Ao longo da história, diversos artistas já retrataram rotinas trabalhistas das mais diversas. E neste 1º de maio, vamos falar sobre a obra de um brasileiro que se destacou por suas pinturas com essa temática: Cândido Portinari.
Sua pintura “Café”, uma das mais importantes na sua carreira, é o retrato perfeito do trabalho da época nas fazendas, falaremos melhor adiante. Atualmente, ela faz parte do acervo do Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Contudo, por conta do incêndio que ocorreu no local, ela não está em exposição.
A origem do dia do trabalho
A escolha do dia 1º de maio para ser o Dia do Trabalho não foi aleatória. Esta data é celebrada em várias partes do mundo e tem suas raízes na ‘greve geral de 1º de maio de 1886’, ocorrida em Chicago, a qual foi marcada por uma forte repressão policial.
Na época, esta repressão estimulou ainda mais manifestações que transcorreram nos dias seguintes, em que ocorreu uma escalada perigosa de violência. Isso porque, no dia 04 de maio, durante um protesto na praça Haymarket, em Chicago, uma bomba explodiu, matando sete e ferindo dezenas de pessoas, entre policiais e manifestantes.
Por conta disso, tivemos o revide dos policiais, com tiros sobre os manifestantes, que acarretou outras dezenas de mortes na mesma praça. Esse conjunto de eventos, desencadeados a parir de 1º de maio, tornou-se símbolo para as manifestações e lutas por direitos trabalhistas nas décadas seguintes em várias partes do mundo.
Já no Brasil, a data existe desde 1924. Uma das maiores greves que São Paulo presenciou, em 1917, e a crescente influência dos movimentos trabalhistas foram fatores que levaram o presidente da época, Arthur Bernardes, a adotar a sugestão que já estava circulando em diversas partes do mundo: reservar o dia 1º de maio como o Dia do Trabalho.
Cândido Portinari, neorrealismo e a representação do trabalho
Além de todo o impacto que o artista causou no cenário artístico, desde sempre ele nutriu grande interesse por questões sociais, como a representação do trabalho e da realidade do povo humilde brasileiro. Ele é a grande referência nacional quando abordamos o neorrealismo, exercendo inclusive influência sobre a corrente neorrealista portuguesa.
Para quem desconhece o movimento, ele surgiu durante o século XX e entre as principais características desse movimento artístico estão a reflexão sobre as questões que afetam a sociedade e a abordagem crítica de assuntos sociopolíticos. Já as obras neorrealistas vão além da pintura, podendo ser vistas na música, na literatura, na fotografia e no cinema.
Em relação a Cândido Portinari, talvez suas obras mais destacadas do neorrealismo sejam “O lavrador de café” (1934), “Lavadeiras” (1937), “Retirantes” (1944), além da já citada “Café” (1935).
Análise da obra Café
Agora, vamos nos aprofundar um pouco mais nesta importante obra de Portinari. O artista nasceu na cidade de Brodósqui, no interior de São Paulo, em uma fazenda de café. Talvez até por isso a temática seja tão recorrente em sua obra, pois durante boa parte de sua vida foi uma realidade próxima a ele.
Apesar dele participar de um movimento que buscava trazer uma abordagem mais crítica da realidade do trabalhador, pelo menos na obra Café, não se tem um sentimento de miséria ou privação, mas sim uma representação fiel do mundo através de seu estilo.
Nota-se uma influência da monumentalidade do muralismo, seja no tema, na composição ou na elaboração das figuras.
Podemos ver uma pintura que busca nos mostrar a vida em uma lavoura, com homens e mulheres realizando o árduo trabalho de fazer a coleta e carregar os sacos de grãos de café. As pessoas retratadas têm uma característica muito peculiar: os trabalhadores com corpos muito fortes, com destaque para os braços e pernas enormes, para nos dar a representação visual da força do trabalho.
Aliás, o próprio Cândido Portinari falou um pouco sobre essa representação:
“Pés sofridos com muitos e muitos quilômetros de marcha. Pés que só os santos têm. Pés que inspiravam piedade e respeito. Agarrados ao solo, eram como alicerces, muitas vezes suportavam apenas um corpo franzino e doente. Pés cheios de nós que expressavam alguma coisa de força, terríveis e pacientes”.
Por fim, fica o destaque para a menção honrosa que esta pintura recebeu na Exposição Internacional de Arte Moderna do Instituto Carnegie, em Nova Iorque.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA