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A literatura de cordel é uma das principais manifestações artísticas brasileiras, tanto que em 2018 recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Só que, além do seu estilo literário único, ela também conta com outra marca característica: o uso da xilogravura.

Vamos mostrar um pouco sobre como ambos se uniram ao longo do tempo e deram forma a esta obra tão característica do povo brasileiro.

Maria Salete de Araújo é uma das principais cordelistas da atualidade, mas a xilogravura quem faz para ela é José Lourenço

A origem da xilogravura  

Trata-se de uma técnica que se originou na China, onde a usavam desde o século VI. Inicialmente, ela era utilizada apenas para imprimir textos como escrituras budistas. Com o tempo, seu uso aumentou, chegando ao Japão, onde logo se espalhou.

A chegada da xilogravura ao Ocidente demorou anos, ocorrendo apenas no século XIV, quando ela foi introduzida na Europa, simultaneamente ao crescimento da comercialização do papel no continente, especialmente na Alemanha e na França.

Foi também o momento de popularização dos livros, com isso a xilogravura se tornou uma opção para inserir ilustrações nas publicações. Além disso, paisagens, releituras da bíblia e até obras famosas foram produzidas.

O método logo se mostrou como uma forma de tornar as peças de arte mais acessíveis, já que transmitia cenas cotidianas da vida e a matéria-prima era comum de se encontrar.

Com o tempo, métodos mais modernos, como placas de metal, surgiram para substituir a madeira. Contudo, a técnica não desapareceu por completo, pois muitos ainda achavam útil o tradicional modo de impressão.

A literatura de cordel e sua origem portuguesa 

Apesar do que se pode imaginar, a literatura de cordel não tem origem no Brasil, mas sim em Portugal. Sua chegada aqui se deu no fim do século XVIII, mas levou um tempo até ganhar força no país.

Em meados do século XIX ela começou a se popularizar, especialmente no sertão nordestino, mas não da forma como a conhecemos hoje. Isso porque, no começo, ela era transmitida apenas oralmente, através de trovadores que narravam as histórias em forma de melodia.

Já no final do século XIX, ela passou a ser transmitida de forma escrita e trazia algo muito interessante de se observar: mesmo tendo origem portuguesa, a linguagem da literatura de cordel possuia muitas expressões regionais e uma escrita sem o português “adequado”.

Devido à falta de instrução dos produtores de cordel na época e também das pessoas para quem ele era feito, por muito tempo a literatura de cordel foi vista com certo desdém por parte da população.

Contudo, é preciso ressaltar que desde o início ela possuía regras, como as tradicionais rimas.

A união da xilogravura e da literatura de cordel 

Primeiramente, vamos explicar o porquê deste nome. A literatura de cordel é chamada assim, pois eram penduradas em cordas, como um varal, para serem vendidas. Um fato curioso é que o termo “literatura de cordel” foi cunhado pelo pesquisador francês Raymond Cantel apenas em 1970. Até então, essa forma de escrita era conhecida apenas como “folheto de cordel”, “folheto” ou “romance”.

Literatura de cordel: seu nome se origina da forma como ela é vendida

Ao contrário do que se pode imaginar, a combinação dos dois não ocorreu desde o início, pois inicialmente, o cordel era produzido apenas com texto. A inclusão da xilogravura ocorreu apenas no início do século XX e atingiu seu auge entre os anos de 30 e 40.

Um dos principais motivos para a escolha deste método de impressão, era o baixo custo de produção, o que fez dele uma ótima alternativa para ilustrar as literaturas de cordel.

A perda de espaço e reinvenção da literatura de cordel 

Sendo uma alternativa de entretenimento e até mesmo de informação para muitos, ela passou por uma crise durante os anos 60, quando perdeu espaço devido à popularização do rádio e da TV.

Contudo, nos anos 70 tivemos uma reinvenção deste gênero. Os fatores são diversos, mas podemos destacar:

  • A maior instrução dos cordelistas, que trouxe mudanças na criação dos textos;
  • A migração interna, que permitiu o contato com outras realidades, especialmente pela presença de muitos em áreas urbanas. Isso fez com que surgissem novas narrativas e temáticas para a literatura de cordel, que mesclava as duas realidades vividas pela pessoa;
  • O reconhecimento acadêmico, que trouxe diversos impactos positivos, culminando no já citado reconhecimento do Iphan da literatura de cordel como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.

A partir deste momento tivemos um maior refinamento na produção, no material utilizado, nas artes e até mesmo na forma de divulgação e distribuição. Contudo, a xilogravura continuou sendo um elemento presente, tanto para preservar a tradição quanto devido à preferência de muitos cordelistas em entalhar seus próprios desenhos.

obra de J. Borges, importante cordelista brasileiro

Atualmente, a literatura de cordel também é usada no processo de aprendizado como um recurso pedagógico valioso para ensinar sobre a formação cultural do povo brasileiro. Além disso, se mantém como uma atração turística muito presente no norte e nordeste.

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