Nascido em São Paulo, Juliano Sousa, desde muito jovem, sempre gostou de desenhar.
Gostou tanto que nunca mais parou.
Ele nos disse que preferia ficar em casa desenhando, a sair para brincar com as outras crianças
da rua. Como toda criança, seus desenhos eram bem limitados, mas ele tinha uma coisa que as outras não tinham:
Obstinação!
Ele decidiu que queria melhorar, e que queria desenhar tão bem quanto os desenhistas que
cresceu lendo e admirando, como George Perez, John Byrne, John Buscema, Ross Andru, e
mais tarde, Jim Lee, Mark Silvestri e outros.
Em 1994 decidiu cursar arquitetura, e foi aí que seu caminho cruzou com o da ABRA, pois
precisava estudar desenho para a Prova de Habilidades Específicas do vestibular. Com muita
dedicação, aprendeu todos os fundamentos que levaria para a vida artística.
Juliano formou-se arquiteto pela FAAP em 1999, mas com o desenho pulsando nas veias
seguiu mesmo a carreira de desenhista de quadrinhos, seu sonho desde os 12 anos de idade.
Conquistou o mercado internacional, sendo contratado por editoras norte-americanas e hoje
produz para uma editora Britânica, além de ter projetos desenvolvidos para o mercado
nacional.
Batemos um papo com ele, confira que legal!
ABRA – Escola de Arte e Design – Como você começou nos Quadrinhos?
Juliano Sousa – Bom, em 2003 tive um blog no qual postava meus estudos de arte. Era mais
um meio de procurar críticas construtivas do que qualquer outra coisa, mas, foi através deste blog que um agente me encontrou e a partir daí comecei a fazer trabalhos para editoras norte-americanas.
ABRA – Escola de Arte e Design – O que você desenhava para eles e como era o trabalho?
Juliano Sousa – Desenhei uma história que misturava samurais, no japão feudal, com
mortos-vivos. Era bem puxado, produzia uma página a lápis por dia, que então tinha a Nanquim
aplicado por cima e era colorizada digitalmente no Photoshop.
ABRA – Escola de Arte e Design – Analisando seus trabalhos, dá pra ver que você é um
Ilustrador muito versátil. Como você chegou a esse nível?
Juliano Sousa – A vontade de aprender nunca me deixou, estou sempre buscando técnicas
novas. Quando mais novo, sempre fui um artista autoral e tinha muitos problemas com outras
pessoas arte-finalizando (aplicando nanquim sobre o lápis) e colorizando minhas artes, por isso
acabei indo atrás de aprender as técnicas para que eu pudesse ser “auto-suficiente.” E, hoje,
sou! Mas, desde então, aprendi que isso não é legal e fazer um projeto em conjunto só
enriquece a arte. Por outro lado é muito importante dominar o maior número de técnicas
daquilo que você se propõe a fazer.
ABRA – Escola de Arte e Design – Explique um pouco sobre esta divisão de tarefas na área dos
quadrinhos.
Juliano Sousa – Basicamente o desenhista (penciller, no inglês) desenha a arte à lápis, sem
balões, Então, essa arte é enviada para o arte-finalista (inker), que vai definir e embelezar os
traços à lápis com uma tinta preta, normalmente a nanquim pura.
Em seguida, essa arte é escaneada, tratada, para que os pretos fiquem em intensidade máxima,
e colorizada em programas de pintura (normalmente o Photoshop), em uma camada digital
ABAIXO das linhas pretas. Essa divisão ocorre para agilizar a produção, pois o Desenhista não
espera a conclusão de todas as páginas de uma revista (normalmente 22 páginas) para
envia-las ao arte- finalista e esse não espera concluir toda a lineart para o colorista iniciar seu
trabalho. Em certos momentos o trabalho ocorre simultaneamente. Só não na mesma página,
claro.
ABRA – Escola de Arte e Design – Você está trabalhando em algum projeto atualmente?
Juliano Sousa – Alguns. Estou ajudando na organização e curadoria de uma coletânea em
quadrinhos baseada na obra de Monteiro Lobato, que caiu em domínio público, com uma
pegada “Steampunk Pós-Apocalíptica” no melhor estilo Mad Max, a ser lançada na CCXP de
2019.
Além disso estou produzindo toda a arte para uma aventura de terror de uma editora
Britânica.
ABRA – Escola de Arte e Design – Como você vê a área de HQ no Brasil atualmente?
Juliano Sousa – Em uma palavra? Efervescente.
A já citada CCXP, combinada com o advento do Financiamento Coletivo, alavancou o mercado
de quadrinhos brasileiro produzindo obras com uma qualidade técnica de fazer inveja em
muita editora internacional.
Quadrinhos no Brasil deixou de se resumir a grandes expoentes como Maurício de
Sousa, Laerte, Glauco, assim como grandes nomes brasileiros dos quadrinhos Americanos
como Mike Deodato e Ivan Reis . Isso ocorre porque os autores independentes não produzem
mais artes de maneira precária, usando Xerocadora para reproduzir as imagens e histórias
desenhadas que seriam compiladas em um “Fanzine.” Hoje é possível produzir de maneira
completamente independente uma revista de qualidade gráfica comparável à qualquer grande
editora nacional ou internacional como a Marvel e DC Comics.
ABRA – Escola de Arte e Design – Qual é a sua expectativa como novo orientador da ABRA?
Juliano Sousa – Bom, eu, melhor do que ninguém posso falar sobre o poder do ensino
individualizado que a ABRA oferece, afinal eu fui aluno da ABRA em 1995 a 1996. Aqui, cada
aluno produz no seu ritmo de aprendizado, com uma abordagem didática divertida e dinâmica,
e que é perfeita para aplicar a uma mídia com tantos estilos e visões diferentes como os
Quadrinhos . Estou bastante empolgado para conhecer os novos alunos, ajuda-los em seus
processos criativos e os tornar prontos para começar a atuar de maneira profissional em esse
mercado em franco crescimento.
ABRA – Escola de Arte e Design – O que você recomenda para a galera que tá começando ou
quer se aperfeiçoar na área de Quadrinhos?
Juliano Sousa – Antes de qualquer coisa, aprenda direito os fundamentos. Desenho Básico,
Anatomia, Perspectiva, Desenho de Observação etc… Um desenhista de quadrinhos tem de
conseguir desenhar de tudo, e pra isso ele precisa estar muito bem embasado. Eu entendo a
empolgação de querer produzir quadrinhos o mais rápido possível melhor que qualquer outra
pessoa, mas não é “queimando etapas” que se constrói uma carreira de sucesso.
ABRA – Escola de Arte e Design – Fale um pouco dos programas de Mangá e HQ, o que os diferencia? E para quem é cada um deles?
Juliano Sousa – Poucos iniciantes sabem disso, mas a palavra “Mangá” nada mais é do que a tradução em japonês da palavra QUADRINHOS. Os programas são muito semelhantes,
especialmente em seus níveis mais básicos. A diferenciação acaba ocorrendo nos módulos
mais avançados, onde as profundas diferenças nas maneiras ocidentais e orientais de contar
histórias se tornam evidentes. Nessa maneira diferente de contar histórias podemos, sim
incluir os “traços” diferentes. Outra coisa que poucas pessoas sabem é que o “estilo mangá” de
desenhar nada mais é uma técnica de gerenciamento de tempo. No Japão, os mangás saem
semanalmente, e por isso um Mangaká (Autor de Quadrinhos) tem de “simplificar” seu traço
de uma certa forma, para que assim possa dedicar mais tempo à produção de cenas
empolgantes e histórias que movem o leitor. Isso também ocorre nos quadrinhos
norte-americanos, mas de uma forma diferente.
Com a chegada do juliano Sousa, os programas de cursos de desenho da ABRA, incluindo quadrinhos e
mangá, ganham uma roupagem mais ousada e moderna, sem deixar de lado a essência da
escola que a mais de 30 anos se destaca na formação de artistas.
Seja bem vindo Juliano Sousa!
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