Conheça a misteriosa construção da escada da Capela de Loretto

A Capela de Loretto, em Santa Fé, no Novo México, nos EUA, traz um dos grandes mistérios da arquitetura: uma escadaria que até hoje se questiona como foi feita e como a deixaram perfeitamente funcional e equilibrada.

 Capela de Loretto

Isso porque ela não possui pregos, apoios laterais ou coluna central. Vamos conhecer a história de sua criação, as teorias e algumas curiosidades sobre ela.

A história da Capela de Loretto

Tudo começou em 1850, com o estabelecimento do Vicariato do Novo México sob o comando do primeiro Bispo do Estado, Dom Jean Baptiste Lamy. Ele, ao perceber a necessidade de educar as meninas da região, enviou um pedido às ordens de ensino católico para que fosse aberta uma escola para meninas.

Após o pedido, as Irmãs de Loretto enviaram seis freiras para instituir a Academia Loretto. O local era um desafio, pois o território do Novo México havia sido anexado pelos EUA há quase dois anos, então naturalmente muitos cidadãos só falavam espanhol, obrigando-as a aprenderem também.

A viagem para lá se mostrou um grande desafio, que vitimou a Madre Superiora, que morreu no caminho. Inicialmente, a missão das Irmãs de Loretto em Santa Fé era voltada à educação, e não à construção de uma capela (a ideia veio anos depois). Elas chegaram ao território em 1853, vindas do Kentucky, e fundaram a Loretto Academy, uma escola para meninas.

A construção da capela demorou cerca de 20 anos para acontecer, em parte por questões logísticas (Santa Fé ainda não contava com ferrovias na época da chegada das irmãs) e também por limitações financeiras, já que erguer uma estrutura nos moldes europeus era algo caro e complexo naquela região.

A construção da Capela de Loretto e o enigma da escadaria

A capela começou a ser construída em 1873, com projeto do arquiteto francês Projectus Mouly. Já a inspiração para o projeto foi a Sainte-Chapelle de Paris, refletindo o estilo neogótico visto na arquitetura da capela.

A obra levou cerca de cinco anos e contou com vitrais trazidos da França, mas também aproveitou recursos locais: o principal material usado foi o arenito da região, o que ajudou a tornar a construção mais viável em termos logísticos e financeiros.

A morte do arquiteto e o problema do projeto

Durante a obra, o arquiteto faleceu e deixou um grande problema: não havia um acesso prático ao coro alto. Aqui, temos um dos grandes buracos da história sobre a escadaria, pois não há uma confirmação sobre o porquê de um arquiteto experiente ter “esquecido” a construção desse acesso.

As hipóteses que os historiadores nos trazem são:

●      Projeto incompleto — Mouly pode ter falecido antes de concluir detalhes do projeto, incluindo a escadaria;

●      Falhas de comunicação — sem a presença do arquiteto, os construtores seguiram instruções parciais ou imprecisas, o que deixou elementos como a escada de lado por falta de orientação clara;

●      Decisão tardia da construção do coro alto — a ideia pode ter sido decidida após os planos originais, o que explicaria por que a escada não constava no projeto de Mouly;

●      Questões financeiras — como havia uma limitação no dinheiro da obra, podem ter considerado não construir e usar uma solução mais barata (como uma escada de mão);

●      Limitação de espaço — o local era estreito e uma escada convencional ocuparia muito espaço. Sendo assim, optaram por seguir a obra e deixar isso para depois;

●      O projeto seria externo ao original — acredita-se que a ideia poderia ser a contratação de um carpinteiro para fazer isso depois da conclusão da obra. Isso explicaria a ausência dela nos projetos iniciais;

●      Perda de documentos — por fim, há o risco de que tenha sido uma desorganização durante a execução da obra e que o projeto da construção da escada tenha simplesmente se perdido.

O surgimento do “milagre”

Este é o momento em que entramos no mistério desta história, pois a solução encontrada para acessar o coro alto era uma escada de mão. Só que essa situação era incômoda justamente para quem fazia parte do coro, por ser algo perigoso.

As irmãs então começaram uma novena ao próprio São José (pai de Jesus e que foi um carpinteiro) pedindo uma solução para o problema. Dia após dia nada acontecia, até que no último dos nove dias, surgiu um forasteiro pedindo abrigo e que se ofereceu para construir a escada.

Segundo relatos, ele pediu privacidade para a construção e durante meses ele fez tudo sozinho, com elas apenas acompanhando a evolução da obra.

Quando a escada foi concluída, ele simplesmente foi embora, sem cobrar nada e nem revelar sua identidade.

A obra era o que mais impressionava, pois ela sobe em caracol por 6 m, sem estrutura adicional. São duas voltas de 360 graus, sem apoios laterais ou coluna central. Além de tudo, não há pregos (as peças de madeira são todas encaixadas).

Importante dizer que a escada da Capela de Loretto teve duas adições posteriores:

 Corrimão e braço metálico - adições posteriores na obra

●      O corrimão, pois ela não o possuía (tornando a subida até mesmo perigosa);

●      Um braço metálico que apoia a escada na coluna da capela, instalado na metade do século XX, quando aumentou o tráfego de carros e caminhões na rua do templo. Contudo, em vez de preservar, o apoio acabou danificando a lateral da escada, ao impedir sua flexibilidade.

Os mitos e verdades da escada da Capela de Loretto

Primeiramente, precisamos dizer o principal: as irmãs da época afirmam que, na verdade, quem construiu a escada foi o próprio São José, respondendo às preces delas.

Outro mistério envolve a madeira usada na construção. Ela é madeira de abeto, um tipo de árvore que não tinha na época e não existe hoje na região de Santa Fé. Além disso, não há registros sobre entregas de madeiras na igreja na época.

 Vista de cima da escadaria

Quanto às curiosidades:

●      A escada possui exatamente 33 degraus, idade de Jesus quando foi crucificado;

●      Mesmo antes de instalarem os corrimãos, nunca houve registro de nenhum acidente;

●    O carpinteiro possuía apenas ferramentas simples de carpintaria, sem nem mesmo contar com pregos. Para construir a escada, ele utilizou a técnica conhecida como “espiga e entalhe” (mortise and tenon), um método antigo e sofisticado de encaixe de madeira sem o uso de pregos metálicos ou suportes centrais visíveis;

●     Um fato inusitado é que, segundo visitantes, cada degrau range em diferentes tons, quase como se emitissem uma nota musical própria.

Por fim, outro fato que só aumenta o mito é que no ano de 1971 houve um incêndio que destruiu a Loretto Academy. Entretanto, mesmo com a proximidade e o calor, a escada não sofreu nenhuma deformação, reforçando o “milagre” em torno dela.

Aprenda mais sobre desenho de arquitetura na ABRA

Conhecia os mitos que envolvem a escada da Capela de Loretto? Que tal usá-la como inspiração para seus projetos? Para poder aprimorar ainda mais sua técnica, permitindo novas possibilidades, apresentamos o nosso curso presencial de “Desenho de Arquitetura”.

Ele foi desenvolvido especialmente para quem está cursando faculdade de Arquitetura, Engenharia, Design de Interiores e quer aprimorar ou desenvolver uma boa base de desenho. No curso, você passará pelo desenho livre, técnico e arquitetônico, para que, ao final, saiba ler, interpretar e executar qualquer tipo de desenho arquitetônico na prancheta.

Acesse o link e saiba mais!

Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA