Até para quem não acompanha o universo do automobilismo ou automotivo, é praticamente impossível não conhecer ou ter ouvido falar da Ferrari. Trata-se de um símbolo de velocidade e de carros esportivos que conquistou fãs e até seguidores (neste caso, graças a equipe de Fórmula 1).
Pensando nisso, resolvemos falar um pouco sobre como ela se tornou um fenômeno, além de falar também do design característico da marca, que se tornou um sinônimo de carros esporte.
Enzo Ferrari: o homem por trás de tudo
Recentemente, tivemos o lançamento do filme “Ferrari”, que conta a trajetória do fundador da marca.
Enzo Ferrari, nascido em 1898, se apaixonou pelo automobilismo com apenas 10 anos, quando assistiu a uma corrida no circuito de Bolonha. Após seu primeiro contato com o automobilismo, ele buscou se envolver na área, chegando até mesmo a trabalhar como mecânico quando adolescente. Contudo, ele precisou interromper sua carreira por conta da Primeira Guerra Mundial, voltando apenas em 1918, quando foi dispensado devido a uma doença.
Aqui temos um fato curioso, pois inicialmente ele chegou a tentar trabalho na FIAT (empresa que comprou a Ferrari muito tempo depois), mas foi recusado, entrando então na CMN (Costruzioni Meccaniche Nazionali), uma fabricante de automóveis em Milão, como piloto de testes.
Seu bom desempenho levou-o a estrear como piloto de corridas profissional já em 1919. Reconhecendo seu talento, a Alfa Romeo o contratou em 1920, o que influenciou diretamente sua carreira, tanto dentro quanto fora das pistas
Enzo Ferrari e Alfa Romeo: a parceria que mudaria para sempre o automobilismo
Ele ingressou no departamento de corridas da Alfa Romeo já como piloto profissional e teve uma carreira de relativo sucesso. Antes de vencer sua primeira corrida, ocorreu um evento de vital importância para a história da marca: ele conheceu a condessa Paolina Baracca.
Ela era a mãe do herói nacional Francesco Baracca e sugeriu a Enzo que usasse o símbolo de seu filho: o cavalo empinado (ou “Cavallino Rampante”). Ele passou a usá-lo em 1923, justamente o ano de sua primeira corrida.
Ele seguiu pilotando até 1931, mas já em 1925 perdeu muito de seu ímpeto, pois, neste mesmo ano, viu morrer na pista seu amigo e companheiro de equipe Antonio Ascari, além de já ter presenciado a morte de Ugo Sivocci em 1923.
Só que ainda quando piloto, no ano de 1929, surgiu a Scuderia Ferrari. Inicialmente, ela era uma equipe independente que competia com o apoio da Alfa Romeo e seguiu assim até 1933, quando a montadora deixou de ter uma equipe própria e absorveu a de Enzo.
Já como uma subdivisão de corridas da Alfa Romeo, com Enzo à frente da gestão das atividades de corrida da marca, foi uma fase muito importante para ele. Porque foi a partir deste momento que ele teve mais autonomia para trabalhar na preparação e desenvolvimento dos carros, estabelecendo uma cultura de excelência que se tornaria a espinha dorsal da Ferrari.
Por fim, em 1938, a Alfa Romeo decidiu recriar uma equipe de corrida própria, a Alfa Corse, absorvendo o que havia sido a Scuderia Ferrari. Esse período durou apenas um ano, pois já em 1939 Enzo deixou a montadora para fundar sua própria empresa, a Auto Avio Costruzioni
A fase de transição: de “Auto Avio Costruzioni” até tornar-se Ferrari S.p.A.
Por conta de um acordo com a Alfa Romeo, Enzo não poderia usar o nome Ferrari por quatro anos. Entretanto, devido à Segunda Guerra Mundial, esse período se estendeu até 1947, quando finalmente ele reassumiu o nome “Ferrari” e pôde lançar finalmente seu primeiro carro, o 125 S, com um motor V12 de 1500 cc.
Durante a Segunda Guerra, a Auto Avio, como muitas fábricas automotivas da época, produzia peças para uso em combate, incluindo acessórios para aviões e peças para máquinas.
Um ano depois, em 1948, a Ferrari estreou na área de carros de passeio (já que o 125 S era voltado para corridas) com o modelo Ferrari 166 Inter, que era uma adaptação de outro modelo de corrida, o 166 S.
A entrada na Fórmula 1 e como isso ajudou a consolidar a marca como referência entre os carros esportivos
Sua entrada em corridas se deu ainda em 1947, quando disputou o Grande Prêmio de Piacenza. Apesar de um bom desempenho, o carro ficou pelo caminho. E ele pôde mostrar o quanto era promissor na corrida seguinte que disputou em Roma. Também realizada em 47, foi a primeira vitória da equipe e com o modelo 125 S.
Até sua estreia oficial na Fórmula 1, em 1951, a Ferrari forneceu peças e até mesmo carros (sendo o primeiro o 125 F1, já adaptado para a competição) para outras equipes.
Ao estrear, Enzo reencontrou uma velha conhecida: a Alfa Romeo, que seria campeã com Fangio naquele ano. Entretanto, Alberto Ascari (filho de seu amigo e ex-companheiro Antonio Ascari), já mostrava potencial, terminando como vice.
