O mês de setembro marca a chegada da primavera, que em 2022 será no dia 22. Essa é talvez uma das estações do ano que mais são lembradas em obras de artistas ao longo da história. O motivo não é difícil de entender, pois afinal é quando temos o desabrochar da natureza. Mas dentre as inúmeras representações que temos deste tema, a de Giuseppe Arcimboldo é uma das mais inovadoras.
Isso porque na verdade falamos de uma série de quatro pinturas, chamadas “Quatro Estações”, em que ele personifica cada uma delas como figuras humanas.
Giuseppe Arcimboldo: início da carreira
Para chegar ao conjunto de quadros que são uma de suas obras-primas, Giuseppe Arcimboldo seguiu um caminho um pouco diferente do que víamos na época. Ele nasceu em 1527 (data incerta) em Milão, uma região tida como o berço do naturalismo, um modo de expressão artística baseada na observação direta da natureza.
Essa relação com a natureza acompanharia Arcimboldo ao longo da carreira, mas inicialmente ele seguiu os passos do pai na Itália. Biagio Arcimboldo era desenhista de tapeçarias, pintor de vitrais e afrescos nas catedrais locais, sendo este o início nas artes de Giuseppe. Vale ressaltar que não se sabe também sobre sua infância.
A corte de Praga e a consolidação de seu estilo
A mudança na sua carreira veio apenas aos 36 anos, quando foi embora da Itália, rumo a Praga (atual República Checa). Lá ele foi trabalhar na corte dos Habsburgos e acabou por se tornar um dos pintores favoritos da corte. Dessa forma, ele trabalhou para eles sucessivamente com os imperadores Fernando I, Maximiliano II e Rodolfo II.
Pois foi justamente para Maximiliano II que ele fez a série de obras Quatro Estações. Só que não foi a única, já que tivemos também a Quatro Elementos. Giuseppe Arcimboldo faz parte do Maneirismo, em que o aspecto espiritual na arte é recorrente. No entanto, diferente de outros nomes do estilo, ele não estava relacionado à religiosidade.
Pelo fato de a corte de Praga ser independente da Igreja Romana, havia convivência pacífica entre diversas religiões. Sendo assim, tínhamos judeus, cristãos e até ocultistas, mesmo com a corte sendo católica.
Isso trouxe liberdade criativa para Giuseppe, que costumava criar paisagens antropomorfas, em que colocava corpos e faces humanas, que eram sugeridos pela representação dos relevos, das árvores, das pedras, e de outros elementos de uma paisagem.
Giuseppe Arcimboldo e as Quatro Estações
Durante o reinado de Maximiliano II, sua corte contou com um verdadeiro centro científico. Ele era interessado nos mais variados tipos de descobertas (motivadas também pela exploração do chamado “novo mundo”), então tínhamos ali cientistas e filósofos de toda a Europa.
Este foi um cenário favorável para Giuseppe Arcimboldo desenvolver suas obras, pois ali ele teve contato com diversas plantas, animais e outros elementos que não eram comuns a ele. Então em 1569 ele ofereceu o conjunto de obras chamado Quatro Estações para Maximiliano II como presente de Ano Novo. Juntamente com ele, também teve o conjunto Quatro Elementos, sendo todos eles feitos em óleo sobre tela.
Além deles, o conjunto foi acompanhado por um poema de Giovanni Battista Fonteo, que explicava seu significado alegórico. Falando especificamente do conjunto Quatro Estações, tratam-se de quatro figuras humanas, representadas pelos mais variados elementos que simbolizam cada uma das estações do ano. Vamos a seguir falar sobre cada um deles separadamente:
Primavera
Começando com a estação do ano que está entrando, temos uma mulher olhando para a esquerda em que sua roupa é toda composta de folhagens de um verde intenso. Já seu rosto e cabelo são compostos por flores de diversos tipos.
Alguns elementos que merecem destaque são os lábios, em que ele se utiliza de dois botões de rosa para fazê-lo. Já os olhos são compostos por bagas de beladona e os cabelos são um buquê de flores. Por fim, vale citar o colar de margaridas.
Verão
Apesar de termos novamente uma mulher sendo caracterizada, as semelhanças entre as obras param por aí. Agora, ela está virada para a direita e ao invés de flores, temos frutas e legumes sendo usados para fazer seu rosto. Para começar, podemos destacar as cerejas representando seus lábios e olho, assim como o pepino sendo seu nariz e um pêssego, sua bochecha.
Temos diversas outras frutas e umas poucas folhas compondo o que indica ser um chapéu e até mesmo alhos representando o cabelo caindo pelos lados. Contudo, a parte interessante é sua roupa feita de palha de trigo. Isso porque podemos ver na gola, a assinatura de Giuseppe Arcimboldo e no ombro, o ano que ela foi feita: 1573 (explicaremos essa data mais à frente).
Outono
Temos desta vez um homem com barba sendo representado e novamente olhando para a esquerda. Desta vez, o tronco da pessoa foi feito com diversas ripas de madeira, terminando em um pescoço com peras e algumas outras frutas e legumes. Ele possui o cabelo todo formado por cachos de uvas verdes, roxas e rubis, além de uma orelha feita de cogumelo e com um brinco de figo.
Seu rosto é composto por peras, maçãs, além da romã em seu queixo. Arcimboldo utilizou trigo para fazer o cavanhaque, além de castanhas que formam seus lábios.
Inverno
Finalmente chegamos ao último dos quadros, que novamente é de um homem, mas que aparenta ser de bastante idade. Seu corpo e rosto são formados por um tronco cheio de escoriações e inchaços, representando suas rugas. A orelha é formada por um toco quebrado do que foi um galho e vemos diversos galhos menores na sua cabeça, representando os cabelos ralos.
Contudo, atrás, temos algumas pequenas folhas, como se ali fossem aqueles cabelos que sobraram de uma pessoa calva. Além disso, temos cogumelos formando sua boca, uma fenda seus olhos, outro toco no seu nariz e raízes na sua barba. Um fato interessante é que a presença de frutas limita-se a um limão e uma laranja, pois os cítricos são os únicos a dar frutos no inverno italiano.
Quatro estações: vários conjuntos, muitos incompletos
O ostracismo em que caiu Giuseppe Arcimboldo após sua morte em 1593, também afetou suas obras. Por conta disso, não temos mais o “outono” do conjunto original. As três que sobraram, estão separadas, sendo o inverno e o verão no Museu Kunsthistorisches em Viena e a primavera em Real Academia de San Fernando, em Madri.
versão do Museu do Louvre
Enquanto isso, o Museu do Louvre possui um conjunto completo, mas de cópias que o próprio Arcimboldo fez para que Maximiliano II desse a Augusto da Saxônia. Elas contam com algumas diferenças entre as pinturas, sendo a principal a moldura floral, que não estava no original. Há ainda um conjunto de 1573 (aquele do outono), feito para o rei Felipe II, da Espanha.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA