O ano de 2021 marca os 70 anos da Bienal de São Paulo. Idealizada por Francisco Matarazzo, ela tornou-se ao longo dos anos um dos principais eventos artísticos do mundo. São 34 edições (com a última encerrada no último dia 6 de dezembro) que passaram por altos e baixos ao longo destas 7 décadas.
Anteriormente trouxemos da idealização ousada de Matarazzo, que passou pela vinda da Guernica de Picasso, até o boicote internacional por conta da ditadura. Agora traremos nesta parte final o fim do boicote aos eventos atuais.
O fim do boicote à Bienal de São Paulo e a chegada de Walter Zanini
Com o início do processo de redemocratização, o fim do exílio de muitos intelectuais e artistas, os países que faziam parte do boicote à Bienal de São Paulo, voltaram a ser representados no evento. Para a edição de 1981, a mudança mais impactante foi Walter Zanini assumir o papel de curador-geral.
No cargo recém-criado, Zanini faz mudanças importantes na Bienal. Por exemplo: ele acaba com a separação por países na exposição. Agora ela se divide por “analogia de linguagem”. Ou seja, teremos juntas obras que seguem técnicas similares ou então de um mesmo tema.
Um fato curioso é que apesar do fim do boicote, a edição de 1981 contou com menos países que na anterior (32, contra 43 de 1979). Já a edição de 1983, também sob curadoria de Zanini, abriu espaço para outros tipos de manifestações artísticas. A performance, o vídeo, o videotexto, as instalações e o happening marcaram presença na 17ª Bienal. Juntamente com elas, o destaque fica para a presença da antiarte do grupo Fluxus, transformada em rua no pavilhão térreo. Além disso, pela primeira vez tivemos uma análise sobre a “Arte Incomum” com a presença de psicanalistas e estudiosos sobre a produção de obras por doentes mentais.
Experimentações passam a ser marca da Bienal de São Paulo
Posteriormente, na edição de 1985, agora sob curadoria de Sheila Leirner teve como ponto alto o que ficou conhecido como “Grande Tela”. Foram três corredores, com 100 metros cada, que continham dezenas de obras neo expressionistas, dispostas lado a lado.
Já em 1987 o que marca a edição da Bienal de São Paulo são as esculturas e instalações, como a de George Lappas, chamada “Esculturas”. Nesta o principal nome foi o do alemão Anselm Kiefer, com sua obra “Paleta com Asas” (Palette mit Flügel).
Contudo, a edição de 1989 deu alguns passos atrás, ao retomar as premiações (extintas em 79) e voltar a separar as obras por delegações (países).
Anos 90 e suas edições memoráveis
Então, após muitas edições marcantes, a Bienal de São Paulo passou a oscilar com edições de destaque para os entusiastas da arte, com outras menos lembradas.
Por exemplo, em 1991, o grande evento foram duas peças: Suz/O/Suz, do grupo catalão Fura dels Baus, e O Trilogie Antică: Medeea, Troienele, Electra, de Henrik Ibsen. Este último, narrado em latim e grego pela Companhia de Teatro Nacional de Bucareste.
Já em 1996 (desde 94 ocorrendo em anos pares) temos o novo recorde de países representados, com 87. A Bienal tem como grande destaque as mais de 200 gravuras de Francisco De Goya, 37 pinturas de Edvard Munch. Bem como a presença de obras de Klee, Picasso, Andy Warhol, Basquiat, Cy Twombly, Pedro Figari e Rubem Valentim.
A 24ª edição de 98 foi o ponto alto da década, pois sob a curadoria de Paulo Herkenhoff, o conceito da “Antropofagia” foi inserido no debate artístico e cultural internacional. A ideia era refletir sobre diferenças culturais que se tornam desigualdades pela violência física ou simbólica.
Para isso ele fez uma justaposição de obras do período colonial do século XIX e contemporâneas. Por exemplo: o Eixo Exógeno de Tunga, que dialogava com o quadro “Lea e Maura”, de Guinard em que uma das garotas era a mãe do próprio Tunga.
A virada do milênio e os altos e baixos da Bienal
Apesar de em 2002 termos a presença de muitos artistas brasileiros fora do eixo Rio/São Paulo, a grande marca foi a polêmica escolha de um curador estrangeiro. Pela primeira vez alguém de fora fez a curadoria da Bienal, o alemão Alfons Hug.
2004 trouxe uma novidade boa para o público: a adoção da gratuidade, que dura até hoje no evento. Por outro lado, ele mostra com cada vez mais ênfase seu caráter contemporâneo, pois na sua maioria tínhamos obras de no máximo dois anos antes.
O ano de 2006 marcou novamente o fim das divisões de obras por países. Juntamente com isso, os projetos curatoriais passaram a ser escolhidos a partir de processos de seleção realizados por uma comissão internacional de críticos e curadores. Isso marcou uma inovação no conceito da exposição.
Década de 10: as obras de cunho político ganham força na Bienal de São Paulo
Buscando trazer novos ares ao evento, pois a edição de 2008 foi uma das menores (com apenas 54 obras, de 41 artistas), contou com os curadores Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos, que privilegiaram obras de cunho político na edição. A edição contou com uma ampla programação paralela com cerca de 400 atividades em seis espaços chamados “Terreiros”.
Juntamente com discussões políticas, também passamos a ver temas contemporâneos como sexualidade, transcendência, identidade ganharem espaço, como foi em 2014. Já o aquecimento global, a perda da diversidade biológica e cultural, a crescente instabilidade econômica e política, a injustiça na distribuição dos recursos naturais da Terra, marcaram a edição de 2016.
Finalmente, em 2018, a Bienal de São Paulo trouxe como tema central a questão da economia da atenção, que se tornou difusa na era digital e das mídias sociais.
34ª Bienal de São Paulo e a expansão pela cidade
Após o adiamento por conta da pandemia, a 34ª Bienal ocorreu entre os dias 4 de setembro e 5 de dezembro. A mais recente edição trouxe uma inovação: o fato de não ocorrer apenas no pavilhão do Ibirapuera. A organização estabeleceu uma parceria com mais de 20 instituições na cidade. Temos exposições que ocorreram ainda em 2019 e outras que irão até meados de 22, pois a ideia é levá-la ao longo de vários meses.
Cartaz da 34ª Bienal de São Paulo.
O tema do evento foi “faz escuro, mas eu canto”. A ideia da exposição era reconhecer a urgência dos problemas que desafiam a vida no mundo atual, enquanto reivindica a necessidade da arte como um campo de encontro, resistência, ruptura e transformação.