Como um dos principais nomes do modernismo brasileiro, Vilanova Artigas acreditava que a arquitetura deveria ter uma função social, transformando não apenas a paisagem urbana, mas também as relações entre as pessoas. Segundo ele, “Arquitetura é construção e arte”, e sua arte deixou um legado no país, marcado pelo surgimento do Brutalismo Paulista.
Então, hoje vamos saber mais sobre esse movimento e entender a atuação de Artigas nesse contexto.
As raízes de um arquiteto visionário
João Batista Vilanova Artigas nasceu em Curitiba, em 1915, mas foi em São Paulo que ele consolidou sua carreira e deixou seu legado. Desde cedo, Artigas demonstrou interesse pelo desenho e pelas construções, o que o levou a estudar na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), onde se formou como engenheiro-arquiteto em 1937.
Naquela época, ao contrário do Rio de Janeiro, onde o curso de arquitetura era mais voltado para as Belas Artes, em São Paulo a profissão era fortemente influenciada pela engenharia, o que moldou sua abordagem técnica e funcionalista.
Como arquiteto, engenheiro e, mais tarde, professor, ele acreditava que a arquitetura tinha um papel muito além da estética ou da mera construção de edifícios, era um agente de transformação social.
Essa visão também foi reforçada durante seu tempo como professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP), onde ele ajudou a moldar um pensamento crítico sobre o papel social da arquitetura, e deslocando tal ideia também para os seus projetos.
O surgimento do Brutalismo Paulista
Na década de 1950, o Brasil vivia um momento de tensões sociais e políticas intensificadas pelo cenário da Guerra Fria. Na arquitetura, o estilo modernista, amplamente representado pela obra de Oscar Niemeyer, começou a ser questionado pelo arquiteto curitibano por não dialogar com as transformações sociais em curso.
Como militante político e crítico do imperialismo, ele começou a pensar em uma linguagem arquitetônica autêntica, alinhada às necessidades do povo brasileiro.
A Escola Paulista, também conhecida como Brutalismo Paulista, assim, consolidou-se não apenas como um estilo arquitetônico, mas como uma postura ideológica e social, isto é, uma resposta crítica ao modernismo tradicional e à influência cultural dos Estados Unidos.
Características do Brutalismo Paulista
Vilanova Artigas encontrou inspiração no brutalismo inglês para instaurar no país o Brutalismo Paulista. Essa estética evitava ornamentos e buscava revelar a estrutura essencial dos edifícios. No Brasil, o movimento assumiu um papel ainda mais profundo, incorporando preocupações sociais e políticas, alinhadas ao ideal de criar espaços democráticos e coletivos.
Uma característica marcante do Brutalismo Paulista é o uso expressivo do concreto armado, material escolhido não apenas pela resistência, mas também por sua aparência crua, que simbolizava a transparência e a autenticidade das construções. As obras desse movimento destacam-se por suas grandes áreas abertas, onde a estrutura do edifício é exposta e ganha protagonismo.
A arquitetura brutalista de Artigas eliminava portas e divisórias, priorizando a fluidez dos espaços, favorecendo uma integração natural dos ambientes, transformando edifícios em espaços com circulação livre.
O legado concreto de Vilanova Artigas
As obras de Vilanova Artigas evidenciam sua genialidade e compromisso com a função social dos espaços. Por isso, trouxemos alguns dos projetos mais importantes de sua carreira, que ajudaram a consolidar seu legado na arquitetura brasileira.
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP)
O prédio da FAU-USP é um dos marcos mais importantes do Brutalismo Paulista. A construção foi pensada para promover a democratização e acessibilidade do espaço educacional, por esse fator, não vemos barreiras internas no seu interior, e sim ambientes amplos e conectados.
Edifício Louveira
Localizado no bairro de Higienópolis, em São Paulo, o Edifício Louveira é um exemplo da arquitetura moderna paulistana. O projeto se destaca por seu desenho simples e funcional, com dois blocos de edifícios separados por um pátio aberto, que promove integração entre os moradores e o espaço urbano.
A fachada sem ornamentos e o uso de materiais de aparência bruta traduzem o espírito do modernismo, antecipando elementos que mais tarde se consolidariam no Brutalismo Paulista.
Estádio Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi)
Desenvolvido em parceria com Carlos Cascaldi, o projeto do Estádio do Morumbi é uma obra de grande escala, que reflete a ambição de Artigas de criar espaços monumentais e integrados. Com sua estrutura de concreto aparente, o Morumbi se tornou um ícone da arquitetura paulistana e um dos estádios mais emblemáticos do Brasil.
Sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos
Projetada durante a ditadura militar, a Sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos é uma obra que reflete o espírito de resistência e engajamento político de Artigas. O prédio foi concebido para abrigar tanto atividades profissionais quanto áreas de lazer, incentivando a convivência entre os trabalhadores.
Em um período de repressão, a arquitetura da sede simbolizava autonomia e resistência, reafirmando a crença de Artigas no poder da arquitetura como um meio de transformação social.
Segunda Residência de Vilanova Artigas
Artigas também foi um criador de projetos residenciais, incluindo as próprias casas em que viveu. Uma delas foi construída em 1949 no bairro de Campo Belo, e foi transformada em um centro cultural, o Instituto Casa Vilanova Artigas (ICVA). A casa, que hoje é tombada pelo patrimônio histórico, assim como outros tantos projetos do arquiteto, reflete a essência dele com espaços abertos, conectados e sem divisórias.
No pátio, o Café Artigas homenageia a geração modernista influenciada por ele, enquanto o antigo quarto do arquiteto foi adaptado para um coworking. O ICVA também expõe projetos e imagens que celebram a trajetória do arquiteto.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA