Zuzu Angel é um dos nomes mais famosos do Brasil no século XX. Contudo, muitos lembram dela por conta de sua trágica história com seu filho Stuart Angel, morto pela ditadura militar.
Além de costureira (como ela mesma gostava de ser chamada), ela foi importantíssima para a moda no Brasil, sendo a primeira estilista feminina de renome, além de sua significativa contribuição na luta pelo fim do regime ditatorial no país.
Agora, vamos destacar alguns dos motivos que fazem dela uma das pessoas mais importantes do país no último século.
Zuzu Angel: a mulher que ressignificou a moda no Brasil
Zuleika de Souza Netto nasceu em 1921 em Curvelo, Minas Gerais. Vinda de família humilde, acredita-se que isso possa ter impactado diretamente sua carreira. Isso porque, quando se mudaram para Belo Horizonte, ela aprendeu a costurar, o que foi amor à primeira vista.
Durante seu tempo livre, ela aproveitava os retalhos que sobravam para criar roupas para suas bonecas. Além de aproveitar ao máximo os tecidos, ela também lidou com muitos tecidos que seriam marcas de suas criações quando adulta, como a chita.
Apesar de começar cedo, ela demorou a conseguir se firmar como estilista. Durante esse tempo, ela chegou a fazer roupas para projetos sociais, para os próprios filhos, costurando para a vizinhança onde morava no RJ, entre outros trabalhos que ajudaram a evoluir sua técnica.
Por conta de tantos trabalhos diferentes, ela começou a desenvolver um estilo próprio, que tinha diversas peculiaridades, como misturar renda, seda, fitas e chitas com temas regionais e do folclore, com estampas de pássaros, borboletas e papagaios.
Além disso, Zuzu também trouxe para a moda as pedras brasileiras, fragmentos de bambu, de madeira e conchas.
Uma estilista de destaque em um mundo predominantemente masculino
Toda essa inovação que ela trouxe chamava atenção na costura brasileira, pois até então o que tínhamos aqui no começo dos anos 60 era um padrão de moda europeu e com peças feitas predominantemente por estilistas homens, como Clodovil e Dener.
Foi quando Zuzu Angel apareceu com mais força, inclusive trazendo sua célebre frase:
“Eu sou a moda brasileira”
Junto disso, ela quebrou esse paradigma de roupas europeias, trazendo a brasilidade e enaltecendo matérias-primas brasileiras, que por muito tempo foram consideradas de segunda linha, como a própria chita e rendas brasileiras. Outro ponto de destaque é que ela fez todas as suas criações sempre pensando no formato curvilíneo das brasileiras.

Modelos de roupas de Zuzu Angel
Justamente pela escolha dela em enaltecer a cultura nacional, foi o que atraiu os olhares do exterior. Tanto que, pouco tempo depois de seu primeiro desfile, em 1966, no Copacabana Palace, ela já contava com suas roupas em passarelas estadunidenses.
A virada trágica na carreira de Zuzu Angel
A estilista vivia seu auge, consolidada tanto no Brasil como no exterior. Seu reconhecimento no exterior podia ser visto pela presença de roupas assinadas por ela em lojas como Bergdorf Goodman, Saks, Lord & Taylor, entre outras. Além disso, a marca virou queridinha entre estrelas de Hollywood, como Liza Minnelli, Joan Crawford e Kim Novak.

Zuzu Angel e Liza Minelli
Contudo, tudo mudou em 1971, quando seu filho Stuart Angel foi preso, torturado e morto pela ditadura. Buscando pelo paradeiro e corpo do filho, ela passou a lutar ativamente contra o regime.
Ela chegou até mesmo a pedir ajuda aos EUA por conta da dupla nacionalidade do filho, enviando dossiês para Henry Kissinger, então secretário de Estado dos EUA, e à esposa de Mark Clark, comandante do exército. No entanto, nada foi mais impactante que seu desfile-protesto no mesmo ano de 71.
Um dos mais importantes desfiles da história
Foi em setembro de 1971, em Nova Iorque, que Zuzu Angel teve o momento mais impactante de sua carreira: quando fez um desfile no exterior em protesto à ditadura militar.
Ainda em busca por respostas sobre o sumiço de seu filho (que ela só descobriria tempos depois através de uma testemunha), ela chamou a atenção do mundo para o que acontecia no Brasil. E para isso, ela usou a casa do cônsul brasileiro, para que não fosse acusada de fazer protestos fora do país.
No desfile, saíram as tradicionais estampas alegres por estampas que traziam cenários sombrios como: pássaros em gaiolas, quepes, aviões, tanques militares, soldados e canhões.

Zuzu Angel ajeitando o vestido de protesto. Fonte: Acervo Zuzu Angel
O final foi ainda mais impactante, pois Zuzu Angel surgiu em um vestido longo preto e cabeça coberta por um manto, além de um cinto com cem crucifixos e, no pescoço, um enorme pingente de porcelana em formato de anjo. Era tanto um luto, como uma mostra de indignação com tudo que estava acontecendo.
Não só esse protesto, mas todos os movimentos dela em busca de seu filho fizeram com que o regime a silenciasse em 1976. Ela sofreu uma emboscada e acabou morta em um “acidente” de carro. Somente em 1998 foi reconhecido que ela foi de fato assassinada pelo regime.
E mesmo tanto tempo depois, a contribuição dela na moda e na luta contra o regime mais sombrio da história brasileira seguem sendo exaltados.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA