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Qualquer pessoa que more em São Paulo já passou pelo menos uma vez sobre o Viaduto Santa Ifigênia. No entanto, por ser um elemento presente no dia a dia de muitos, não se percebe a grandiosidade arquitetônica da obra. Além disso, estamos falando de um projeto audacioso para a época da sua construção, executado seguindo a corrente artística do Art Nouveau, que estava em alta naquele momento.

 Estrutura do Viaduto Santa Ifigênia

Hoje contaremos um pouco mais sobre a história de um dos principais marcos paulistanos, assim como do movimento que serviu de referência para sua criação. 

Art Nouveau: o movimento que inspirou os arquitetos do Viaduto Santa Ifigênia

O Art Nouveau (ou “Arte Nova”) surgiu na França e se espalhou pela Europa entre as décadas de 1890 e 1910. Ele se manifestou principalmente nas artes plásticas, escultura, design e arquitetura.

Sua origem vem do ano de 1895, quando o comerciante de arte e colecionador Siegfried Bing solicitou a arquitetos e designers a redecoração da sua galeria, a L’Art Nouveau, em Paris. As obras foram exibidas na Exposição Universal de Paris de 1900, dando visibilidade mundial ao estilo que ficou conhecido como Art Nouveau, em referência ao local para o qual foram feitas.

As principais características deste movimento são:

  • Valorização do trabalho manual e artesanato;
  • A exploração do uso de materiais novos na decoração de edifícios, como ferro, vidro e cimento;
  • Estilo floreado, com forte inspiração na natureza;
  • Presença de linhas curvas, irregulares e assimétricas, além da presença de mosaicos e formas como folhagens, flores e animais;
  • A presença de figuras femininas nas pinturas e artes gráficas. Além disso, é bem comum que elas surjam com longos cabelos ondulados e contornos fortes.

É importante explicar que estas características englobam todas as vertentes artísticas pelas quais o Art Nouveau se manifestou. 

Viaduto Santa Ifigênia: a necessidade de desafogar o Viaduto do Chá

Em 1892, ocorreu a inauguração do Viaduto do Chá no centro de São Paulo, que passava por cima do Vale do Anhangabaú e ligava o centro novo e o velho. Entretanto, apenas ele não estava dando conta do trânsito caótico gerado pelos carros e bondes da época. 

Sendo assim, em 1901, a Câmara Municipal recebeu um projeto de viaduto que ligaria o Largo de São Bento ao Largo Santa Ifigênia. Além disso, uma das intenções do governo da época era evitar que os bondes enfrentassem a subida íngreme da ladeira de São João.

Além disso, era necessário melhorar a conexão do Centro com as regiões da Luz e Santa Ifigênia, que estavam em desenvolvimento graças à proximidade com a Estação da Luz. No entanto, diversos problemas burocráticos e financeiros fizeram com que a obra demorasse um bom tempo para realmente avançar.

O governo conseguiu um financiamento de 250 mil libras com a Inglaterra para construir o viaduto (curiosamente, apenas nos anos 70 quitaram completamente a dívida). Com os recursos disponíveis, era hora de realizar a licitação para selecionar o melhor projeto de construção.

O projeto vencedor a construção preparada no exterior

A concorrência foi aberta ainda no ano de 1908, com vinte interessados apresentando projetos à prefeitura de São Paulo. Após uma acirrada disputa, a proposta vencedora foi a de Giulio Micheli, da firma belga “Aciéries d Angleur”. Ele chamou atenção pela riqueza de detalhes do projeto, assim como por apresentar um memorial de cálculo minucioso e preciso.

Um fato curioso é que toda a estrutura do viaduto foi fabricada na Bélgica e veio para o Brasil pelo mar, desembarcando no Porto de Santos e chegando na região pela estrada de ferro São Paulo Railway. 

A montagem foi realizada pela empresa Lidgerwood Manufacturing Company Limited, sob a direção do engenheiro Giuseppe Chiappori, sócio de Giulio Micheli e Mário Tibiriçá. Já a execução das fundações ficou a cargo do mestre de obras e carpinteiro alemão Johann Grundt.

O aspecto mais interessante dessa obra foi a forma como as peças chegaram: a estrutura estava totalmente fabricada e precisou apenas ser montada no local, por meio da união das peças por rebitagem. Além disso, as peças já estavam devidamente numeradas e com as perfurações prontas.

Inicialmente, ele foi feito com revestimento de blocos de granito para a passagem de bondes. Contudo, nos anos 70, o viaduto foi fechado para veículos e recebeu um piso de pastilhas para o trânsito de pedestres, o qual permanece até hoje.

Viaduto Santa Efigênia pouco tempo após sua construção, ainda feito para o trânsito de carros e bondes

Principais características do Viaduto Santa Efigênia

A estrutura metálica tem 225 metros de extensão e possui três arcos. Um grande corrimão interliga os topos dos montantes e dá fixação ao conjunto de volutas. As longarinas externas são decoradas com rosáceas de ferro fundido, sendo um dos exemplos mais claros do estilo Art Nouveau no viaduto.

 As rosáceas de ferro, em estilo art nouveau

Inclusive, apenas o guarda-corpo foi feito em ferro fundido, pois o resto da estrutura foi fabricado com aço laminado. Os detalhes artísticos foram cuidadosamente pensados para atender a estética Art Nouveau, a qual é notada pela presença de enfeites nos quatro arcos paralelos, além dos postes que ficam ao longo da estrutura.

Chamam também atenção as bases de concreto decoradas, com pilares de onde se elevam arcos metálicos, proporcionando aparente leveza ao viaduto. A própria escolha do material e a decisão de deixá-lo aparente seguem a predileção do movimento por estruturas feitas de metal.

Por fim, vale citar a mudança que o deixou como conhecemos hoje, ou seja, o piso pavimentado de pastilhas sobre lajes de concreto, que formam tapetes geométricos tricolores.

 Viaduto Santa Ifigênia hoje, com seu piso de pastilhas

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