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A história das Comics para muitos é dividida em eras. Anteriormente trouxemos as duas primeiras: ouro e prata. Agora, continuando a passagem para entendermos os quadrinhos como são hoje, falaremos sobre as de bronze e ferro.

História das Comics: era de bronze 

O momento dos EUA trazia uma sociedade que não via mais o mundo de maneira tão simplista, como era a marca dos quadrinhos da era de prata. Estouravam lutas por direitos civis de negros e gays, além de termos em curso a guerra do Vietnã, que vinha matando jovens, que eram justamente grandes consumidores das Comics.

Com a contracultura afastando o público do maniqueísmo dos quadrinhos da época, somada a questão da guerra, o que se viu foi o cancelamento de muitas histórias. Ou seja, novamente era necessário se reinventar para atender as mudanças da sociedade. Começava uma era de quadrinhos com heróis engajados em temas políticos e sociais.

Foi um momento que marcou a ascensão da dupla Dennis O’Neil (roteirista) e Neal Adams (desenhista). Foi deles uma das primeiras histórias que marcaram essa mudança: uma parceria entre Lanterna Verde e Arqueiro Verde. Por um lado, Hal Jordan era um oficial da lei, que seguia ainda a linha maniqueísta da era de prata. Já Oliver Queen via o mundo com as complexidades da época.

Destacam-se os momentos em que um homem negro fala ao Lanterna que ele já ajudou os de pele azul, os de pele púrpura, os de pele laranja, mas nunca os de pele negra.  O outro traz os heróis discutindo sobre o que o Hal Jordan fazia, onde ele fala que “apenas cumpria seu dever” e o Arqueiro retruca que ele já tinha ouvido a mesma coisa nos julgamentos de nazistas.

Por fim, eles saem pelos EUA, onde vários outros problemas sociais são tratados e Ricardito (ou Speedy) torna-se um viciado. É a primeira vez que o problema das drogas é abordado nos Comics.

Drogas, volta do sobrenatural e morte: o começo do fim da CCA 

O polêmico selo criado durante a era de prata ainda fazia estrago nos Comics, mas ele começava a perder força. Primeiramente após duras críticas quando uma história do Homem-Aranha abordando problemas de drogas, havia sido censurada. Apesar de reprovada, publicaram e o sucesso com o público gerou pesadas críticas ao CCA (que só saiu de vez dos quadrinhos no séc. XXI).

Tal fato levou a um abrandamento do selo, o que trouxe de volta as histórias sobrenaturais e de monstros. Vieram aí o Motoqueiro Fantasma e o Monstro do Pântano como destaques nesse primeiro momento. Outro momento marcante foi o Batman voltando a suas origens mais violentas, que posteriormente culminariam no Cavaleiro das Trevas de Frank Miller. A partir daqui, temos o selo ainda presente, mas sem força para podar a criatividade das editoras.

Novamente o Homem-Aranha esteve no centro de uma mudança importante narrativa da era de bronze: a morte de Gwen Stacy. Ali foi a primeira vez que vimos que um herói podia falhar e tudo dar errado.

 A política e a diversidade em foco nos Comics 

Já para o final da era de bronze, o escândalo de Watergate (que levou a renúncia de Nixon) afetou até as histórias do Capitão América. O mais patriota dos heróis, desgostoso ao descobrir que um dos líderes de uma organização terrorista que ele combatia era do alto escalão do governo, abandonou o manto e tornou-se o herói “Nômade”. Uma forma emblemática de mostrar o questionamento dos heróis a tudo que estava acontecendo.

Juntamente com isso, vimos a criação e ascensão de diversos heróis negros nos quadrinhos. Luke Cage, Pantera Negra (que ganhou sua própria revista) e John Stewart, o primeiro herói negro da DC, se destacam no período.