A sequência trouxe o bicampeonato de Ascari em 52 e 53 e na década de 50 ainda tivemos outros dois títulos da Scuderia, em 56 e 58. Esse prestígio conquistado na Fórmula 1, serviu para tornar a marca uma referência em carros esportivos, algo que foi fundamental para sua atuação no setor de automóveis de passeio.
O sucesso dos esportivos de luxo de passeio em paralelo ao sucesso nas corridas
A Ferrari lançava modelos de carro em paralelo aqueles que utilizava em suas corridas. Por exemplo, depois do 166 Inter, vieram:
- 1950-51 – Ferrari 195 Inter;
- 1951-52 – Ferrari 212 Inter;
- 1952-64 – Ferrari 250.
Um dos modelos, o 250 GTO tornou-se icônico e objeto de desejo por conta de seu excelente desempenho esportivo como, por exemplo, vitórias em Le Mans e Targa Florio. Inclusive, é sempre posto em lista dos mais importantes da montadora pelas inovações, como ser um dos primeiros a atingir a impressionante velocidade máxima de 280 km/h.
Isso segue até hoje, com alguns carros icônicos na história da montadora como, por exemplo:
- Dino (1967) – o primeiro carro pensado para ser mais acessível ao público e leva o nome de seu filho. Era composto por um motor V6 e no decorrer de sua história recebeu inúmeras variações;
- F40 (1987) – o último carro aprovado por Enzo Ferrari, que faleceu em 1988. Comemorativo aos 40 anos da marca, ele conta com um motor com o uso do turbo (como seu antecessor, o 288 GTO), porém este chegava a 485 cv e atingia 321 km/h. Até o momento, permanece sendo um dos carros mais rápidos do mundo;
- F50 (1995) – comemorativo aos 50 anos da marca e com a grande responsabilidade de suceder ao F40. Conta com tecnologia trazida da Fórmula 1, tem um motor V12 de 4,7 litros e 520 cv;
- Enzo (2002) – feito para homenagear o fundador, ele se tornou um dos modelos mais desejados da Ferrari. O veículo possui um câmbio de carro de F1, com motor V12 de 670 cv;
- La Ferrari (2013) – um verdadeiro supercarro. Ele possui um motor V12 de 800 cv e quando funcionando junto a um elétrico gera cerca de incríveis 963 cv.
Design x desempenho: o casamento perfeito de ambos na Ferrari
Por fim, mas não menos importante, temos a questão fundamental que tornou a Ferrari esse objeto de desejo que ela é hoje: a perfeita sinergia entre o design e desempenho, que vai além do que vemos normalmente, até mesmo em relação a outros modelos esportivos.
Enzo conseguiu muito desse conhecimento e até mesmo inspiração dos tempos em que esteve na Alfa Romeo. Entretanto, a marca só se tornou essa referência graças a sua visão única, que aliava um profundo conhecimento técnico a um entendimento bastante razoável de design.
Tudo começa no desenvolvimento do motor, que precisa ir além do que já existe, tanto que o próprio Enzo tem uma frase que mostra sua visão sobre o processo de criação:
“Eu não vendo carros; eu vendo motores. Os carros eu jogo de graça, já que algo tem que segurar os motores.”
A partir daí, temos a questão da performance. A funcionalidade aerodinâmica é uma prioridade, com cada curva e linha do carro projetada para otimizar a velocidade e o manuseio. Ou seja, toda a linha de um veículo da Ferrari existe para maximizar o desempenho dos motores da marca, que “têm uma alma” segundo Enzo.
Além disso, a Ferrari é reconhecida pela sua constante busca por inovação, utilizando materiais avançados e técnicas de fabricação que não apenas melhoram o desempenho, mas também aprimoram a estética dos veículos.
A evolução do design ao longo dos anos demonstra como a marca honra sua herança, adaptando-se às novas tendências e tecnologias, sempre com uma interpretação contemporânea dos valores clássicos da Ferrari.
O design da Ferrari nos dias de hoje e como eles buscam seguir o legado de Enzo
Atualmente, o diretor de design da Ferrari é Flávio Manzoni, que traz uma visão que, apesar de algumas adaptações, se alinha muito àquela que Enzo tinha para a marca.
Ele nos traz uma fascinante explicação sobre como é seu processo criativo e como as artes impactam este momento:
“Não é fácil saber como o intelecto funciona, porque são muitas as influências durante a criação de um objeto. Depois há os requisitos técnicos, que também se têm que considerar, especialmente em superdesportivos como os Ferrari. Isso significa que boa parte da inspiração é moldada pelos aspetos técnicos do veículo, mesmo que haja sempre lugar para a dimensão artística. E é aqui que a arte, a música, a arquitetura, o design de produto… e muitos outros entram em cena.”
Ainda durante a entrevista que concedeu ao Razão Automóvel, ele conta sobre esse ambiente único que encontrou na Ferrari, que é uma relação harmoniosa entre designers e engenheiros:
“Na Ferrari o nível de sinergia é muito alto, o mais alto que experimentei. Aqui, forma-se uma vontade coletiva de chegar a um produto final com qualidade excepcional e cada desafio torna-se uma missão para todos. Do ponto de vista do designer, trabalhar com engenheiros na Ferrari não é um problema, mas uma oportunidade”.
Além de tudo o que Flávio Manzoni nos trouxe, outro ponto importante em relação à Ferrari é seu impacto na cultura pop. Isso porque ela não apenas deixou sua marca nas corridas, mas também influenciou de forma significativa a moda, a arte e o design, tornando-se um símbolo de luxo e estilo de vida sofisticado.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA