No dia 7 de setembro, para além do Dia da Independência, também foi comemorado o seu bicentenário. Pensando neste dia, desde 2019 tivemos a reforma do Museu do Ipiranga (que estava fechado desde 2013), que é um dos principais símbolos da data. Pois agora, quase 10 anos depois, ele voltará a ficar aberto para o público, com muitas novidades.
Anteriormente, destacamos alguns dos principais artistas que têm obras presentes no Museu do Ipiranga. Agora mostraremos algumas das pinturas mais importantes que vocês podem encontrar no imenso acervo com mais de 450 mil peças.
Reformas no Museu do Ipiranga
As reformas feitas no museu, foram necessárias pelo péssimo estado de conservação que o mesmo se encontrava, mas ele não foi o único a precisar de intervenções. Isso porque diversas pinturas do museu também precisaram passar por restaurações.
Destas, um total de nove obras do Salão Nobre foram para o restauro, sendo elas:
- Príncipe Regente Dom Pedro e Jorge de Avilez a Bordo da Fragata União (1922), de Oscar Pereira da Silva;
- Retrato de José Bonifácio de Andrada e Silva (1922), de Oscar Pereira da Silva;
- Retrato de Dona Leopoldina de Habsburgo e seus filhos (1921), de Domenico Failutti;
- Retrato de Joaquim Gonçalves Ledo (1925), de Oscar Pereira da Silva;
- Retrato de D. Pedro I (1925), de Oscar Pereira da Silva;
- Retrato de José Clemente Pereira (1925), de Oscar Pereira da Silva;
- Retrato de Maria Quitéria de Jesus Medeiros (1920), de Domenico Failutti;
- Retrato do Padre Diogo Antônio Feijó (1925), de Oscar Pereira da Silva;
- Sessão das Cortes de Lisboa (1922), de Oscar Pereira da Silva.
Segundo o museu, o trabalho contará com uma equipe de 10 profissionais. Já sobre a operação, ela incluirá procedimentos como remoção de verniz, sujeira, preenchimento de perfurações, planificação, renovação de molduras, retoques, e, por fim, aplicação de vernizes de proteção.
Além deles, o mais famoso quadro do museu, Independência ou morte, de Pedro Américo, também passou por um restauro, mas feito dentro do próprio museu. E será justamente por ele que começaremos a falar das principais obras que estão presentes lá.
Independência ou Morte (1888) – Pedro Américo
Começamos justamente com o quadro que é praticamente o símbolo do Museu do Ipiranga. E vamos destacar primeiro os restauros feitos nesta obra, pois ao contrário das demais, ela ficou no Museu do Ipiranga neste período. O motivo foi que, pelo impressionante tamanho (4,15m de altura e 7,60m de comprimento), movê-lo poderia prejudicar a pintura.
Quem explicou em entrevista para o Metrópoles o que fizeram na obra, foi Yara Petrella, restauradora do Museu do Ipiranga que comandou a operação. Apesar de alguns ornamentos perdidos, ela explica que a moldura está em bom estado, com a madeira sem empanamento ou torção. Contudo, como eles não sabem a forma que o fixaram ali, optaram por não tirar ele dali.
Sobre a pintura, ela detalhou qual foi o foco da equipe:
“A camada pictórica estava bastante alterada. Começamos fazendo uma pesquisa documental para ver o histórico de conservação desta tela, as intervenções anteriores. Utilizamos fotografias com luz ultravioleta, que é fotografar a tela em sala escura com a luz ultravioleta. O resultado identifica as intervenções que ocorreram na camada pictórica, na tinta”.
Sendo assim, eles cuidaram de limpar as intervenções anteriores e reavivar as cores presentes na obra, especialmente no céu.
Contexto da criação do painel presente no Museu do Ipiranga
O pedido para Pedro Américo foi feito ainda em 1886, pelo conselheiro imperial Joaquim Inácio Ramalho, então presidente da Comissão do Monumento do Ipiranga. Em contrato ele teria três anos para pintar a obra, com a temática de Dom Pedro I proclamando a independência nos campos do Ipiranga.
O artista fez minuciosas pesquisas da época, incluindo trajes, testemunhas do momento e estudando o movimento pela independência. No entanto, a obra não foi exposta pela primeira vez aqui. Sua estreia foi em 8 de abril de 1888, na Academia de Belas Artes de Florença.
Após três meses, ela foi entregue ao governo paulista, mas apenas em 1895, na abertura do Museu do Ipiranga, que os brasileiros a viram pela primeira vez. Apesar de seu sucesso, a obra é considerada controversa pela imagem idealizada do momento. Alguns inclusive acusam ele de plágio com obras de outros artistas que retratavam momentos semelhantes na Europa.
Porém nada disso impediu que ela se tornasse uma referência na representação deste momento histórico, inclusive em livros didáticos.
Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 (1900) – Oscar Pereira da Silva
Falamos de outra obra que precisou passar por restauro, mas esta foi retirada do local onde estava. Ela também conta com um tamanho impressionante 3,73m de largura e 2,31m de altura. Ao contrário do quadro Independência ou Morte, essa precisou de reparos também na moldura, que segundo Yara, estava bastante danificada.
Ela também explicou outras coisas feitas na pintura:
“Foi retirada a retelagem antiga, na qual foi utilizado um adesivo de cera de abelha. A tela foi toda limpa, retiradas as intervenções anteriores, todo o verniz, as sujidades. Ela ficou realmente muito bonita com as cores originais, livre de toda intervenção passada. Foi montada num novo chassi e a moldura acabou totalmente restaurada, porque havia muitos danos”.
Já sobre a obra, ela não foi feita sob encomenda do Museu do Ipiranga, mas sim comprada por ele. Isso ocorreu dois anos após sua primeira exposição, que ocorreu em 1900. Ela retrata a chegada de Pedro Álvares Cabral onde atualmente está Porto Seguro e tornou-se referência da chegada dos portugueses aqui, inclusive também retratada em livros didáticos.
Um fato curioso é que ela ficou um tempo exposta na Pinacoteca. Primeiramente o transferiram para lá em 1905 e depois ele retornou ao Museu do Ipiranga em 1929, onde está até hoje.
Inundação da Várzea do Carmo (1892) – Benedito Calixto
A obra de Benedito Calixto traz um contexto diferente das demais, pois nela o que vemos é uma representação da cidade de São Paulo. Esta também não foi feita para o Museu, mas sim, comprada pelo governo da época em 1893.
Sua importância o tornou um documento iconográfico da cidade. A explicação é que Calixto sempre buscou retratar com maior realismo possível as paisagens que pintava, tanto que muitas de suas obras foram feitas a partir de fotografias.
No caso da Inundação da Várzea do Carmo, acredita-se que ele tenha feito a pintura a partir de uma visão do Pátio do Colégio, retratando a São Paulo do século XIX antes da modernização por conta do comércio de café.
Suas grandes proporções (1,25 m de altura por 4 metros de largura), nos apresenta com riqueza de detalhes como era a cidade na época. Entre alguns destaques, temos a região onde fica a 25 de março ao centro, a construção onde fica o Mercado Municipal de São Paulo e ao fundo, uma vista panorâmica do Brás, depois do rio Tamanduateí.
Retrato de Maria Quitéria de Jesus Medeiros (1920) – Domenico Failutti
Esta foi uma obra encomendada pelo diretor do Museu Paulista, Afonso d’Escragnolle Taunay, no centenário da Independência do Brasil. O contexto para a escolha da imagem foi bastante curioso, pois ele se baseou em registros feitos por Maria Graham. Ela lançou o livro “Diário de uma viagem ao Brasil” com uma gravura de Augustus Earle, na qual a pintura é inspirada.
Na época, Taunay atribuía a esses relatos de europeus que estiveram aqui, uma verdade documental. Ou seja, ao produzir obras inspiradas nelas, também estas seriam documentos históricos. Contudo, não era apenas este o motivo para se escolher a figura de Maria Quitéria para decorar o Salão de Honra do Museu Ipiranga.
Esta obra, que tem o tamanho de 2,33 metros de altura por 1,33 metros de largura (e que foi outra que passou por restauro), está junto de outra com uma mulher em destaque: o Retrato de Dona Leopoldina de Habsburgo e seus filhos. Com isso ele queria criar um paralelo entre as duas pinturas em relação à formação nacional brasileira.
Sendo assim, teríamos representados distintos lugares a serem ocupados pelas mulheres no imaginário nacional. Por um lado, a guerreira e, por outro, a figura materna. A obra traz uma paisagem de fundo idealizada, mas que remete ao recôncavo baiano, local onde Maria Quitéria participou dos combates.
Falando sobre a representação dela, temos a farda típica do Batalhão dos Periquitos, que ganhou esse apelido devido à cor amarela nos punhos e na gola do uniforme azulado. Por fim, um detalhe que chama atenção é a insígnia de Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro, distinção oferecida por Dom Pedro I àqueles que se notabilizaram no processo de Independência do Brasil.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA