Ao falarmos sobre técnicas de pinturas clássicas, muitos lembram da pintura a óleo ou então a têmpera. No entanto, antes delas, a que foi predominante no mundo da arte foi a encáustica. Vamos falar mais sobre esta, que é tida como uma das mais difíceis de se dominar, e sobre seu período de auge, que foi séculos antes das outras duas citadas. 

O que é a pintura encáustica? 

Seu nome origina-se do grego “enkausticos”, que significa gravar a fogo e tem como principal característica o uso de cera como aglutinante e de possuir uma textura densa e cremosa. Uma coisa que chama atenção, é sua grande durabilidade, pois os registros mais antigos da encáustica têm um ótimo estado de conservação. 

História da encáustica 

Esta tem os primeiros registros de seu uso na Idade Antiga, tanto na Grécia, como em Roma. Além destes, no Egito temos várias obras na região de Faium, em sarcófagos de madeira, sendo estes os mais antigos, do século I a.c. Chamava atenção não apenas o ótimo estado de conservação, como a força expressiva das pinturas.  

pintura encáustica encontrada em Faium, no Egito

Mas não são apenas estes, pois também há registros da arte encáustica na região da Pompéia. Contudo, não se sabe exatamente qual foi seu local de origem. Isso porque o naturalista romano Plínio, o Velho (23-79 d.c.) descreveu o uso dela sobre o marfim citando que ali, ela já era antiga. 

Ele destacava como era uma boa técnica para rematar a fabricação de um barco por ser muito dura e resistente ao sal e às intempéries. Durante os primeiros séculos do calendário cristão, esta foi uma técnica muito utilizada, especialmente em ícones religiosos. Uma das principais obras é a Virgem entronizada com o Menino Jesus do Mosteiro Ortodoxo de Santa Catarina do monte Sinai, no Egito. 

Posteriormente, ela cai em desuso entre os séculos VIII e IX (períodos em que a têmpera e pintura a óleo ganharam força), reaparecendo com alguma força cerca de mil anos depois. Os principais focos do uso da encáustica são na Inglaterra e França, com seu principal nome sendo Eugène Delacroix. O pintor francês utilizou em muitas de suas obras, algumas cores previamente misturadas com cera.  

A luta de Jacob com o anjo, de Delacroix

A encáustica no século XX e nos dias de hoje 

Durante o século XX, diversos artistas experimentaram a técnica. Por exemplo, temos nomes importante do muralismo mexicano como Diego Rivera e Jean Charlot, que às vezes usavam pintura encáustica. Além deles, o belga James Ensor também experimentou a encáustica. 

Só que talvez o maior destaque ficou por conta de Fritz Faiss, pois ele redescobriu a técnica da “cera púnica”. O aluno de Paul Klee e Wassily Kandinsky na Bauhaus, juntamente com o Dr. Hans Schmid tinha duas patentes para preparação de ceras para a pintura encáustica. 

Uma delas cobria um método para o tratamento de cera de abelha, de modo que seu ponto de fusão fosse elevado de 60 para 100 ° C. Isto ocorreu após ferverem a cera em uma solução de água do mar e refrigerante, três vezes sucessivas. A cera dura resultante é a mesma que a cera púnica referida nos escritos gregos antigos sobre a pintura encáustica. 

Nos anos 90 ela ganhou popularidade entre diversos artistas, especialmente por conta de opções modernas para fazê-la. Por exemplo: usam-se ferros elétricos, placas de aquecimento e stylis aquecidos em diferentes superfícies, incluindo papel cartão, e até mesmo cerâmica. Isso porque o ferro faz com que a produção de uma variedade de padrões artísticos seja mais fácil. 

Técnica 

A encáustica é tida como uma das mais difíceis e até mesmo perigosa se feita de forma incorreta, devido ao fato que se mexe constantemente com fogo e material muito quente durante o processo. Sendo assim, além do cuidado, é preciso ter um local próprio para poder praticar, sem objetos inflamáveis próximos. 

Hoje em dia, para fazê-la, os passos seriam os seguintes: 

1. Aquecer a cera até que ela fique líquida. Usa-se normalmente uma mistura de cera e resina de damar misturadas; 

1. Pincelar a cera líquida sobre a placa de encáustica ou painel de madeira simples. Normalmente usa-se um pincel ou uma espátula, mas o fundamental é que eles, assim como a cera, devem permanecer quentes, para facilitar a aplicação; 

1. Caso haja o desejo de fazer uma composição com outros elementos, você deve colocá-los por entre as camadas de cera; 

1. A cada camada de cera aplicada, no processo da pintura encáustica, você irá fundir com as anteriores. Isso pode ser feito com a ajuda de um maçarico, mas lembrando que deve ser um fogo baixo, para uma mistura suave. Justamente por esta parte do processo, que o cuidado com o local onde você fará a obra é fundamental. Ou seja, coloque uma proteção na superfície e evite deixar próximo qualquer material inflamável; 

1. Com mais camadas prontas, você pode aproveitar para fazer novos desenhos a partir de riscar ou raspar com objetos pontiagudos, texturizar com objetos, etc. 

Como podem ver, não é qualquer superfície que possibilita um bom resultado para a pintura encáustica, até pelas altas temperaturas com as quais se trabalha. Lembrando também que é preciso de um braseiro em que se possa preparar a solução de cera líquida. 

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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA