Tradicionalmente quando se fala em pintura com temas religiosos, muitos se lembram das pinturas de igrejas, especialmente as renascentistas. Porém, esta acaba por ser uma análise equivocada, pois temos tantas outras religiões com importantes artistas. E entre eles, vamos destacar Ed Ribeiro, que ficou conhecido como o “Pintor dos Orixás”.
Ed Ribeiro: um começo de carreira nada convencional
Ao olharmos a maioria das biografias de grandes artistas, boa parte tem uma relação de longa data com a pintura, escultura, desenhos, etc. Ainda que não sigam desde cedo, a pessoa já lida, mesmo que como apenas um hobby, mas no caso de Ed Ribeiro, as coisas aconteceram de uma forma bem curiosa.
Primeiramente pelo fato de falarmos de alguém com uma carreira muito estabelecida como empresário. Ele é natural de Catu, na região metropolitana de Salvador, na Bahia e vindo de uma família humilde, mudou-se para a capital baiana. Lá, ele chegou a ser vendedor de aparelhos de refrigeração e panificação.
Posteriormente, abriu uma empresa de prestação de serviços e, um tempo depois, a primeira casa de acarajé da Bahia, a Point do Acarajé, na região do Canela. Ele tornou-se um popular estabelecimento de comidas típicas, que se expandiu para outros locais de seu estado e até mesmo para fora dele, como no Rio de Janeiro e São Paulo.
Sai o empresário e entra o artista
Mesmo com uma carreira de sucesso no ramo empresarial, Edmilton da Cruz Ribeiro como ainda era chamado, decide em 2005 deixar o comércio e iniciar uma carreira artística. Anos depois, Ed Ribeiro (o nome com o qual assina suas obras), explicou melhor o porquê de uma mudança tão drástica:
“Deus olha demais para mim. Sou muito grato a ele. Eu estava cansado de trabalhar com comércio, que é uma atividade muito desgastante, embora o meu negócio (Point do Acarajé) fosse um sucesso, inclusive bastante noticiado pela imprensa. Como já estava insatisfeito, pedi a Deus para que ele me libertasse daquilo.
Eu entendia pouco de arte, mas sentia a energia da pintura. Comecei a pesquisar lugares para aprender a pintar. Um dia, ao sair do edifício onde morava, peguei um folheto de uma pessoa na rua, que anunciava um curso de pintura próximo de minha casa. Fui até o atelier e paguei por dez aulas. Só fiz quatro e depois já comecei a pintar sozinho…”.
Para muitos chamava atenção o início relativamente tardio de Ed Ribeiro, que na época tinha 52 anos. Porém, isso não impediu que ele tivesse uma carreira não apenas meteórica, mas também trazendo uma revolução na pintura.
Derramamento de tinta, a técnica desenvolvida por Ed Ribeiro
O artista desenvolveu uma técnica única, a qual ficou conhecida como “derramamento de tinta”. Ela traz uma forma de pintar muito diferente do habitual, pois ele não utiliza pinceis, espátulas ou outro instrumento de pintura.
Para dar forma à composição, ele derrama tinta na superfície desejada na posição horizontal e vai movimentando a tela de acordo com a forma que pretende realizar. Com isso, as tintas que derrama e escorre sobre ela, dão uma sensação de movimento à figura representada.
A técnica é revolucionária a tal ponto que estudiosos o citam como o terceiro inovador do século 19 ao 21 no mundo da arte, junto de grandes nomes como Jackson Pollock e Pablo Picasso. Mas além disso, desde o começo de sua carreira, Ed Ribeiro dá especial enfoque aos orixás. Tanto que cerca de 90% de suas obras são voltadas para os panteões da cultura afro.
A carreira meteórica do “pintor de orixás”
Para se ter uma ideia de como a carreira dele progrediu rapidamente, em sua primeira exposição conseguiu vender muitas de suas telas, ainda na Bahia. Posteriormente, ele conseguiu levar suas pinturas para exposições no exterior, com passagens pelos EUA e por Alemanha.
Com apenas quatro anos de carreira, recebeu uma medalha de ouro pela Sociedade Brasileira de Belas Artes. Um ano depois é laureado pela Acadèmique Des Arts Sciences Et Lettres de Paris, com a Medaille d’Argent (prata). Pois neste mesmo ano, em setembro, recebe a honra de expor suas obras no Museu do Louvre.
Poseidon deus dos mares e seus cavalos brancos, uma das poucas obras de Ed Ribeiro, sema temática dos orixás
Já em 2014, uma empresa aérea o contrata e ele faz uma nova turnê pela Europa. Ele passa por diversos países, como Espanha, França, Holanda, Suíça, Portugal e Alemanha. Um ano depois ele recebe novo prêmio, mas desta vez no Brasil, ao conquistar o Berimbau de Ouro.
O AVC e o museu a céu aberto de Ed Ribeiro
Infelizmente em 2017 ele sofre um AVC precisou interromper seu trabalho e exposições que estavam agendadas no Brasil e em muitos países do exterior. Entretanto, mesmo debilitado, manteve uma única exposição em Londres, para satisfazer um sonho seu.
Após tratamento e muita fisioterapia, ele começou gradativamente a retornar sua produção, mas junto com as pinturas, ele passou a investir mais em esculturas. Estas obras, presentes em seu ateliê em Catu, tornaram-se um grande museu a céu aberto.
Lá é possível encontrar, entre outras obras, o “Dinossauro” de 10 metros de comprimento; “A Grande Batalha”, representando a batalha dos orixás; “A Lagoa de Dois Corações”; o “Mijão”. Todas estão disponíveis para visitação gratuita, junto de telas como “Xangô”, “São Jorge”, e “Iansã”.
Obra “O Mijão”
Em 2020 ele cria o maior mural produzido em mosaico do Brasil, medindo aproximadamente setenta metros de comprimento. Intitulado “Em Busca da Luz”. Ele está localizado na Escola Traços e Letras, em sua cidade natal, Catu.
Em 2022 ele ganhou um livro que conta sua trajetória e segue até hoje produzindo suas obras em seu ateliê/museu. E caso alguém queira ver mais de suas obras, ele costuma postá-las e até interagir com os fãs em suas redes sociais. No Instagram podemos achá-lo como pintor_dos_orixás.
Aprenda pintura na ABRA
Gostou destas curiosidades? E que tal se fosse possível fazer um curso acadêmico completo, com acompanhamento individualizado, no conforto e segurança de sua casa? O curso online “Pintura Acadêmica: Formação Completa” da ABRA é o mais completo no mercado.
Conheça agora mesmo os benefícios e metodologia do curso clicando aqui e faça sua matrícula agora mesmo!
Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA