A indústria de animes hoje, para quem acompanha de fora, parece viver sua era de ouro: muitas produções, diversos lançamentos para todos os gostos, entre outros. Contudo, a realidade no Japão é muito diferente, chegando ao ponto de algumas questões, como atrasos e adiamentos, começarem a afetar até mesmo os fãs fora do país.
E neste contexto, temos produtoras e estúdios querendo usar IA em animes ou até mesmo fazendo alguns testes, o que só piora a atual crise. Considerando o atual debate global sobre inteligência artificial, vamos explorar brevemente como está o cenário dessa tecnologia em um dos mercados de animação mais importantes do mundo.
Entendendo o cenário atual da indústria de animes no Japão
Primeiramente, precisamos explicar o que acontece atualmente no país nipônico. Este problema não é novo, vale destacar, mas a situação parece se agravar a cada ano. Como é notório, a produção de animes está muito em alta, com diversas novas séries sendo feitas e anunciadas.
No entanto, esse sucesso não acompanha quem produz os animes. O que se vê são estúdios assumindo diversos trabalhos e sobrecarregando os animadores e tudo isso com uma remuneração que deixa a desejar.
Talvez um dos casos mais emblemáticos seja o do estúdio Mappa. Famoso por produções como Chaisaw Man, Vinland Saga, Jujutsu Kaisen e a Temporada final de Attack on Titan, ele é frequentemente alvo de denúncias por condições abusivas de trabalho, prazos apertados e remuneração baixa.
Recentemente, ele foi alvo destas denúncias, anunciou melhorias, mas na segunda temporada de Jujutsu, voltou a ser alvo das mesmas denúncias. Porém, vale dizer que este é um problema de diversos estúdios japoneses, que rendeu casos como o do Zom 100 ou Nier: Automata, que sofreram com diversos problemas de atraso.
Anteriormente, falamos sobre o polêmico caso do curta da Netflix em que os cenários de fundo tinham sido feitos por IA, chamado “Dog And the Boy”. O que chamou atenção foi a alegação deles era a de haver uma suposta “falta de mão de obra”.
E mais recentemente, o Wit Studio, conhecido por obras como Spy x Family, as três primeiras temporadas de Attack On Titan, o longa Bubbles, entre outros, deu declarações sobre o uso de IA que iam em linha similar à do streaming. Confira o que falou George Wada na Anime Expo 2023:
“No Production IG e no WIT, achamos que podemos colaborar com IA para fazer nosso trabalho. A indústria está sobrecarregada, então, se puder fornecer alguma ajuda para evitar que fiquemos sobrecarregados, talvez possa ajudar a mudar o ambiente de trabalho para o melhorar.”
Além disso, tivemos o caso do vídeo de divulgação de Beyblade X, em que a própria produtora usou IA para fazer o vídeo de divulgação. A polêmica aumenta, pois ela usa a arte do estúdio OLM para calibrar a inteligência artificial e ao final não se credita ninguém da produção.
O que o governo japonês está fazendo sobre o assunto?
Com tantas polêmicas envolvendo o uso de IA em animes e outros tipos de arte, o governo japonês começou a se movimentar. No meio de 2023 eles colocaram em discussão um projeto em que o uso da IA será dividido em duas partes:
- Aprendizagem – a IA pode utilizar material protegido por leis de direitos autorais, mas sob propósito educacional. Sendo assim, será permitido gerar novo conteúdo a partir daqueles já existentes, porém apenas para pesquisa e educação;
- Comercial – caso o material utilizado para a criação da arte gerada por inteligência artificial for similar ao original, o mesmo não pode ser utilizado comercialmente. E se for, o criador do trabalho original pode entrar com uma ação legal devido à violação de direitos autorais.
Ainda não há uma conclusão sobre, até porque não há consenso sobre esse uso sem consentimento, mesmo com a alegação de uso educacional. Entretanto, parece um avanço em um local onde essa situação parecia prestes a sair do controle.
Considerações finais
O cenário atual da produção de animes no Japão é bastante complexo, tanto que hoje é comum termos estúdios chineses e coreanos como apoio em muitas produções (pelos custos mais baixos). E na esteira por baratear custos, veio a questão da IA em animes por parte das produtoras.
Só que este é um cenário muito complicado para elas, pois os fãs conseguem perceber rapidamente esse uso e na sua imensa maioria, não aprovam esse tipo de produção. Junto a isso, o governo japonês, se aprovar essa regulamentação, deverá botar um freio nessa possível presença.
Isso pode marcar o início de uma possível melhoria nas condições dos animadores e, consequentemente, nas animações, reduzindo assim os casos de adiamento e produções abaixo da média devido a prazos muito apertados.
Nós da ABRA seguiremos acompanhando e torcendo para que seja encontrada a melhor solução para valorizarem esses artistas como eles merecem.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA