O pintor Gustav Klimt, para além de ser uma celebridade atemporal na Áustria (seu país natal), também é um dos artistas com obras mais retratadas no ocidente. Entre suas pinturas mais destacadas, temos “O Beijo”, feita durante a chamada “fase dourada” de sua carreira.
As mudanças na vida de Gustav Klimt que culminaram na criação de “O Beijo”
Para entender melhor sobre a criação da obra mais importante do artista, precisamos observar o que o levou a uma mudança de estilo tão grande. Isso porque “O Beijo” tem características bem distintas do seu início de carreira. Gustav Klimt formou-se na Escola de Artes Decorativas de Viena, em 1882 e logo depois abriu, com outros artistas, um estúdio especializado em pinturas murais.
Ele se chamava “Cooperativa dos Artistas” e durante sua existência ornamentou vários museus, salões e teatros, entre eles o Teatro Imperial de Viena. Todavia, até então, a referência para a pintura do grupo, ainda era a arte renascentista, influenciada pelo naturalismo do século XIX.
Só que em 1897 Gustav Klimt, na companhia de artistas de diferentes áreas, decidiram se rebelar contra os paradigmas da arte clássica e fundaram a Secessão de Viena. Entre outros nomes de destaque, tínhamos o arquiteto Joseph Hoffmann e o cenógrafo Alfred Roller, que viam o esfacelamento do Império Austro-húngaro e buscavam atender a uma nova burguesia emergente com o estilo art nouveau.
Uma das principais razões é que os artistas mais conservadores ainda buscavam exaltar e manter intacta a glória de um império prestes a sucumbir (ele acabou após a Primeira Guerra). Por outro lado, o grupo da Secessão de Viena tinha como objetivo um estilo que trazia formas curvas e sinuosas, preferência por tons frios e pálidos, temática naturalista, rejeição à simetria e à proporção.
Com isso procuravam comunicar o sentimento de leveza, inovação e otimismo, especialmente em um momento que se discutia a importância do artista em uma sociedade em transformação. Inclusive eles buscavam trazer impactos a sociedade e ao Estado, assim como fortalecer a identidade austríaca.
As inspirações de Gustav Klimt para sua obra-prima
Dentro de um contexto de mudanças em seu país, o artista passou a investigar e examinar os comportamentos individuais, assim como os culturais na sociedade. Isso acabou por se refletir em suas obras, que passou a usar inspirações no sonho (como conceito), que na época era um dos principais instrumentos de estudo da então nova ciência da psicanálise.
Junto a ele, temos o uso de vários elementos diferentes nas suas obras. Por exemplo: diversos flocos e folhas de metais passaram a integrar as pinturas de Gustav Klimt. Por conta do uso de muitas folhas de ouro que este período do artista ficou conhecido como “fase dourada”.
Aliás, esta é uma técnica da qual ele foi o criador, inovando ao misturar as folhas de ouro com óleos e tinta de bronze. Há quem acredite que ele a desenvolveu por conta de seu pai, que era um gravador de ouro. Por outro lado, outros creem que essa foi uma forma que ele encontrou de retratar os mosaicos bizantinos, que ele viu em sua viagem para Ravena, na Itália.
Análise da obra O Beijo
Durante toda sua carreira, Gustav Klimt teve como seu tema principal a figura feminina e a busca pela exaltação da sensualidade em suas obras. No caso de “O Beijo” ele o faz com um casal, em que mistura a idealização do momento de amor entre duas pessoas, com diversas mensagens subliminares sutis.
Primeiramente, podemos considerar o cenário de fundo. Isso porque este fundo dourado (ornamentado com flocos de ouro, prata e platina) deixa para o observador imaginar onde de fato o casal está. Tanto pode ser uma noite estrelada, como uma representação do cosmos, fazendo uma analogia ao fato de que naquele momento o casal “está em órbita”.
A única coisa que nos faz perceber que eles estão na Terra é o chão florido. E na obra, mesmo as flores também trazem mensagens subliminares. Por exemplo: as plantas douradas do quadro que contornam os pés da mulher são conhecidas como erva de Parnaso, um antigo símbolo da fertilidade.
Gustav Klimt cultivava flores e plantas e as usava sempre como elemento nas suas obras, pois tinha também o conhecimento do significado simbólico de cada uma delas.
Outro elemento chamativo é a forma como o casal está junto, parecendo ser apenas um (fazendo outra analogia ao amor). Entretanto, essa é apenas uma impressão, pois as túnicas que eles usam podem ser diferenciadas pelos elementos presentes em cada uma. Estes usam como referência os mosaicos que Klimt viu na Itália.
Para o homem ele usou símbolos retangulares, com o intuito de representar a virilidade. Já no caso da mulher, temos diversos círculos que representam a fertilidade. Apesar de contar com uma carga erótica pela forma como o casal está representado, ele é mais sutil que outras obras do artista.
Controvérsias e curiosidades sobre a obra
Por fim, o pouco que vemos das pessoas retratadas é tema de muitas análises controversas sobre o que a obra representa. Enquanto alguns a veem como um momento romântico sublime, em que a mulher traz uma feição de êxtase, há outros estudiosos que chegam a cogitar que ela esteja desacordada.
Há também uma corrente mais crítica que veja uma imagem de “subjugação masculina”, pois apenas ele a está beijando. Por outro lado, temos aqueles que pela forma como a mulher está (com o braço em volta do pescoço dele), seja uma forma de mostrar que ela deseja que ele permaneça ali e continue.
Contudo, a teoria mais interessante é a que “O Beijo”, na verdade, é um autorretrato dele com a presença da estilista Emilie Flöge, que foi o grande amor da vida de Klimt. No entanto, mesmo aqui não há um consenso, pois Adele Bloch-Bauer, que já havia posado para outra tela de Klimt e Red Hilda, uma modelo que também já tinha atuado para o pintor diversas vezes, também são citadas como sendo a mulher retratada.
A obra O Beijo está no “Belvedere Palace Museum“, que o comprou antes mesmo de ser terminado. O valor pago de 25 mil coroas foi um recorde na época, mostrando a ótima reputação que Gustav Klimt tinha.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA