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Tomie Ohtake é sem dúvida um dos grandes nomes da arte moderna brasileira e mundial, mas para além disso, destaca-se por ter começado “tarde” como artista. Só que mais do que isso, ela seguiu em constante evolução, mesmo bastante veterana, com obras produzidas até mesmo aos cem anos de idade, como vocês verão a seguir. 

Anteriormente falamos de como ela chegou ao Brasil, entrou no mundo da arte após começar na faixa dos 40 e como se estabeleceu como grande nome do meio. Entretanto ela ainda não era conhecida do grande público, mas isso viria a mudar na década de 80, especialmente após uma exposição no MASP e com o início do que seriam muitas de suas obras públicas Brasil afora. 

Década de 80: livros, prêmios, MASP e Tomie Ohtake explorando novas áreas 

A cada época parece que Tomie nos oferece uma renovação na sua grandiosa obra. E tal fato não passa batido para Casimiro Xavier, que lança um livro dedicado a ela, com prefácio de Pietro Maria Bardi. Juntamente com o livro, temos sua primeira aparição no MASP, que ajuda ela a ficar mais conhecida pelo grande público.  

O período ainda rende o prêmio de personalidade artística do ano pela ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte, no RJ). Além disso ela vira tema de um livro infanto-juvenil chamado 7 cartas e 2 sonhos. Escrito por Lygia Bojunga, ele é feito com base nos quadros de Tomie Ohtake. Por fim, ela ainda cria os cenários e figurinos para peça Madame Butterfly, no Municipal do Rio de Janeiro.

As primeiras obras públicas de Tomie Ohtake 

Esta década marca também a estreia das obras públicas de Tomie Ohtake (que são diversas espalhadas no Brasil e exterior). Sua primeira foi uma obra em concreto armado para o jardim da Paulo Figueiredo Galeria de Arte, em 1983. Entretanto, infelizmente essa obra não existe mais, tendo sido demolida posteriormente. 

Um ano depois ela faz um painel de 55 metros de altura, em um edifício na Ladeira da Memória, no centro de São Paulo. Neste mesmo ano, ela participa de outra Bienal, mas desta vez em Cuba, com direito a uma sala especial no evento. Ela ainda voltaria lá em 1986.  

Um ano depois ela cria uma obra para a Lagoa Rodrigo de Freitas: uma estrela de 17 toneladas feita de ferro. Entretanto aqui ocorre um fato bizarro: cinco anos depois, a obra é desmontada e simplesmente desaparece, sem ninguém saber o destino dela. Acredita-se que venderam para algum ferro-velho como sucata. 

Já em 1987, ela cria uma série de gravuras em metal, com o impressor Claúdio Vasquez e utiliza-as para promover dez exposições simultâneas em diferentes capitais do país. A saber, são as seguintes: São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Salvador e Brasília 

Ela segue criando obra públicas, mas agora é uma tapeçaria, presente no auditório do Memorial da América Latina. A peça conta com 70 metros de largura é de 1988 e acabou precisando passar por um restauro, após incêndio em 2013. 

A primeira exposição no Japão e obras públicas de Tomie Ohtake em São Paulo 

Ainda em 1988, temos uma data de grande importância para a artista: sua primeira exposição no Japão, sua terra natal. A exposição trazia uma retrospectiva da carreira de Tomie, além de suas obras mais recentes. Ela ocorreu no Hara Museum of Contemporary Art, em Tóquio. 

Só que este ano também marcava os 80 anos da imigração japonesa no Brasil e a artista fez mais uma escultura pública: trata-se das quatro ondas, que estão entre as vias da Av. 23 de maio de frente para o Centro Cultural de São Paulo.  

Um ano depois, ela está de volta à Bienal de São Paulo, participando com uma sala especial em sua edição XX. Ainda no final desta década, temos uma mudança novamente no estilo das pinturas de Tomie Ohtake, pois temos a volta das pinceladas fazendo parte das composições de suas telas. 

 Já o ano de 1991 traz outra de suas grandes contribuições para a cidade de São Paulo: os quatro painéis de pastilhas vitrificadas, que estão na estação Consolação do metrô. Eles receberam o nome de “as quatro estações”, contando com as cores amarelo, laranja, verde e azul, representando respectivamente: verão, outono, primavera e inverno. 

