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O final do mês de outubro marca a chegada do dia das bruxas. Apesar de aqui ele ter sido renomeado como “dia do saci”, muitos ainda o conhecem tanto pelo primeiro, como por Halloween. Só que ao invés de neste artigo falar sobre personagens fictícios, vamos falar de uma das “bruxas” mais famosas da história: Joana D’Arc. 

Além disso, mostraremos algumas retratações que fizeram sobre ela ao longo da história. 

A infância religiosa e as visões de Joana D’Arc

Primeiramente precisamos deixar claro que ela realmente existiu e que de fato ela teve participação importantíssima na Guerra dos Cem Anos. Dito isso, temos muitas informações conflitantes ou imprecisas sobre Joana D’Arc. Por exemplo, ninguém sabe sua data exata de nascimento, apenas que foi em 1412, por conta da data de sua morte. 

Sabe-se também que ela nasceu em Domrémy, vila no nordeste da França. Atualmente, a vila onde ela nasceu se chama Domrémy-la-Pucelle, pois pucelle significa “donzela” e uma das formas como ela era chamada era “Donzela de Orleans”.  

A França e consequentemente os camponeses sofriam com os constantes ataques e a vila onde ela vivia não era exceção. Inclusive lá foi alvo de ataque pelos borguinhões (ducado francês, mas aliado dos ingleses). Todo esse contexto e a criação religiosa que ela teve na infância, influenciam diretamente na criação da lenda de Joana D’Arc.

O motivo? Desde os 13 anos ela dizia ter visões e ouvir vozes divinas, mais precisamente do Arcanjo Miguel, da Santa Catarina de Alexandria e da Santa Margarida de Antioquia. Segundo ela, havia a orientação para tomar parte na guerra, de forma a permitir a coroação de Carlos VII.  

Aparição de São Miguel Arcanjo e de Santa Catarina de Alexandria à jovem Joana D’Arc, de Hermann Stilke

Isso fez com que Joana D’Arc aos 16 anos pedisse que a levassem para Vaucouleurs, local onde existia uma guarnição francesa liderada por Robert de Baudricourt. Após recusas de seu líder para levá-la, ela consegue com apoio popular que ele a levasse a Chinon, para encontrar o futuro rei. 

Aqui entram as primeiras dúvidas dos historiadores, pois alguns questionam o fato de como ela conseguiu uma reunião privativa com ele, assim como tudo que ela requisitou.  

A guerra e bruxaria

O fato é que ela acabou recebendo o comando de tropas, mas entra a segunda dúvida: sobre qual foi a participação dela no campo de batalha. Isso porque muitos acreditam que ela não esteve na linha de frente da batalha, mas sim atuando como estrategista de guerra e na preparação das tropas. 

Contudo, a importância dela é inquestionável, pois ela conseguiu reverter uma série de derrotas francesas contra os ingleses através de diversas vitórias. A primeira foi em Orleans, que é tida junto com a de Reims como suas maiores vitórias, em 1929. Posteriormente, esperava-se a tentativa da tomada da Normandia ou Paris pelos ingleses, mas Joana D’Arc surpreendeu levando as tropas para retomar Rouen. 

Até chegar lá foram diversas batalhas bem-sucedidas: batalha de Jargeau, de Meung-sur-Loire, de Beaugency e Patay. No entanto, esta última já acontecia antes de sua chegada, mas ainda sim muitos creditam a ela a vitória. Finalmente ela conseguiu levar ele até Reims, onde ele foi coroado, com sua presença em local de honra. 

Joana D’Arc na coroação de Carlos VII, de Ingres

Contudo, ela acabou sofrendo derrotas como a do cerco de Paris, em que acabou ferida. Posteriormente, em 1930, enquanto tentava libertar a cidade de Compiègne, controlado pelos Borguinhões, ela acabou presa, no dia 23 de maio. 

Neste momento a levaram para o castelo de Beaulieu-lès-Fontaines, onde entre os dias 27 e 28 o próprio Duque de Borgonha, Filipe III a entrevistou. Já como propriedade do duque de Luxemburgo, ela ficou o verão todo presa no Castelo de Beaurevoir, até que fossem concluídas as negociações de sua venda para os ingleses.  

Uma curiosidade que vale destacar sobre isso: as derrotas que ela sofreu, foram em eventos que foram além do que as indicações divinas haviam passado originalmente (ajudar na coroação de Carlos VII). 

Fogueira e canonização de Joana D’Arc

Após sua venda, ela segue para Rouen e tem início seu processo em 1941. Chefiado pelo bispo de Beauvais, Pierre Cauchon, tivemos 10 sessões sem a presença de Joana D’Arc, apenas com apresentação de provas, para que se chegassem as acusações de heresia e assassinato.  

Joana D’Arc sendo interrogada na prisão, de Paul Delaroche

A partir do momento em que é ouvida, a questionam sobre as vozes que ouvia, sobre os trajes masculinos, entre outras acusações. Foram 70 ao todo, mas que se resumiram a 12 no processo final que a condenou por heresia e bruxaria, já que entre outras coisas alegavam que as vozes eram vozes do demônio. 

Em 30 de maio de 1431, após se confessar e receber os sacramentos da comunhão, a queimaram viva e seus restos jogados no rio Sena, para que não se tornassem objetos de veneração.  

Joana D’Arc sendo queimada viva, de Jules Eugène Lenepveu

Apesar de ter sido fundamental na sua coroação, o rei Carlos VII nada fez para tentar impedir sua execução. Contudo, como estar associado a uma “bruxa” poderia prejudicar sua imagem, ele iniciou junto ao papa Calisto III a anulação da condenação de Joana d’Arc. Este aconteceu em 1456, quando a guerra já havia terminado. 

Ela passou a ser uma espécie de figura semi lendária na França nos séculos seguintes, passando a ser vista como uma heroína e até mesmo usada por Napoleão, que a declarou símbolo oficial da França. 

A mudança veio em 1909, quando ela foi beatificada; em 1920, veio a canonização, feita pelo Papa Bento XV. O motivo da santificação de Joana D’Arc foi o martírio pela qual ela passou na fogueira. Ela passou a ser a padroeira da França, com o dia 30 de maio sendo dedicado a ela. 

Curiosidades sobre as pinturas de Joana D’Arc

Ao longo do artigo nós trouxemos diversas pinturas mostrando as passagens da vida de Joana D’Arc. No entanto, elas trazem um elemento de romantização que não condiz com a realidade, especialmente no período em que ela esteve no exército. 

Por exemplo: durante todo o seu período e até mesmo quando esteve presa, ela usou roupas masculinas, inclusive uma armadura. Além disso, Joana mantinha os cabelos curtos, diferentes de suas imagens de cabelos longos.  

Talvez uma das mais próximas da realidade seja a estátua de Joana D’Arc de Emmanuel Fremiet, que traz ela com uma armadura completa (e sem saias), ainda que a mostre de cabelo longo. Lembrando que entre as acusações da santa inquisição, as vestimentas masculinas também estavam presentes. 

Joana D’Arc é até hoje uma das mulheres mais retratadas do mundo, com cerca de 20 mil estátuas públicas, 800 biografias históricas, 52 filmes, além de centenas de peças, pinturas, músicas e óperas. 

 

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