No mundo da arte, as pinturas de temas religiosos, especialmente na idade média eram recorrentes. Os motivos eram diversos: desde a própria igreja contratando artistas para retratar assuntos diversos ou então pessoas ricas que cometiam a usura. Pois é justamente este segundo que deu origem a uma das grandes obras de Giotto, “A Adoração dos Reis Magos”.
A origem da obra
A igreja da época condenava o pecado da usura e oferecia ao pecador opções de purgá-lo. Apenas para contextualizar: Na Idade Média, usura era usada como sinônimo de juro, e era uma prática proibida, pois acreditava-se que dinheiro não poderia gerar dinheiro.
Sendo assim, na época, cobrança de juros era considerada uma forma de se explorar uma pessoa que estava passando por uma situação difícil, portanto todos os empréstimos financeiros deveriam ser realizados sem cobrança de nenhuma taxa. Só que no caso Enrico Scrovegni, rico comerciante e também de seu pai Rinaldo, ambos o cometeram.
Inclusive Rinaldo entrou para a posteridade de uma forma não muito honrosa. Isso porque, é um dos muitos citados no livro “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri que estavam no inferno, mais precisamente no sétimo círculo, justamente o da usura.
Como uma das formas de purgar esse pecado, era o de realizar doações para a Igreja, através de obras de arte e arquitetura, pois assim contribuiriam para a glorificação de Deus e evangelização dos homens. Neste cenário que ele encomenda e paga um conjunto de imagens, que estão sob a forma de afrescos na Capella degli Scrovegni (ou Capela Arena).
Análise da obra A Adoração dos Magos
Para Vasari, que escreveu em 1550, “Vidas dos mais importantes artistas do renascimento italiano“, Giotto é visto como a própria origem do movimento renascentista. Com isso, a obra feita entre 1304 e 1306 já conta com rupturas em relação a cultura e arte imediatamente anterior a ela.
Primeiramente podemos destacar a questão do estudo e da observação como forma de criar elementos tridimensionais na pintura. Isso pode ser visto na cobertura de madeira em que estão José, Maria e o menino Jesus. Acredita-se que para criá-la, Giotto usou como referência uma mesa vista de baixo.
O tridimensional é um dos principais pontos desse afresco, pois o artista buscava justamente dar profundidade à obra, como forma de fazer os observadores “entrarem” nela. Além disso, temos ideias muito mais claras de proporção e volume nas pessoas. Um dos melhores exemplos é Gaspar, que está de joelhos e mesmo com suas vestes, podemos perceber a forma do corpo e o joelho amassando o tecido.
Esse fato foi uma importante mudança na arte, que até então trazia elementos estáticos. No entanto Giotto passou a dar mais caráter aos santos, que não eram mais figuras paralisadas, e sim pessoas vigorosas e que demonstravam seus sentimentos. O melhor exemplo disso novamente está em Gaspar que coloca sua coroa no chão, aos pés do anjo, e se inclina para beijar os pés de Jesus.
Outro ponto interessante se refere a estrela de Belém, pois ela não nos remete as imagens que temos dela. Em 1301, o Cometa Halley passou pelo céu da Terra e acredita-se que foi ele na verdade que podemos ver no afresco de A Adoração dos Magos.
Simbolismos religiosos em A Adoração dos Magos
Nas pinturas sacras, além da própria cena bíblica que se retrata, muitas vezes temos elementos que trazem diversos simbolismos e no caso desta obra, não seria diferente. Para criar esta obra, Giotto se vale especialmente do evangelho de Mateus, para compor a cena da Adoração dos Reis Magos.
Inclusive a própria cena de Gaspar citada anteriormente se refere a um trecho deste evangelho, que diz “prostrando-se, o adoraram”. Outro exemplo, mas que neste caso se faz recorrente nas obras de Giotto, é o rochedo ao fundo. Trata-se de uma referência ao Salmo de Davi (18.2) no qual se diz: “o Senhor é o meu rochedo”.
Só que esta referência, assim como o anjo e a estrela, estão presentes no que se convencionou chamar de “novo testamento apócrifo”. Entretanto, se adotaram muitos elementos dele por conta da presença deles no imaginário popular. Como forma de se atender as expectativas do povo, além de ter um grande impacto visual, Giotto fazia seu uso com grande maestria.
Curiosidades
A obra de Giotto, a Adoração dos Magos, é considerada um afresco verdadeiro. Ou seja, quando ele a pintou, a argamassa ainda estava úmida na capela. Dessa forma, a pintura tornou-se parte integral do edifício. Só que não foi a única, já que todas as outras obras presentes lá, foram feitas da mesma forma.
Um outro elemento peculiar, é que o pintor nunca havia visto um camelo na vida. Por conta disso, em A Adoração dos Reis Magos, Giotto o fez com olhos azuis, orelhas semelhantes às de um burro e patas de cavalo.
Uma outra coisa que podemos observar é que originalmente o manto da Virgem Maria não era branco, mas sim azul. Isso pode ser visto, pois a ação do tempo fez com que houvesse uma deterioração na obra. Há também aqui um simbolismo religioso, com o azul significando a vastidão do céu, juntamente com sua postura, que juntas a representam em seu papel simbólico como Rainha do Céu.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA