O Renascimento é sem dúvida o período mais lembrado no mundo das artes e apesar de sempre termos em discussão nomes de grandes pintores homens, também tivemos mulheres com muito destaque no período. Apesar de ter ficado muito tempo “apagada” na história, Sofonisba Anguissola foi uma das grandes mestras da época.
Ela teve muitos quadros pintados no período e uma vida bem longa (especialmente para a época), morrendo com 93 anos. Dentre suas obras, uma das principais é “A Partida de Xadrez”, da qual iremos falar um pouco mais hoje.
Quem foi Sofonisba Anguissola?
Sua vida na época saiu totalmente do que era comum às mulheres. Para começar, seu pai Amilcare Anguissola, teve a atitude de transformá-la numa pintora profissional. Ele incentivou não apenas o filho Asdrubale, como também todas as filhas mulheres a obter uma educação de alto nível e a desenvolver habilidades artísticas.
Isso também foi facilitado pela origem nobre da família e possibilidade de dar tal tipo de educação, que era muito restrita na época. Tamanho era seu talento, que os grandes mestres do período não podiam ignorá-la. Por exemplo: aos 14 anos, ela passou a ter aulas com o pintor italiano Bernardino Campi. Só que o contato dela com Michelangelo merece um destaque especial.
Sofonisba Anguissola começou a se corresponder com Michelangelo e lhe enviou o retrato de uma menina rindo. Ele acreditava ser mais difícil desenhar pessoas chorando e pediu-lhe para retratar um menino chorando. Ela o fez retratando seu irmão sendo mordido por um caranguejo.
Menino Mordido por um Caranguejo – Sofonisba Anguissola, de 1554
A qualidade da obra convenceu Michelangelo, que lhe enviou seus próprios esboços, passou a aconselhar Sofonisba e oferecer uma espécie de tutoria informal. Nesta época ela estava com pouco mais de 20 anos.
Posteriormente, já com fama internacional, ela foi dama de companhia da rainha da Espanha durante o reinado de Filipe 2º, mas na verdade era retratista da família. O fato de não assinar suas obras e ter este cargo “não-oficial” prejudicou muito seu reconhecimento. Inclusive muito de seus trabalhos foram atribuídos a pintor oficial da corte, Alonso Sánchez Coello.
Em seus últimos anos ela tornou-se mestra, ensinando Antony van Dyck, principal pintor da corte inglesa. Apenas nos últimos anos que especialistas passaram a avaliar e atribuir a Sofonisba Anguissola a autoria de suas próprias obras.
A Partida de Xadrez e o contexto envolvido
Entre suas muitas obras, a de maior destaque é “A Partida de Xadrez” de 1555 e atualmente exposta no Museu Nacional de Poznán, na Polônia. Para começar pela temática: o xadrez era visto como algo restrito aos ambientes de corte e aristocracia e, em predominantemente, ao sexo masculino.
Inclusive nesta época, mulheres praticando o jogo era algo até malvisto. Isso porque as mudanças no movimento da rainha e do bispo fizeram das partidas mais rápidas e o jogo passou a ser considerado uma atividade de lógica e raciocínio. Estas, até então, eram atividades não adequadas a nova visão de qualidades para a mulher na época
Retratar esta cena que, pela descontração do momento e tenra idade das modelos, parecia ser algo corriqueiro na rotina da família, mostra a criação bastante diferenciada que os pais deram às suas filhas. Além disso, pode-se notar um domínio delas do jogo, não sendo apenas uma imagem fabricada.
Análise da obra
Acredita-se que Sofonisba Anguissola estava pintando suas irmãs no momento em que elas jogavam, inclusive com a proximidade da retratação mostrando essa relação íntima. Elas eram no total em seis (além do irmão) e pelas idades se supõe que são: Elena à esquerda, Minerva ao centro e Lucia à direita. Além delas, temos a serva observando no canto da tela.
A cena mostra a irmã mais velha fazendo um movimento e com a rainha da menor na mão, com um sorriso que indica que acabou de vencer a partida. A da direita levanta a mão e mostra uma expressão não tão animada. Enquanto isso, a menorzinha ao meio parece divertir-se com a cena, mas sabendo exatamente o que estava acontecendo.
A própria imagem da serva, divertindo-se com a irmã menor, reforça a questão relacionada ao conhecimento delas sobre o jogo. Indo para além do jogo, temos uma impressionante riqueza de detalhes na obra, com as peças do tabuleiro sendo facilmente identificáveis e pintadas exatamente dentro dos quadradinhos do tabuleiro.
As roupas das irmãs são retratadas com uma impressionante riqueza de detalhes, texturas e brilhos. As vestes também reforçam o status social da família, pois estas eram comuns para os membros da corte.
Por fim, podemos destacar os traços dos rostos que são muito parecidos, mas ao mesmo tempo particularizados nos diferentes formatos dos olhos e nos tons e brilhos da pele. Além disso, temos o uso com maestria da técnica do sfumato.
Considerações de Giorgio Vasari sobre A Partida de Xadrez
As palavras de Giorgio Vasari são particularmente importantes, pois este ficou conhecido por escrever biografias de seus contemporâneos. Ele destacou a qualidade superior da já citada técnica do sfumato e especialmente pela vividez das imagens, a qual podemos destacar o seguinte trecho de sua análise:
“As figuras parecem verdadeiramente vivas e que não lhes falta outra coisa, senão a palavra”.
Além dele, devemos citar uma importante informação do estudioso Bernard Berenson sobre a obra. Segundo ele, esta é uma das primeiras obras de conversação, retratando o cotidiano da corte. Este tipo de pintura se tornaria bastante comum nos séculos seguintes.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA