.
Em pouco tempo ela passou a integrar e ser uma das figuras centrais da pop art nos EUA, ao lado de nomes como Donald Judd, Claes Oldenburg, Sol LeWitt e Andy Warhol. Foi durante este período que ela criou seu estilo único, que misturava diversas influências:
- Doenças mentais – os padrões repetitivos de suas obras são usados para expressar os seus sentimentos de ansiedade e obsessão. Além disso, ela também incorpora elementos de alucinação e delírio em algumas das suas obras;
- Cultura japonesa – Yayoi Kusama conta com fortes inspirações da cultura japonesa em suas obras. As mais notáveis são a do ukiyo-e, além da música e moda do país;
- Surrealismo – como é bem notório, suas obras contam com fortes traços surrealistas, com destaque especial por sua inspiração em Salvador Dali. Além disso, sempre a atraiu a ideia de explorar o subconsciente e a imaginação através da arte, especialmente pela sua condição clínica;
- Minimalismo – Apesar de apreciar a simplicidade e a limpeza das formas minimalistas, também gostava de subverter essas ideias ao adicionar os seus próprios padrões e cores;
- Pop art – O que mais chamava sua atenção era a natureza popular e acessível da pop art, tanto que ela incorporou alguns desses elementos nas suas próprias obras.
O agravamento dos problemas psiquiátricos decorrentes do roubo de ideias de artistas dos EUA
Mesmo sendo uma das grandes referências da pop art, Yayoi Kusama sofreu muito durante o período. Isso porque teve suas ideias e inspirações roubadas por outros artistas, que acabavam por levar a fama em seu lugar.
Falamos aqui de grandes nomes da época e citamos alguns casos emblemáticos:
- Andy Warhol – o nome mais famoso do movimento copiou a ideia de Kusama de criar imagens repetidas numa obra, como ela fez na instalação Mil Barcos, em sua obra mil vacas;
- Claes Oldenburg – copiou a ideia da artista de seu sofá de tecido fálico para criar uma escultura mole pelo qual ele se tornaria famoso;
- Lucas Samaras – foi talvez o pior caso, pois Kusama havia sido a primeira a criar um ambiente de sala espelhada do mundo, que seria um precursor do Quarto de Espelho Infinito, na Galeria Castellane, em Nova York. Poucos meses depois, este artista expôs sua própria instalação espelhada na bem mais prestigiada Galeria Pace.
Em todos os casos, ela ficou à sombra deles, sem o devido reconhecimento de suas criações, o que a deixou mentalmente abalada, a ponto de se jogar da janela de seu apartamento. Foi neste momento que ela contou com a ajuda de amigos que fez no país, como Beatrice Webb, para se recuperar e tomar uma decisão: não seria mais uma escrava do mercado de galerias e não teria ninguém decidindo quando e onde ela exibiria sua arte.
O começo do reconhecimento mundial e o retorno para o Japão
Seguindo uma postura totalmente diferente, Yayoi Kusama contou com muitas aparições polêmicas nos EUA, com destaque para as performances em que pessoas sem roupa tinham o corpo preenchido por suas bolinhas.
Juntamente com isso, começou a ganhar fama na Europa, ao buscar participar de eventos no velho continente. Tanto que na década de 60, a artista teve suas obras expostas em Amsterdã, Milão, Roterdã, Estocolmo, Turim e Veneza.
Foi durante este período que Yayoi criou algumas de suas obras mais famosas, como por exemplo o “Narcisus Garden” de 1966, que expôs na Bienal de Veneza. Esta foi uma obra que foi recriada em diversos países e está presente no Instituto Inhotim, uma versão de 2009.
Outras criações dela que merecem destaque são a ‘Rede Infinita”, feita entre o fim de 1950 e o começo de 1960, que traz sua marca registrada de pontinhos pintados de forma obsessiva.
Além deles, ela fez muitas experiências imersivas, como o “Campo de falos” (1965). Trata-se de uma grande área repleta de formas fálicas decoradas com bolinhas brancas e vermelhas, rodeada de espelhos.
O período no ostracismo e o retorno aos holofotes
As muitas aparições polêmicas nos EUA não foram bem vistas nem lá, que falavam sobre uma “busca excessiva por holofotes”, como no Japão, com sua família se envergonhando pela sua postura.
Ela ainda ficou nos EUA até 1973, quando decide retornar ao Japão. Em Seu retorno, ela expande seu campo criativo, pois além das pinturas, performances e esculturas, começou também a escrever romances e poemas.
Quatro anos depois, Yayoi Kusama decide internar-se em uma instituição psiquiátrica, onde vive até hoje por conta própria. Contudo, isso não foi um impedimento para sua arte, pois ela mantém perto do hospital um apartamento e um ateliê, onde cria suas obras. Nesta época, ela estava sozinha, sem apoio da família e esquecida pela mídia do país, mas o apoio dos médicos fez com que ela seguisse em frente.
O retorno se deu no começo dos anos 90, quando historiador de arte japonês Akira Tatehata conseguiu convencer o governo de que ela deveria ser a primeira artista solo a representar o Japão na Bienal de Veneza, em 1993. A aposta mostrou-se acertada e o sucesso dela na exposição transformou sua imagem na sua terra natal, que passou a lhe dar o devido reconhecimento.
O sucesso através das redes sociais
Apesar de ser uma artista de renome mundial, o seu atual status “pop” é relativamente recente, pois veio graças às redes sociais, especialmente o Instagram. Até pelos ambientes coloridos e imersivos de suas criações (como seus “Infinity Mirror Room”), eles se tornaram cenário perfeito para fotos e selfies a serem postadas nas redes sociais.
Tal fato passou a gerar curiosidade dos usuários sobre quem era a artista, assim como de também terem suas experiências e fotos registradas juntos as obras de Yayoi Kusama.
O século XXI traz diversos registros importantes para a carreira da artista, como o lançamento de dois documentários sobre sua vida, a criação de um museu só com obras suas no Japão, o prêmio Praemium Imperiale da Japan Art Association que ganhou em 2006, além da parceria com a Louis Vuitton, que vem desde 2011.
Atualmente, ela segue criando ativamente suas obras, seja em seu ateliê ou no hospital.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA