Dia 22 de agosto, comemoramos no Brasil o Dia do Folclore. Apesar de muitas vezes lembrarmos das mitologias grega e nórdica, temos um acervo riquíssimo de personagens e histórias daqui. E na arte, uma das principais representações, é a obra “A Cuca”, de Tarsila do Amaral, que será tema deste artigo de hoje.
A Cuca: origem da mitologia
Para começar, vamos falar um pouco sobre como surgiu a lenda da Cuca, que curiosamente tem muito a ver com o Manifesto Antropofágico, do qual Tarsila do Amaral fez parte. Isso porque a personagem, segundo o folclorista Luís Câmara Cascudo, já existia na península ibérica. Contudo, era bem diferente daquela que conhecemos por aqui.
Segundo a lenda de lá, ela era uma mulher idosa, assustadora e que praticava maldades, como sequestrar as crianças desobedientes. Então ela andava pelas ruas e espionava as casas que tivessem alguma criança que não estivesse dormindo cedo ou que desobedecesse às ordens dos pais. A lenda se contava para que as crianças ficassem com medo e fossem sempre obedientes.
Porém, esta não era a única lenda referente a ela. Por exemplo: a citada por Câmara Cascudo diz que sua origem está em Portugal. Lá a chamavam de Santa Coca, aparecendo regularmente nas procissões da província do Minho. Nessa província, coca era o nome de uma abóbora que era perfurada em várias partes, inserindo-se velas nela, como vemos hoje no Halloween norte-americano.
A lenda chegou ao Brasil durante a colonização, mas com as mesmas características da primeira versão. Posteriormente ela ganhou a forma e as características que conhecemos (a mulher com feições de jacaré e cabelos loiros) por conta do Sítio do Pica Pau Amarelo, de Monteiro Lobato. A única semelhança foi a maldade, que se manteve em ambas.
A Cuca de Tarsila do Amaral
Tarsila do Amaral tinha ido para a França em 1920, voltando dois anos depois e participando da Semana de Arte Moderna de 22 e indo para Paris no mesmo ano. A obra foi feita em 1924 e para muitos é o embrião do que viria a ser o Manifesto Antropofágico.
A Cuca, de 1924
Para quem não conhece o conceito, basicamente a ideia era “devorar” a cultura e as técnicas importadas e provocar sua reelaboração com autonomia e características brasileiras, transformando o produto importado em exportável. E como citamos acima, a própria história da Cuca, já era de certa forma assim, pois pegamos uma história de fora e demos a ela características próprias.
Já no caso da obra de Tarsila, após fazê-la, escreveu para sua filha para contar sobre. Ela contou mais detalhes, descrevendo assim a pintura: “Estou fazendo uns bichos bem brasileiros que têm sido muito apreciados. Agora fiz um que se intitula ‘A Cuca’. É um bicho esquisito, no mato com um sapo, um tatu e outro bicho inventado”.
Sobre a obra
Trata-se de um óleo sobre tela e traz elementos que o caracterizam como sendo do movimento modernista. Por exemplo: ela pinta os animais e a natureza de formas diferentes do que estamos acostumados. Ela não se preocupa em manter a proporção entre eles, tanto que é possível notar que todos são de tamanhos desproporcionais em relação às plantas.
Além disso, como ela mesma citou, temos um animal inventado, que mostra uma despreocupação com retratar a realidade, como era comum nos movimentos clássicos, predominantes por aqui. Já as cores são alegres, pois ela busca trazer algo que remetesse ao Brasil com elas. Além disso, as imagens e as matizes das cores, tem a intenção de mostrar algo que nos remeta à infância.
Curiosidades
A obra sem dúvida traz um tema brasileiro e pode ser considerada uma das principais representações do nosso folclore. No entanto, infelizmente “A Cuca” não está em nenhum museu brasileiro (e não foi possível encontrar registros de vindas recentes dela ao país).
A explicação é que, ainda em 1926 a tela foi adquirida pelo Fonds National d’Art Contemporain da França em 1926 e posteriormente depositada no Musée de Grenoble, em 1928, onde está até hoje. Ela foi pintada no mesmo ano da obra “Carnaval em Madureira”, então pode-se considerar que esta obra integra a fase “pau-brasil” de Tarsila do Amaral.
Uma coisa que chamou muita atenção na obra, é a árvore com folhas em forma de coração, pois apesar de buscar trazer elementos que destaquem a brasilidade, não temos no país árvores nativas com essa característica. As mais comuns são o Redbud oriental, catalpa do norte, tília americana e a árvore da princesa, sendo as três primeiras comuns da América do Norte e a última da Ásia.
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