O mês de novembro marca a Proclamação da República no Brasil. E um dos principais registros deste momento histórico é a obra de Benedito Calixto, “Proclamação da República”.
Como muitas obras deste período, ela possui diversos significados, mas com uma peculiaridade: uma visão realista do evento (diferente de “Independência ou Morte” de Pedro Américo, que traz uma visão romantizada, por exemplo). Pensando nisso, hoje vamos fazer uma análise desta pintura, observando esses pormenores da obra.
A escolha por Benedito Calixto
A Proclamação da República ocorreu no ano de 1889, mas Calixto foi pintar a obra apenas em 1893. Por conta disso, o artista já tinha em mãos fotografias do evento.
O pintor trazia uma peculiaridade: ele nunca se vinculou a nenhum movimento artístico do século XIX. Depois de ficar 18 meses na França, onde frequentou os ateliês do pintor impressionista Jean François Raffaelli e do pintor e fotógrafo Henri Langerock, além de estudar na Academia Julian, Calixto voltou ao Brasil com uma câmera e se tornou pioneiro em fazer pinturas por meio de fotografias. Além de se tornar uma referência em obras de constituição histórica, também registrou importantes momentos do Brasil-Colônia, paisagens e marinhas, cenas religiosas e particulares do cotidiano.
Sua escolha se deu pela experiência neste tipo de obras, além de Benedito Calixto contar com uma boa relação com as elites da época. Ainda assim, esta foi a primeira grande cena que ele pintou, pois até então ele havia apenas feito pequenas pinturas.
Técnicas Artísticas de Benedito Calixto
Antes da análise propriamente dita, é interessante conhecer um pouco mais sobre o estilo de pintura de Benedito Calixto.
Ele utilizava uma técnica de pintura lisa, com o uso de velaturas, que são camadas finas de tinta que criam profundidade e luminosidade. Ele também era conhecido por seu colorido fiel às características locais, especialmente no uso de verdes, azuis e ocres.
Calixto frequentemente fazia estudos fotográficos preparatórios, o que lhe permitia uma representação exata e detalhada das cenas históricas e paisagens. Inclusive, por conta disso, ele realizou muitos trabalhos como cartógrafo, sendo um profundo conhecedor do litoral paulista.
Análise da obra Proclamação da República
Quando ela foi pedida a Benedito Calixto, a nova república vivia um momento efervescente, com diversas revoltas populares e sem a presidência de Marechal Deodoro, que já havia renunciado.
Até então, as obras que tinham a proclamação como tema traziam uma visão muito mais romantizada de como foi o evento. Por exemplo: a obra de Oscar Pereira da Silva, que também tinha o nome de “Proclamação da República”, trazia uma cena totalmente diferente, com a presença do povo aclamando o momento.
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Obra de Oscar Pereira da Silva, com muitas diferenças em relação a obra de Calixto
Só que Benedito Calixto trouxe uma nova visão para este momento: um evento feito apenas pelos militares e sem nenhum apoio ou mesmo interesse da população em estar ali.
O local retratado é o Campo de Santana, onde ficavam o Comando do Exército, o Senado, a Casa da Moeda, a Prefeitura e a Estação D. Pedro II. Uma curiosidade é que ali era um pântano até o século XVIII.
Além disso, a forma como se retrata o exército ali mostra como foi o movimento no dia e o caráter de golpe militar e não propriamente uma revolução.
Isso pode ser comprovado com os relatos da época, em que o Marechal Deodoro, neste dia 15 de novembro, vestiu a farda e seguiu ao encontro de tropas que iam em direção ao Campo de Santana. Montado em seu cavalo, depôs o presidente do gabinete ministerial, Visconde de Ouro Preto.
Por fim, rumou para o quartel, concretizando simbolicamente a tomada de poder.
A Revolução sem disparos
Ainda dentro desta análise, outro fator que chama atenção é que não temos um embate militar. Apesar da presença de canhões e de fumaça, acredita-se que foram tiros de festim para comemorar a queda do antigo regime ou mesmo uma licença poética do artista.
Outra coisa que vale atenção é que este momento é visto por poucas pessoas na janela de suas casas ao fundo da obra. Contudo, mesmo estas parecem não ter grande interesse no que está ocorrendo ou apenas acreditando tratar-se de uma parada militar.
Tal fato retrata um pouco a situação que envolvia o exército e o império naquele momento. Eles se sentiam desprestigiados pelo governo e humilhados pela forma como o Ministro da Guerra (que era civil) os tratava, inclusive afastando dois coronéis.
Controvérsias
Ainda que a obra de Benedito seja bem mais realista que a de Oscar Pereira da Silva, ainda há estudiosos e historiadores que discutem sobre a romantização do evento.
Para eles, a forma como a obra é mostrada visa criar heróis para a nova (e ainda frágil) república brasileira. Seria um movimento da própria elite, da qual Benedito Calixto era bem próximo.
Dessa forma, eles acreditavam poder trazer um cenário idealizado e engrandecer os feitos nacionais (como já ocorria no período, com diversas outras obras). Ainda assim, falamos de uma pintura que mostra de forma muito mais realista e “crua” como de fato o movimento aconteceu.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA