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O movimento do modernismo é até hoje um dos principais da história das artes brasileiras, pois foi o que trouxe identidade ao que era produzido aqui. Isso porque anteriormente o que tínhamos eram obras com grande influência do que vinha do exterior. Entre seus grandes nomes (ainda que não tenha participado da Semana de Arte Moderna de 22), está Cândido Portinari, que se destacou com sua pintura com forte crítica social. 

Cândido Portinari: desde novo com vocação para a arte

Há muitos artistas que encontram sua vocação já cedo e este foi o caso de Portinari. Ele nasceu em 1903, na fazenda de café Santa Rosa, em Brodowski, no Estado de São Paulo. Diferente de muitos dos integrantes do modernismo, ele veio de uma família humilde de imigrantes de italianos, sendo o segundo de 12 filhos e não terminou o ensino primário. 

Ele veio a mostrar de fato sua vocação quando, aos 14 anos, uma trupe de pintores e escultores italianos que atuavam na restauração de igrejas, passa pela região de Brodowski e recrutam Portinari como seu ajudante. Após esta experiência, ele decide aprimorar seus dons e deixa a pequena cidade rumo ao Rio de Janeiro. 

Ele fica na casa de parentes no estado e ingressa no Liceu de Artes e Ofícios. Entretanto, a vida na cidade grande não o fascina e ele resolve voltar para Brodowski. Posteriormente, com 18 anos, ele vai novamente para o Rio de Janeiro, desta vez para Escola Nacional de Belas Artes. Pois lá é quando, orientado por Lucílio de Albuquerque e Rodolfo Amoedo, começa a se destacar pintando retratos. 

O sucesso precoce e sua primeira ida ao exterior 

Ainda com 18 anos, ele vende sua primeira obra, chamada “Baile na Roça”, que havia pintado assim que chegou à cidade. Um ano depois participa de sua primeira exposição, no Salão da Escola de Belas Artes. Já em 1923 ganha três prêmios neste mesmo Salão, com a tela o “Retrato de Paulo Mazuchelli”. 

Baile na Roça, de 1921

Participando ativamente de diversas exposições, passa a receber elogios da crítica especializada em diversos artigos. Justamente nesta época, ele passa a sentir-se atraído por um movimento que até então ainda era marginalizado: o modernismo.  

Só que mesmo com esse reconhecimento, ele ainda almejava um prêmio: a medalha de ouro na ENBA. Ele tenta em 1926 e 27, mas não ganha e acredita que isso devia-se aos juízes ficarem escandalizados com suas obras com fortes referências modernistas.  

Sendo assim, em 1928, ele opta por uma tela com elementos acadêmicos tradicionais e finalmente ganha a medalha de ouro e uma viagem para a Europa, que era parte do prêmio. Ele então viajou para lá, visitando a Itália, Inglaterra e Espanha e por fim, estabelecendo-se em Paris, na Rue du Dragon, entre os museus de Luxemburgo e Louvre. 

Curiosamente no período em que esteve fora do país, que o estilo que conhecemos dele. O motivo é que, sentia muita saudade do Brasil, assim como do seu povo e quando volta para cá em 1931 passa a retratar as pessoas daqui, mas com um caráter muito mais crítico. Com isso vemos ele superar aos poucos sua formação acadêmica e fundindo a ciência antiga da pintura a uma personalidade experimentalista a antiacadêmica moderna. 

 O reconhecimento de Portinari no exterior 

Nos primeiros seis meses em que está de volta aqui, ele pinta incríveis 40 telas e volta a participar do Salão neste mesmo ano. Ele abraça de vez a temática social neste período, tanto que uma de suas obras mais famosas, “O Café” é feita em 1934. 

O Café, de 1934

Um ano depois, vem seu primeiro reconhecimento no exterior, quando recebe uma “menção honrosa” na exposição internacional do Carnegie Institute de Pittsburgh, Estados Unidos, justamente com a obra O Café. Foi a partir deste momento que seu trabalho ganhou o mundo, mas ele ainda produziria diversas obras icônicas em território brasileiro 

Por exemplo: painéis executados no Monumento Rodoviário da estrada Rio de Janeiro–São Paulo, em 1936 e nos afrescos do novo edifício do Ministério da Educação e Saúde, realizados entre 1936 e 1944 (num total de nove). 

Durante esse período, ele fez três grandes painéis para o pavilhão do Brasil na “Feira Mundial de Nova York”, que ocorreu em 1939. Seu reconhecimento nos EUA fez com que ele participasse da “Mostra de arte latino-americana” no Riverside Museum, em Nova York na década de 40.  

Além dela, também destacou-se com sua exposição individual no Instituto de Artes de Detroit e no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa). Posteriormente ele produz os murais na Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso em Washington, sempre enaltecendo a temática latino-americana. 

A crítica social e a vida política de Portinari 

A forte crítica social nas suas obras foi vista também nos oito painéis conhecidos como “Série Bíblica”. Pois aqui vemos forte influência da visão picassiana de “Guernica” e sob o impacto da 2ª Guerra Mundial. Um ano depois, a convite de Oscar Niemeyer, faz com que inicie as obras de decoração do conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte (MG). Lá destacam-se os murais “São Francisco” e a “Via Sacra”, na Igreja da Pampulha. 

Neste momento ele já faz parte da elite intelectual brasileira, composta por poetas, escritores, jornalistas e diplomatas. Inclusive este é um período que ele sofre grande influência da ascensão do nazifascismo e dos horrores da II Guerra Mundial.  

Pois é quando ele faz a série “Retirantes” e “Meninos de Brodowski”, com seus personagens esquálidos, mutilados e maltrapilhos, que foi exposta em Paris. Sua grande repercussão, fez com que Portinari fosse agraciado pelo governo francês, com a Légion d’Honneur. 

Pintura da série “Retirantes”, de 1944

Esta fase também mostrou um Portinari ativo politicamente, pois ele filia-se ao Partido Comunista Brasileiro e tenta se eleger a deputado, em 1945, e a senador, em 1947, mas não consegue em nenhuma das duas. Tal atuação política faz com que ele acabe se exilando no Uruguai em 1948 e lá ele pinta o painel “A Primeira Missa no Brasil”, encomendado pelo banco Boavista do Brasil. 

Um ano depois ele pinta o grande painel “Tiradentes”, narrando episódios do julgamento e execução do herói brasileiro que lutou contra o domínio colonial português. Por conta dele, em 1950 ele recebe a medalha de ouro do “Prêmio Internacional da Paz”, reunido em Varsóvia, na Polônia. 

Os primeiros problemas de saúde e os últimos anos de vida  

No começo da década, Portinari passa a apresentar problemas de saúde devido a intoxicação por chumbo, material presente nas tintas que usava. Ainda assim, isso não o impede de ter uma década extremamente ativa.  

Em 1952 faz outro painel com temática histórica, “A Chegada da Família Real Portuguesa à Bahia”, encomendada pelo Banco da Bahia. Neste mesmo ano ele inicia um de seus maiores projetos: os painéis “Guerra e Paz” oferecidos pelo governo brasileiro à nova sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York, que ele viria a concluir apenas em 56. 

Painéis Guerra (esq) e Paz (dir)

Um ano antes, também em Nova York, Portinari recebe a medalha de ouro da Internacional Fine-Arts Council, na categoria melhor pintor do ano. Já em 1958 ele foi o único artista brasileiro convidado para exposição 50 Anos de Arte Moderna, no Palais des Beaux Arts, em Bruxelas.  

Ainda no fim desta década ele expôs em Buenos Aires, na Galeria Wildenstein de Nova York e, juntamente com outros grandes artistas americanos como Tamayo, Cuevas, Matta, Orozco, Rivera. Por fim, participou da exposição Coleção de Arte Interamericana, do Museo de Bellas Artes de Caracas, na Venezuela. 

Infelizmente, a intoxicação por chumbo torna-se fatal para Portinari, que morre com apenas 58 anos, quando preparava uma grande exposição de cerca de 200 obras a convite da Prefeitura de Milão, na Itália. 

 

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