No dia 12/03 foi inaugurada na nova galeria da ABRA – Academia Brasileira de Arte a mostra Mutações, que apresenta 18 telas surrealistas do artista plástico Everson Fonseca, e contou com mais de 150 espectadores, entre eles alunos e convidados do artista.
Everson costuma mesclar em suas pinturas o realismo dos retratos com objetos, plantas, pessoas e animais, o que faz com que a obra adquira uma característica antropomórfica bastante peculiar.
A série Mutações inaugura o Projeto ABRA Special Guest, que terá outras edições ao decorrer do ano, e é uma iniciativa da escola – ABRA – para apresentar aos seus alunos, e também ao público em geral, artistas dos mais variados seguimentos.
A mostra conta com a curadoria do crítico de arte Enock Sacramento.
// SOBRE A SÉRIE MUTAÇÕES. (Por: Enock Sagramento)
Biologicamente, as espécies formam os gêneros, que originam as famílias que, por sua vez, na sequência, formam, as ordens, as classes, as divisões ou filos e, finalmente, os reinos. O cachorro, por exemplo, pertence à espécie Canis familiares, ao gênero Canis, à família Canidae, à ordem Carnivora, à classe Mammalia, ao filo Chordata e ao reino Animália. Para sermos rigorosos, precisaríamos dizer que, cientificamente, aceita-se a existência de cinco reinos. Mas, para não complicar, vamos nos referir a apenas dois: o reino Plantae ou Vegetal e o reino Animalia ou Animal. O cão, por sua vez, é um animal designado irracional, em contraposição ao homem, que é um animal provido de razão.
Como a arte não é um sistema de conhecimentos certos baseados em princípios universais, ou seja, não é uma ciência, as coisas não se passam bem assim. Na arte de Everson Fonseca, por exemplo, um cachorro pode apresentar-se como um ser humano, ostentando mãos humanas e indumentária utilizada pelos homens. Pode até mesmo assemelha-lo a retratos artísticos tal como a da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, com feições caninas enigmáticas. O fundo da obra pode corroborar para a identificação da referência. Neste sentido, Everson pratica a metalinguagem, ou seja, uma arte que se referencia na própria arte. A obra em causa não bloqueia a leitura inversa: um homem com face de animal. Ocorre, no caso, uma metamorfose, uma transformação como a que acontece no famoso livro de Kafka. Na obra pictórica de Everson Fonseca, alagoano que reside e trabalha em São Paulo, há uma convivência pacífica entre os elementos morfológicos dos reinos vegetal e animal.
Com efeito, a metamorfose é uma das características marcantes da obra pictórica de Everson Fonseca. Ora ela é de natureza mais radical, tal como a citada no parágrafo anterior. O mais frequente, todavia, é ela se concentrar nas orelhas de seus personagens. Assim, orelhas humanas se metamorfoseiam em orelhas de amimais irracionais mediante alterações de formas, em asas de borboletas, asas de pássaros, em penas; outras vezes, dão origem a galhos com folhas e flores, a folhas isoladas ou a formações florais sobre os quais, não raro, insere um pequeno animal.
Os semblantes são invariavelmente frontais e têm um quê de retrato posado, com exceção da obra Voo linear, de natureza simbólica e com um planejamento vermelho requintado. O vermelho também está muito bem colocado em formas expressivas de pimentas, contrastando muito bem com verdes escuros em duas obras da exposição. A pele é como se fosse de porcelana, olhos, nariz e boca, de tão bem desenhados, criam uma sensação de distanciamento, de não-realidade. Trata-se de personagens, ainda que eventualmente referenciados em pessoas reais, personagens oníricos, fantásticos, que habitam o mundo dos sonhos. A indumentária rebuscada, muitas vezes volumosa e rica em adereços, esconde quase todo o corpo e nos remete à idade média. Os fundos ora são constituídos por paisagens, todavia, grande parte deles recebe um tratamento moderno de cores chapadas, de formas geométricas, sobretudo listras.
Esta é a pintura de Everson Fonseca, um pintor de ofício.
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