Dois dos painéis presentes na estação Consolação do metrô

Uma curiosidade é que esta é uma das poucas obras de Tomie Ohtake que possuía um nome, pois ela não gostava de atribuir títulos a elas. E tinha um motivo por trás disso, como ela mesmo explicou: 

“Eu não dou título aos trabalhos para que a pessoa que os vê não fique com apenas um significado na cabeça. Não ter nome faz com que a pessoa use seu próprio pensamento” 

Novas exposições no exterior, bienais e mais obras Brasil afora

Os anos 90 sem dúvida foram muito movimentados para Tomie Ohtake. Isso porque novamente suas obras ganham o mundo, através da exposição itinerante chamada “New Paintings”. Ela começa em Londres, na Inglaterra e posteriormente faz um mini tour nos EUA nas cidades de Miami, Nova Iorque e Washington.  

De volta ao Brasil, ela participa da 23ª Bienal de Arte de São Paulo com imensas obras feitas em ferro tubular, que foram concebidas em projetos de arame. Contudo, ela não marcou presença apenas lá, mas durante o evento, também fez uma exposição de três gravuras no Morumbi Shopping. Eram de metal e tinham a mesma imagem, mas impressas de formas distintas em cada uma. 

Uma das três gravuras de Tomie presente no Shopping – 1996, acrílico sobre tela

Tomie então cria mais duas obras para o público. A primeira foi no Teatro Pedro II, em Ribeirão Preto e a segunda foi na área das piscinas do SESC Vila Mariana. Ela chega a fazer uma obra semipública, ao criar uma escultura dentro do laboratório Aché, em Guarulhos. Neste caso, o projeto do local era de seu filho, Ruy Ohtake. 

Posteriormente, ela também cria uma escultura de aço de 23 metros de comprimento e com peso de 20 toneladas, para o Parque Industrial da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM). Ela está em Araxá, Minas Gerais. Vale dizer que ela ainda marcou presença na 24ª Bienal de São Paulo, em 1997. 

A criação do Instituto Tomie Ohtake 

A virada do século trouxe mais um marco na carreira da artista: a criação de um instituto que leva seu nome, em 2001. Em uma parceria que envolveu os laboratórios Aché e o arquiteto Ruy Ohtake (que fez o design do prédio inspirado nas obras da mãe), ele foi criado. O outro filho de Tomie, Ricardo, é quem ficou à frente do projeto.  

O local teve como idealização trazer obras contemporâneas ao período de atuação de Tomie Ohtake, mas para além de exposições, também traz debates, pesquisas, criação de conteúdos, entre muitas outras coisas relacionadas à arte. O ano ainda rendeu mais uma obra pública: uma escultura em frente ao Hotel Brasília Alvorada, feita em aço-carbono. 

A primeira exposição da artista no instituto que leva seu nome, foi em 2003, como parte das comemorações de seus 90 anos. Um ano depois, ela segue criando seu legado de obras públicas, com o painel/escultura presente no auditório do Parque Ibirapuera. Neste mesmo ano, também entrega uma escultura para os 40 anos da Usiminas, localizada em Ipatinga, Minas Gerais. 

Obra presente na exposição dos 90 anos – 1987, acrílico sobre tela

Na comemoração dos cinco anos do instituto, temos uma nova exposição de Tome Ohatke (sua terceira no local). Focada apenas nas gravuras da artista, ela traz uma retrospectiva da produção dela na área, que contava à época com mais de 400 obras.  

O centenário da imigração japonesa e as últimas criações da artista 

Chegamos a 2008 e Tomie entrega duas grandes obras para homenagear o centenário da imigração japonesa no Brasil. Primeiramente temos a escultura presente no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Já a segunda foi feita em Santos e contou com a presença do príncipe herdeiro do Japão

Obra do centenário da imigração japonesa em Santos – 2008, aço pintado com tinta automotiva

As anteriormente citadas pinturas cegas (termo cunhado por Paulo Herkenhoff, curador da exposição), finalmente foram mostradas ao grande público, em um evento dedicado a elas. Ela criou as obras entre os anos de 1959 e 61.  

Em 2012, ela entrega uma escultura para uma praça em um complexo residencial e comercial no Bairro de Roppongi, em Tóquio, no Japão. Ela fica próxima ao Mori Art Museum, sendo a primeira escultura dela presente em local público no exterior. 

No ano de 2013, Tomie completa 100 anos de vida e diversas exposições são feitas em sua homenagem (num total de 17). O destaque fica para a do instituto chamada “mostra Tomie Ohtake Correspondências”, sob curadoria de Agnaldo Farias e Paulo Miyada. Além disso ela ganhou um documentário feito por Tizuka Yamazaki, falando sobre seu universo artístico. 

Tomie Ohtake faleceu em 12 de fevereiro de 2015, mas mesmo no ano de sua morte, ainda deixou uma última escultura pública: esta fica na Av. Paulista, duas quadras de distância do MASP. Por fim, vale destacar que nos últimos dois anos de vida, ainda pintou cerca de 30 novas telas. 

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