No mundo das artes, sempre que se fala de casais de artistas emblemáticos, os primeiros a serem lembrados são Frida Kahlo e Diego Rivera. Isso se deve à relação conturbada entre os dois, marcada por idas e vindas, e principalmente pelas muitas retratações feitas, que destacam a importância histórica do casal.
Contudo, temos outros grandes nomes da história das artes que também tiveram relacionamentos entre si. Em alguns casos, esses relacionamentos foram positivos, mas em outros, extremamente tóxicos. E neste mês dos namorados no Brasil, vamos destacar alguns dos principais casais de artistas da história.
1 – Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade
Inicialmente, vamos falar de um casal bastante conhecido pelos brasileiros. Tarsila foi uma mulher muito à frente de seu tempo e não mantinha relacionamentos apenas pela questão de status, tanto que Oswald foi seu segundo relacionamento, após ela se separar do fazendeiro André Teixeira Pinto, primo de sua mãe.
Eles inicialmente mantinham um relacionamento discreto, usando até mesmo pseudônimos em cartas trocadas enquanto Tarsila estava em Paris. Isso só mudou quando ela conseguiu a anulação de seu primeiro casamento.
Essa relação foi muito além da parte amorosa, tendo importância fundamental no modernismo brasileiro.
Isso porque essa parceria rendeu trocas de ideias que resultaram no “manifesto antropofágico”, publicado por Oswald em 1928, mesmo ano em que Tarsila pintou o quadro “Abaporu”, que deu de presente ao marido.
Abaporu – feito por Tarsila e um presente para Oswald
O relacionamento teve fim após a traição de Oswald de Andrade com Pagu, pseudônimo da jornalista e poeta Patrícia Rehder Galvão, em 1930.
Françoise Gilot E Pablo Picasso
Picasso ficou conhecido não só por sua genialidade artística, mas também por sua vida amorosa bastante movimentada (que atualmente passa por um revisionismo, por conta do comportamento abusivo e misógino do artista em relação às suas parceiras).
E o caso dele com Gilot é particularmente marcante, pois ela foi a única mulher a abandonar Picasso. Ela tinha 21 anos e ele 61 quando começaram a se relacionar, com uma diferença de idade de 40 anos entre eles.
O próprio começo da relação foi, no mínimo, absurdo, pois em um de seus primeiros encontros ele disse a ela:
“Garotas que se parecem com você nunca poderiam ser pintoras”
Eles ficaram juntos por 10 anos, mesmo com ele ainda casado com Olga Khokhlova, uma bailarina russa. E do relacionamento com a pintora, nasceram dois filhos.
Além de mãe de seus filhos, ela também se tornou sua assistente e aprendiz. O relacionamento, no entanto, estava longe de ser saudável para ela. Eles viviam em brigas constantes, que chegaram até mesmo ao confronto físico.
O fim e a volta por cima de Gilot
Quando ela decidiu deixá-lo, contou no livro “Artists in Conversation” que:
“Pablo [Picasso] foi o maior amor da minha vida, mas tive que tomar medidas para me proteger. Eu fiz isso. Saí antes que me destruísse.”
Só que mesmo assim, Picasso tentou destruí-la, pelo menos no que se refere a sua carreira, tanto que no fim da relação, ele disse a ela:
“Você acha que alguém vai se interessar por você? Eles nunca se interessarão apenas por você. Mesmo as pessoas que você acha que te apreciem, terão apenas uma espécie de curiosidade para uma pessoa cuja vida tocou a minha tão intimamente.”
E, de fato, ela teve problemas, pois, na Europa, Picasso fez de tudo para fechar as portas das galerias para ela. Para fugir da zona de influência dele, ela mudou-se para os EUA, onde conseguiu prosperar.
Até para se desvencilhar de comparações, Françoise Gilot desenvolveu um estilo próprio, mais orgânico e menos angular que o de Picasso. Além disso, cultivou o autorretrato, a natureza morta e as paisagens.
Além de pintora, ela também se destacou por ter lançado diversos livros, mais de 30, com destaque para o de 1964, “A minha vida com Picasso”, em que ela traz relatos sobre a parte artística dele, mas também sobre o comportamento abusivo dele com ela.
Entre alguns dos terríveis relatos, ela conta ele que a proibiu de pintar ou ser modelo de outros artistas e chegava até mesmo a mantê-la trancada em casa. Paralelamente, neste mesmo período, ela era sua musa, sendo retratada em “A Mulher Flor”.
Gabriele Münter e Wassily Kandinsky
Este foi um relacionamento que certamente impactou muito a carreira de ambos os artistas. Quando eles se conheceram em 1902, ambos viviam uma fase de transição que culminaria no abstracionismo.
Gabriele Münter, uma artista da vertente expressionista, apresentou ao pintor a técnica de pintura em vidro e contribuiu com importantes reflexões acerca da arte. Ele, por sua vez, foi o primeiro professor a realmente levar a sério as habilidades de pintura dela, sendo fundamental para seu desenvolvimento artístico.
Podemos observar, por exemplo, que Gabriele começou a desenvolver um estilo abstrato próprio, caracterizado por cores brilhantes não misturadas, formas fortes e tudo delineado por linhas de separação escuras.
Kandinsky, por sua vez, começou a experimentar mais com cores e formas abstratas. Ele estava particularmente interessado na ideia de sinestesia, a interação dos sentidos, e isso se refletiu em seu trabalho.
Inclusive, os dois foram importantíssimos na criação do grupo Cavaleiro Azul (Der Blaue Reiter). Infelizmente, o relacionamento deles também terminou de forma conturbada, com ele indo para a Rússia e praticamente cortando contato com ela. Anos mais tarde, ela descobriu que ele havia se casado novamente, fazendo com que ela passasse por um longo período de depressão até se reerguer.
Apesar disso, ela ainda foi importantíssima para a preservação do legado do pintor, assim como de outros membros do grupo Cavaleiro Azul.
Isso porque, durante a Segunda Guerra Mundial, Gabriele escondeu mais de 80 obras de Kandinsky e de outros membros do Blaue Reiter, além de obras próprias, salvando-as da destruição. Posteriormente, essas pinturas foram doadas por ela à cidade de Munique em 1957, onde agora são exibidas na Lenbachhaus.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA