A sustentabilidade vem ganhando espaço tanto entre os projetos arquitetônicos e de design, como entre clientes. Projetos que procuram ser menos agressivos com a natureza, usando muitos materiais reaproveitados são cada vez mais comuns. Só que mesmo quando esse nem era um tema tão discutido, o designer Carlos Motta já criava seus móveis seguindo essa lógica.
A relação com o surf e a origem caiçara dos seus projetos
Ele nasceu em 1953 na Vila Madalena e desde os 14 anos é surfista. Segundo ele, o contato com a natureza, além da própria visão dos trabalhos dos caiçaras (remos, barcos e casas) o influenciou em todos os seus projetos. Posteriormente, já nos anos 70, ele começou a trabalhar criando móveis usando materiais encontrados em praias, terrenos, ou mesmo doados de demolição.
Enquanto estudava arquitetura na FAU/Braz Cubas, ele abriu seu primeiro atelier, em 1975. Um ano depois ele concluiu seus estudos e estagiou no escritório de Paulo Mendes da Rocha e passou um ano na Califórnia (EUA). Lá ele estudou artes e aperfeiçoou suas técnicas de marcenaria e construção.
Voltou ao Brasil em 1978 e inaugurou seu ateliê (o “Atelier Carlos Motta”), onde desenvolve tanto projetos de arquitetura, como de design. No entanto, ele seguiu mantendo a lógica de reutilização, inclusive com as ferramentas, que ele explica que são compradas usadas.
O motivo disso é a mesma lógica que o levou a trabalhar com madeira reutilizada: o prazer de não precisar pegar algo novo, mas sim de reutilizar. Isso seguiu a lógica da sustentabilidade que ele leva ao longo de toda a carreira.
A Cadeira São Paulo e os primeiros prêmios
Após iniciar os trabalhos em seu ateliê, Carlos Motta começou a ganhar destaque com seus objetos em madeira, que traziam uma estética bem brasileira. Porém, foi em 1982 que seu nome passou a figurar entre os principais designers brasileiros, quando ele criou a Cadeira São Paulo.
Cadeira São Paulo
O sucesso dela foi tanto, que em 1985 ele fundou a Fábrica de Cadeiras São Paulo. Um ano depois veio o primeiro prêmio com suas obras: com a própria Cadeira São Paulo no 2º prêmio Design do Museu da Casa Brasileira. Posteriormente ele ainda ganhou outros prêmios e entre eles podemos destacar:
- Concurso Nacional de Desenho Industrial FIESP (Prêmio Aloísio Magalhães);
- Prêmio Planeta Casa – este vale um destaque especial, pois como explica a própria descrição da Casa Cláudia (criadora do prêmio) ele visa “incentivar produtos, ações e projetos que tenham como principal meta o uso e exploração dos recursos ambientais, na área de construção e arquitetura, de forma consciente”. Ou seja, ele reconhece justamente o tipo de trabalho que Carlos Motta faz;
- Prêmio Hors Concours Museu da Casa Brasileira.
A carreira além do design de móveis de Carlos Motta
Apesar do grande destaque da sua carreira como designer de móveis, ele não atuou apenas nesta área. Como citamos, seu ateliê também faz projetos de arquitetura, assim como de design de interiores. Inclusive temos diversos de seus projetos espalhados por aí, sejam comerciais ou residenciais, mas sempre com foco na sustentabilidade.
Além disso, ele também chegou a seguir carreira acadêmica, pois entre os anos de 2001 e 2004 ele foi professor de desenho industrial na FAAP.
As principais características de seus trabalhos
Em primeiro lugar, é interessante comentar na forma como ele busca as matérias-primas. Em entrevista para o site Vida & Arte ele explicou os tipos de madeiras que utiliza em seus trabalhos:
“O que a gente mais usa são madeiras reutilizadas de demolição, seja qual for a origem dela é reutilizada. Isso não quer dizer que a gente também não trabalhe com madeiras novas. A gente trabalha com algumas madeiras novas que são certificadas pelo FSC, que é o selo muito bom, que certifica a origem da madeira e por esses caminhos que a gente mais trabalha.
Ao longo do processo também trabalhei com madeiras normais do mercado de um lado por ingenuidade, mas também sabendo que não tinha outra opção. Porém sempre houve uma procura, uma responsabilidade e um prazer enorme de saber que eu estava trabalhando com madeiras cuja origem era muito correta, ambientalmente, socialmente ou os dois juntos”.
Para quem não conhece, o FSC ou “Forest Stewardship Council” (ou Conselho de Manejo Florestal em português) é uma ONG sem fins lucrativos, que foi criada para promover o manejo florestal responsável ao redor do mundo.
Voltando aos trabalhos de Carlos Motta, além da madeira ele também usa ferro, vidro e pedra nos seus projetos. Ele valoriza a estética brasileira, a ergonomia, além claro da funcionalidade de suas obras.
Carlos Motta: obras institucionais e exposições internacionais
Caso você tenha curiosidade, sabia que ele tem diversas obras espalhadas por locais públicos de São Paulo? O sofá redondo na recepção da Pinacoteca do Estado de São Paulo, assim como o banco em S no SESC Tatuapé são obras suas.
Sofá redondo da Pinacoteca do Estado de São Paulo
Banco em S do SESC Tatuapé
Ele também fez os bancos da Basílica de Nossa Senhora Aparecida, assim como as mesas e bancos da Briquedoteca do Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e a Criança com Câncer).
Bancos Basílica Nossa Senhora Aparecida
Seus projetos e criações também já foram temas de exposições nos EUA e na Europa, nas seguintes exposições:
- Berlim (Alemanha) – Brazilian Design – Modern & Contemporary Furniture, em 2012;
- Amsterdã (Holanda) – Em Louvor da Diversidade – Bancos do Brasil, em 2012;
- Lisboa (Portugal) – Design Brasileiro – Mobiliário Moderno e Contemporâneo, em 2012;
- Londres (Inglaterra) – Brazilian Design: Modern & Contemporary Furniture, em 2014;
- Miami (EUA) – Em Trânsito – The Shore Club, em 2014;
- Nova Iorque (EUA) – ATELIER CARLOS MOTTA: 40 ANOS, em 2015.
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