Além dos negros, a diversidade étnica começou a aparecer, com o nativo dos EUA Lobo Vermelho e o hispânico Tigre Branco. O segundo saiu na revista “The Deadly Hands of Kung Fu”, que posteriormente seria casa de vários heróis de origem asiática. Além deles, os X-Men de Len Wein e Dave Cockrum tornou-se um grupo multinacional (sendo aqui a base dele como é hoje).

História das Comics: era de ferro 

Todo caminho traçado durante a era de bronze, sobre essa maior proximidade com a realidade dos heróis, teve seu auge na era de ferro. Para começar uma das marcas dessa época era justamente o questionamento deles e em que suas ações se diferenciavam dos vilões. Por conta disso, há uma escalada da violência dos heróis, assim como a ascensão dos “anti-heróis”.

Foi uma época que deixou os heróis mais expostos, dando ênfase a seus pontos fracos. Ao mesmo tempo, teve destaque pela expressividade gráfica, com destaque para Jim Lee, Marc Silvestri e Todd McFarlane. Vale destacar ainda que o cenário de final da Guerra Fria, inspirava muitas das histórias e até personagens. Por exemplo, o Omega Red, criado em 1992.

Primeiro reboot e o auge dos heróis soturnos 

A Crise nas Infinitas Terras de 1985-86 foi um marco das Comics, pois pela primeira vez vimos um reboot. Ela foi usada para unificar os universos da DC (dar forma ao conceito do multiverso), mas também serviu para matar diversos heróis pelo caminho. Sem dúvida a morte mais impactante foi a do Flash da era de prata, Barry Allen.

Entretanto o período se destacou por heróis como Demolidor da Marvel e Batman, o Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller. Ambos mostravam uma “maturidade” dos diálogos dos quadrinhos, mas também traziam a tênue linha da violência para lidar com os vilões. A ideia aqui era mostrar uma maior complexidade na discussão dos temas e problemas vistos nas histórias.

Só que não foi exclusividade dos heróis, pois vilões também foram alvo desta mudança. Inimigos muito mais violentos, maníacos davam o tom, como por exemplo, o Carnificina no Homem Aranha. Contudo, nada foi mais emblemático para esse período que Watchmen.

Tudo aquilo que vimos no Cavaleiro das Trevas e Demolidor, foi maximizado nesta história. Alan Moore e Dave Gibbons usaram personagens da Charlton Comics, adquiridos pela DC para trazer uma das mais marcantes histórias das Comics até hoje. Ali você tinha o mais próximo do que seria alguém tornar-se um justiceiro mascarado na vida real, além de mostrar heróis no limiar entre o bem e o mal.

O curioso, porém, é que ao invés de vermos as discussões caminharem para heróis mais maduros e questionadores, o efeito foi o oposto: a banalização da violência.

Aqui se destacam os quadrinhos da recém-criada Image Comics. Grupos como WildCATS, Youngblood, Cyberforce, criações de Jim Lee, Rob Liefeld e Marc Silvestri, respectivamente traziam histórias com muita ação e combate, mas com pouca profundidade, onde a batalha em si era o mais importante e não seu porquê.

O começo do fim da era de ferro: a morte do Superman e o Batman aleijado 

Uma das mais brutais eras das Comics teve começo do seu fim através de dois de seus principais heróis: Superman e Batman. Primeiramente o homem de aço, em uma das histórias mais famosas dos quadrinhos, é morto pelo vilão Apocalypse. Ver um dos maiores símbolos dos heróis mortos em tal era, foi um verdadeiro impacto (além de uma baita jogada de marketing).

No entanto, Superman não foi o único a sofrer nesta era. Apesar de não terminar morto, o homem morcego teve sua coluna quebrada pelo recém-criado vilão Bane. Ele teve um substituto: Jean-Paul Valley. Este além de ser o Batman, também era o assassino da Ordem de São Dumas, Azrael (devido a uma lavagem cerebral sofrida por ele).

Finalmente parece que tanta violência e os heróis tão “frágeis” saturaram o público, que sentia saudade da era mais romântica das Comics. A volta dos heróis “heróis” marcou o fim da era de ferro.

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