Durante o mês de março, a ABRA realizou o projeto “mês do graffiti”, que mostrou que esta é uma arte que também se aprende na escola e não apenas nas ruas. E para falar um pouco mais sobre o tema, além trazer um pouco sobre o atual cenário do grafite, conversamos com o professor Carlos César, o “Cacé”, que está na área há mais de 20 anos.
A vida no grafitti e a aprendizagem além das ruas
Pode-se dizer que existe um certo preconceito quando falamos sobre grafitar, pois muitos ainda acreditam que esta é uma arte que se aprende exclusivamente na rua. Contudo, como a própria vivência do Cacé nos mostra, não podemos considerar apenas o que aprendemos externa ou internamente.
Ele nos conta que começou novo, com apenas 14 anos, e como muitos que iniciam no graffiti: com pichações, em sua maioria ilegais. Só que, como ele sempre gostou muito de artes, ele buscou formações que complementassem aquilo que ele já havia aprendido ou desenvolvido até aquele momento.
Ele seguiu na área criativa, se formou em design digital e chegou até a trabalhar no marketing de um grande banco. Contudo, as limitações que ele sentia lá fizeram com que ele voltasse as origens, buscando algo mais livre e até mais próximo daquilo que ele fez quando teve seu primeiro contato com a arte, através do graffiti.
Após tentar dar vida a alguns projetos, ele se tornou professor na ABRA, logo depois de ele fazer um curso na escola. Além disso, ele também ministra aulas particulares em Santa Catarina, onde reside.
Cacé fez questão de nos explicar sua trajetória justamente para mostrar que, na prática, independentemente do caminho que você siga nas artes e principalmente no graffiti, você precisa se atualizar, especializar e aprender novas técnicas.
Grafitti e o preconceito que infelizmente ainda existe com o aprendizado em sala
O graffiti faz parte do movimento hip hop e é essencialmente um movimento das ruas. E isso faz com que muitos daqueles que lidam com esta arte vejam com certo preconceito esse aprendizado em sala de aula. Só que, como Cacé ressalta, falamos de coisas complementares e não excludentes.
Ou seja, você aprender novas técnicas no mundo acadêmico apenas fará com que sua arte fique melhor e não vai prejudicá-la. Isso porque, mesmo que para um artista deste segmento a vivência nas ruas seja fundamental, os fundamentos, técnicas, entre outras coisas, você só conseguirá aprender em sala de aula.
E ainda existe um preconceito maior para quem faz o caminho inverso. Ou seja, aquela pessoa que aprende primeiro os fundamentos e depois vai para as ruas aprender sobre a cultura hip hop e o grafitti na prática. No entanto, como Cacé nos explica, como o meio é muito unido, se a pessoa “souber chegar”, ele será abraçado pela comunidade, que se trata como uma grande família.
O impacto das IAs na arte
Um dos temas que falamos regularmente em nossos blogs são as transformações digitais, especialmente aquelas causadas pela IA. Cacé, como alguém que vive da arte, falou um pouco sobre sua visão sobre isso, tanto no graffiti como nas artes em geral.
Ele acredita que todas as tecnologias são muito bem-vindas, desde que utilizadas da forma adequada. Este uso seria como um apoio, para a busca de referências, para pesquisa, entre outros.
E o professor acredita que não importa o quanto as IAs evoluam, elas nunca vão superar a criatividade, sentimento e originalidade humana. Isso porque, não importa
o quanto a tecnologia avance, ela nunca criará nada do zero, apenas irá pegar aquilo que já está disponível e fazer algo em cima daquilo.
Entretanto, o grande problema que Cacé enxerga no uso da inteligência artificial é o desrespeito aos direitos autorais de obras, já que para calibrar estas IAs, diversos materiais e artes disponíveis na internet são usados indiscriminadamente e sem reconhecimento e valorização de quem os criou.
Junto a isso, um dos grandes receios quanto a esse avanço da IA para Cacé é que em algum momento se perca a noção e o controle do que é verdade e do que é inventado. Até porque já temos casos de manipulação de imagens, de vozes e até mesmo de vídeos.
Cenário atual e perspectivas futuras
Aproveitando que estamos no mês da mulher, Cacé comentou um pouco sobre o cenário delas no graffiti. Ele nos contou que a situação já está muito melhor do que antes, mas infelizmente ainda existe muito preconceito com a atuação delas nesta área.
Já em um panorama mais geral, ele nos explica que, apesar de ser um cenário muito mais reconhecido hoje, ainda é muito difícil acompanhar novidades relacionadas ao graffiti. Isso chega ao ponto dele próprio, às vezes, não saber de eventos que estão acontecendo. Até porque a grande mídia ainda não dá a atenção devida para este ramo da arte.
Inclusive um dos principais objetivos deste projeto “mês do graffiti” é justamente o de poder disseminar esta arte para o maior número de pessoas. Com isso, Cacé também espera que ele siga fortalecendo o movimento ano a ano, assim como melhorar sua divulgação e reconhecimento.
Já para o futuro Cacé acredita que seguiremos vendo a evolução da arte de grafitar, com ela cada vez ganhando mais popularidade. Contudo, ainda devemos ter alguns problemas relacionados a questões políticas, pois estas muitas vezes prejudicam o investimento na cultura como ele deveria ser.
E uma coisa que ele faz questão de ressaltar é que a essência do graffiti (de ser algo questionador e buscar mostrar através da arte diversos problemas de nossa sociedade) não deverá mudar. Mesmo com todos os problemas que quem trabalha com isso ainda enfrenta no país, o Brasil segue sendo uma referência mundial neste segmento, com cada vez mais artistas fazendo carreira no exterior.
O projeto “Mês do Grafitti: da escola para rua” da ABRA
A idealização do projeto nasceu da mesma forma que diversos outros projetos que temos na ABRA ao longo do ano: acreditar na transformação através da arte. E neste caso específico, através do graffiti, como o próprio Cacé comentou. Afinal, a arte foi transformadora na vida dele, que não imaginava poder viver dela atualmente, como faz atualmente.
Durante o último mês de março, o projeto apresentou o graffiti para as pessoas através de palestras e videoaulas, e também oferecendo cursos relacionados com preços acessíveis.
Já a escolha pelo mês de março é por conta de o dia 27 ser o “Dia Nacional do Grafite”. A homenagem é a Alex Vallauri, considerado o precursor desta arte no Brasil, sendo esta a data de seu falecimento. Ele inclusive chegou a participar de quatro Bienais de São Paulo.
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