Para qualquer fã de anime e mangá é praticamente impossível não conhecer o Studio Ghibli. Para quem não conhece é uma produtora que virou referência no Japão e no mundo quando o assunto são animações de altíssima qualidade, além de histórias envolventes e personagens marcantes.
Por conta disso, ela até hoje é uma grande inspiração para novos mangakás, que sonham em ter uma criação sua nas telonas ou mesmo que criam suas obras a partir daquilo que viram feito pelo estúdio.
Então, vamos falar um pouco sobre como ele criou sua cultura única de produção e se tornou o que conhecemos hoje.
As origens do Studio Ghibli anos antes de sua fundação
Para entender como surgiu a ideia do Studio, precisamos voltar mais de 10 anos, até 1974, quando Hayao Miyazaki e Isao Takahata se conheceram, durante a produção do anime Heidi, no estúdio da Toei.
Ao longo dos anos, conforme trabalhavam juntos, percebiam ter o mesmo desejo: produzir animações de alta qualidade. Só que eles queriam fazer algo que até então não era o habitual na animação japonesa, os longas-metragens.
Para entender como essa visão em nada se alinhava com o que era feito na época, neste período haviam apenas animes curtos e com uma qualidade de animação questionável, principalmente pelo orçamento limitado que os estúdios possuíam.
Essa relação entre os dois fez com que eles começassem a ter a ideia de criar um estúdio onde pudessem fazer as animações com a qualidade que gostariam, sem os prazos apertados e de acordo com sua própria vontade.
O primeiro longa da dupla e o nascimento oficial do Studio Ghibli
O objetivo deles finalmente viu uma luz em 1984, quando em parceria com a própria Toei e a Tokuma Shokuten, Miyazaki e Takahata lançaram o longa “Nausicaä do Vale do Vento”.
E ele foi feito exatamente como eles desejavam: um anime feito todo a mão e que primava pelos detalhes, além da história envolvente, fizeram com que ele fosse um sucesso não apenas entre as crianças, mas também entre os adultos.
Com o sucesso, veio a expectativa por mais longas da dupla, mas o estúdio que havia feito Nausicaä não existia mais. Sendo assim, eles aproveitaram a oportunidade e junto de Toshio Suzuki e Yasuyoshi Tokuma, fundaram o Studio Ghibli em 1985.
Uma curiosidade é que este nome foi uma ideia de Miyazaki, que teve uma inspiração vinda do motor italiano de aviões Caproni Ca. 309 Ghibli. Isso porque, seu pai trabalhava com construções de aviões. Inclusive, esse motor aparece no longa “Porco Rosso”.
O primeiro lançamento do estúdio veio um ano depois, com “O Castelo no Céu”. E para o primeiro longa do recém-criado Ghibli, ele foi um verdadeiro sucesso de público e crítica, levando mais de 775 mil pessoas ao cinema.
A ousada aposta e a forma única de trabalho do Studio Ghibli
Depois do sucesso do “Castelo no Céu”, eles já começaram a produção de outra animação, ou melhor, de outras animações. O motivo é que resolveram fazer uma aposta ousada e deixar que Miyazaki e Takahata fizessem duas produções distintas ao mesmo tempo.
No fim das contas, em 1988, tivemos a resposta de se esta foi uma boa ideia. Os filmes? Apenas duas das maiores produções da história do estúdio: “Meu Amigo Totoro” (de Miyazaki) e “O Túmulo dos Vagalumes” (de Takahata).
O sucesso absurdo destes dois longas impactou positivamente o que veio um ano depois, o “Serviço de Entregas da Kiki”, que bateu um verdadeiro recorde de bilheteria, ao levar cerca de 2,64 milhões de pessoas ao cinema, sendo o filme mais visto daquele ano.
Esse excelente resultado fez com que o Studio Ghibli pudesse mudar sua metodologia de trabalho. Até então, ele seguia um método similar ao de outros estúdios, que era ter uma equipe temporária que trabalhava por obra, em um sistema freelance.
Por decisão de Miyazaki, todos seriam contratados do estúdio (algo incomum na época), além de receberem salários que dobrariam todos os anos e seria pago o mesmo valor para homens e mulheres.
Os “3 As” do Studio Ghibli
Seguindo uma abordagem tão arrojada de remuneração, o estúdio adotou uma política que o diretor-executivo da época, Toru Hara, definiu como “3As”: Alto Custo, Alto Risco e Alto Retorno.
Só que isso significava que o Ghibli nunca ficaria parado, sempre precisaria estar produzindo. Ou seja, quando saiu o longa “Memórias de Ontem”, eles já estavam na produção do seguinte, “Porco Rosso”.
Nesse período, Miyazaki sugeriu a construção de uma nova sede, já que a atual deles não comportava o tamanho da equipe. Foi quando Toru Hara deixou o estúdio por não concordar com isso. Contudo, Tokuma bancou a decisão e Hayao nesse período desenhava o novo longa ao mesmo tempo que fazia a arquitetura do prédio, com ambos sendo lançados em 1992.
Essa nova sede foi responsável por uma evolução no faturamento do Studio Ghibli. Isso porque agora eles também poderiam trabalhar na distribuição e divulgação do filme.
Um fato interessante é que na época eles conseguiram um grande faturamento (que ajudou o estúdio a se manter sustentável) graças a animação Totoro. Entretanto, diferente de outros estúdios que tinham como foco a venda de produtos, eles nunca produziram nada com esse foco, sendo essa uma feliz coincidência.
O reconhecimento internacional e o primeiro Oscar de uma animação japonesa
Em 1997, veio o reconhecimento internacional com “Princesa Mononoke”, um longa que trazia um tema mais maduro e que conquistou adeptos mundo afora.
Inclusive ele rendeu um capítulo interessante, pois a Disney (distribuidora ocidental), queria fazer diversos cortes no filme, para deixá-lo mais “infantil”. No entanto, Miyazaki não aceitou nenhuma mudança ou edição em sua obra e no fim das contas a empresa estadunidense cedeu e lançou ele na sua versão original.
Esse sucesso pavimentou a produção de mais sucesso da história do estúdio: “A Viagem de Chihiro”, de 2001. Até hoje, ele tem o maior faturamento do Ghibli e foi responsável pelo primeiro Oscar de uma animação japonesa.
Desde então, o estúdio lida com a inusitada situação de aposentadoria e volta de Hayao Miyazaki, que às vezes volta por querer produzir algo novo, mas em outros casos por conta de tragédias, como a morte do jovem produtor Yoshifumi Kondo, em 98.
Takahata faleceu em 2018, e da equipe original, ainda temos Toshio Suzuki e Hayao Miyazaki trabalhando de forma mais ativa. Tanto que, em 2023, eles lançaram o mais recente longa do estúdio, “O Menino e a Garça”.
Filmes do Studio Ghibli que você precisa conhecer
Agora, vamos trazer três recomendações de obras do estúdio para que você possa conhecer um pouco mais desta verdadeira referência mundial em animações.
1 – Meu Amigo Totoro
Primeiramente vamos falar sobre a animação que virou parte do logo do Ghibli. Lançada em 1988, ela conta com a seguinte sinopse:
“Duas meninas se mudam com o pai para o interior do Japão, com o objetivo de ficar perto da mãe, que está internada em um hospital. Lá, elas viverão muitas aventuras ao lado de um simpático espírito protetor da floresta chamado Totoro, que vive em uma canforeira gigante”.
2 – Princesa Mononoke
Temos agora a animação de 1997, a que abriu as portas do estúdio no ocidente. Curiosamente, ele traz um tema bem maduro para a época, ao questionar os impactos da ação humana no meio ambiente. Sua sinopse é:
“Após enfrentar um deus javali enfurecido, o príncipe Ashitaka é amaldiçoado com um mal que pode matá-lo. Para encontrar a cura, ele decide viajar para longe e acaba se envolvendo numa batalha entre os deuses animais da floresta e os moradores de uma vila de mineiros, que aos poucos estão destruindo a floresta”.
3 – A Viagem de Chihiro
Chegamos ao longa mais famoso do estúdio no Ocidente, e o único até hoje, de língua não inglesa e totalmente feito à mão, a vencer o Oscar. Além disso, venceu diversos outros prêmios e foi, por muitos anos, o anime de maior bilheteria da história, sendo desbancado recentemente por “Demon Slayer: Arco do Trem Infinito”.
Confiram sua sinopse:
“Chihiro é uma garota de 10 anos que descobre um mundo secreto de espíritos estranhos, criaturas e feitiçaria. Quando seus pais são misteriosamente transformados, ela deve recorrer à coragem que nunca soube que tinha para se libertar e devolver sua família ao mundo exterior”.
Aprenda sobre Mangá na ABRA
Conhecia a história deste estúdio? Além disso, da inspiração que ele é para outros mangakás e até mesmo para outros estúdios de animação? E para você que gosta, o que acha de poder criar suas próprias obras inspiradas no Ghibli? Pois isso é possível em nosso curso presencial de “Fanart mangá iniciante“! Nele, você aprenderá os fundamentos do desenho já direcionados à estilização deste segmento, de maneira a emular o estilo de um Mangaká (autor de mangá) que admira, além de desenvolver o seu estilo próprio. É ideal tanto para quem quer se tornar um autor quanto para aqueles que veem no desenho um hobby.
Acesse o link e saiba mais!
Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA