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Vincent van Gogh é um dos nomes mais emblemáticos da história da arte, devido ao uso ousado das cores e à profundidade emocional de suas obras, que conquistaram o mundo e influenciaram gerações de artistas.
Contudo, sua vida pessoal foi marcada por desafios, muitos deles envolvendo sua saúde mental. Entre os episódios mais misteriosos da sua trajetória está a noite em que Van Gogh perdeu parte de sua orelha, um acontecimento que despertou inúmeras teorias e se tornou um símbolo do artista.
Mas afinal, o que realmente aconteceu naquela fatídica noite em Arles?

Uma casinha amarela em Arles

Em fevereiro de 1888, Vincent van Gogh se mudou para uma pequena cidade no sul da França chamada Arles. Em cartas enviadas ao seu irmão, ele comenta o seu fascínio pela cidade e que lá havia encontrado um refúgio onde poderia explorar sua criatividade sem interrupções.
Van Gogh morou numa casa modesta, pintada de amarelo, que se tornaria o cenário de alguns de seus momentos mais produtivos e também mais conturbados.

Quadro pintado por Van Gogh da casa amarela em que morou em Arles

Ele tinha grandes planos para aquele lugar, pois imaginava transformá-la em um espaço de convivência artística, um ateliê onde pintores pudessem viver e trabalhar, trocando ideias e inspirações. Esse sonho ganhou força com a chegada de Paul Gauguin, um pintor francês que Van Gogh admirava.
No entanto, a convivência entre os dois logo evidenciou suas diferenças, transformando a casa amarela de Arles no cenário de um conflito que resultou em um dos episódios mais enigmáticos da história da arte: o dia em que Van Gogh arrancou sua própria orelha.

Teoria 1: Uma briga entre gênios

A versão mais tradicional sobre o episódio da orelha decepada de Vincent van Gogh aponta para uma briga intensa entre ele e Paul Gauguin, dois gênios cujas personalidades e visões artísticas não dialogavam.

Passeio de família ao sol, pintura de Paul Gauguin que evidencia o estilo diferente se comparado à Van Gogh

Apesar de terem feito uma boa amizade no início e compartilharem muitos momentos juntos, relatos mostram que as diferenças entre eles eram gritantes, ao ponto de criarem muitos episódios de discussões, que se tornaram cada vez mais frequentes, inflamadas pelas suas personalidades igualmente explosivas.

Na noite de 23 de dezembro de 1888, o conflito chegou ao ápice. Segundo relatos, após mais uma briga em um dos bordéis da cidade, Gauguin, irritado e exausto, decidiu não voltar mais para a casa amarela. É dito que, tomado pelo desespero e pela angústia do abandono, Van Gogh recorreu a um gesto extremo: ele teria mutilado sua própria orelha esquerda com uma navalha.

 

Teoria 2: O drama familiar e a notícia do casamento de Theo

A relação de Vincent van Gogh com seu irmão Theo era mais do que um laço familiar. Theo era uma figura essencial para o equilíbrio emocional de Vincent, sendo o maior incentivador do artista e fornecendo apoio constante, mesmo nos momentos mais desafiadores.

Por isso, a teoria da notícia do noivado de Theo apresenta que esse foi o gatilho para o episódio da orelha. De acordo com essa versão, o anúncio de que Theo estava prestes a se casar com Johanna Bonger teria abalado profundamente Vincent, que temia perder a atenção e o apoio do irmão.

Quadro de Van Gogh que motivou a criação da versão do drama familiar

As correspondências trocadas entre eles nessa época revelam pistas que sustentam essa tese. Em uma carta, Vincent menciona de forma indireta seus sentimentos conflituosos em relação ao noivado de Theo. No entanto, a notícia do irmão, recebida pouco antes do incidente em Arles, teria intensificado o estado já fragilizado de Vincent, mergulhando-o em angústia e desespero.

Ao invés de um confronto externo, como na versão tradicional com Gauguin, essa teoria coloca o drama interno de Van Gogh no centro do episódio. Sua dependência emocional de Theo, combinada com o medo de um possível afastamento, pode ter levado Vincent a um ato de automutilação como uma forma extrema de lidar com a dor.

Teoria alternativa: O golpe de Gauguin

Entre as teorias que circulam sobre a orelha de Vincent, uma das mais controversas aponta para uma briga intensa entre o pintor e seu colega Paul Gauguin como o verdadeiro motivo do incidente.

De acordo com essa versão, seria Gauguin, e não Van Gogh, o responsável pelo corte da orelha. Essa hipótese também se baseia na complexa relação entre os dois artistas.

Relatos sugerem que a noite fatídica culminou em um confronto violento, no qual Gauguin, habilidoso no manuseio de espadas, teria usado uma arma para golpear Vincent durante a briga. Sob essa ótica, o episódio não seria um ato de automutilação, mas sim uma agressão direta.

Após o incidente, Gauguin partiu de Arles, deixando Van Gogh para enfrentar sozinho as consequências de sua mutilação e a internação subsequente. Ele nunca retornou à casinha amarela nem ao convívio com Vincent. A versão de Gauguin como autor do corte nunca foi confirmada por registros oficiais ou pelo próprio artista, que permaneceu em silêncio sobre o episódio pelo resto da vida.

O que sabemos hoje?

O episódio da orelha decepada de Vincent van Gogh, seja qual for a verdadeira explicação, deixou marcas profundas na vida e na obra do artista. A mutilação não apenas evidenciou seu sofrimento mental, mas também simbolizou um ponto único em sua trajetória.

Após o incidente, Van Gogh foi internado em um hospital em Arles e, posteriormente, em um asilo em Saint-Rémy-de-Provence. Durante esse período, sua saúde mental oscilou entre momentos de lucidez e crises profundas. Ainda assim, ele continuou a produzir intensamente, canalizando sua dor e complexidade emocional em obras que se tornaram icônicas, entre elas, destaca-se o “Autorretrato com a Orelha Cortada”.

Autorretrato com a Orelha Cortada

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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA

 

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