Difícil imaginar uma obra tão emblemática quanto a Guernica, de Picasso, no século XX. Uma de suas mais famosas pinturas, foi além das fronteiras da arte, sendo até hoje referência ao retratar como poucos os horrores da guerra, mesmo chegando aos 85 anos de sua criação.
Hoje falaremos um pouco sobre o momento e o que levou Picasso a criar seu famoso painel, além de mostrarmos alguns detalhes importantes da obra.
Guernica: uma criação motivada pelo protesto
O momento em que Guernica foi criada era, segundo Pablo Picasso, “a pior época da sua vida” tanto no campo artístico, quando no pessoal. Para terem uma ideia, ele havia recebido uma encomenda para criar um afresco destinado ao Pavilhão Espanhol na Exposição Internacional, celebrada naquele ano em Paris. Mas até aquele momento, o artista não tinha nenhuma inspiração sobre o que fazer.
Entretanto, tudo mudou ao receber notícias sobre os ocorridos na Espanha. Importante lembrar que ele já vivia há algum tempo em Paris. Foi em abril de 1937 (mesmo ano da criação de Guernica), que Picasso soube do ataque feito na cidade de Guernica, no País Basco.
Antes de continuar, vale contextualizar o momento vivido no país. Naquela época, a Espanha estava em meio a Guerra Civil, que acabou com a ascensão do General Franco ao poder. Durante o conflito, que envolvia as forças republicanas, contra as totalitárias, a Alemanha nazista e a Itália fascista ofereceram apoio às forças franquistas.
Contudo, a ideia especialmente dos alemães, era usar esse conflito como um “teste de campo” para o que aconteceria na segunda guerra. Sendo assim, muitas das ações militares nazistas foram usadas pela primeira vez dentro da Espanha. No caso de Guernica, em 26 de abril de 1937, um ataque da Legião Condor, que durou apenas 3 horas, reduziu a pequena cidade a cinzas.
Ao saber disso, Picasso teve a inspiração que precisava para criar sua obra. Ele sempre foi alguém engajado no combate a injustiças sociais e foi um opositor tanto do franquismo, como do nazismo.
Detalhes sobre Guernica
Primeiramente é preciso destacar que, além do artístico, ela cumpre importante função social e política. A Europa vivia um grave momento político e ele tentou trazer a exposição sua preocupação com o que estava ocorrendo.
Dito isso, podemos observar os sentimentos que Picasso transmite com a obra. Para começar, temos a paleta de cores neutras, pois segundo ele, não poderia usar cores vivas com o horror e destruição que a guerra causa. Na sequência, podemos observar os rostos presentes na obra, que transmitem desespero, agonia, dor e sofrimento.
Temos tanto figuras de humanos, como de animais presentes em Guernica. Para começar, vamos falar sobre o touro e o cavalo, pois ambos são muito importantes dentro da cultura espanhola. Para muitos, a presença deles significava que os horrores da guerra não afetavam apenas as pessoas.
Por outro lado, muitos veem o touro ali como a representação do país, incrédulo com os acontecimentos. Porém, as figuras mais impactantes são as das pessoas. À direita temos uma pessoa que está sendo consumida pelo fogo, em referência clara as chamas deixadas pelos bombardeios.
Já do lado esquerdo, temos a figura de uma mãe segurando seu filho morto nos braços, mostrando a dor e sofrimento das perdas causadas pela guerra. Já ao centro, temos uma figura caída e despedaçada, que segura uma espada quebrada, representando a derrota do povo.
Por fim, temos outros dois elementos ao centro que chamam atenção: uma luz, que simula um olho com uma lâmpada dentro. Para alguns analistas, é como se fosse uma observação divina do que está acontecendo ali. O outro é uma lamparina, que está próxima a ela. Esta luz representa a esperança em meio a todo aquele cenário de tragédia.
Estilo da obra e curiosidades
O painel conta com grandes dimensões, pois tem 7.76 metros de comprimento e 3.49 metros de altura. Ela é um óleo sobre tela e que para muitos especialistas é uma das grandes representações da pintura moderna.
Inclusive, ela conta com elementos que vão além do cubismo, pois também traz características do realismo. Um dos grandes detalhes da obra, mas chama menos a atenção que as figuras, é a forma como ele construiu as paredes. Ao mesmo tempo parece que estamos em um ambiente interno e externo, quando as observamos mais atentamente.
Guernica também conta com fatos curiosos acerca dela:
- Ao contrário do que muitos possam imaginar, Picasso levou apenas 5 semanas para concluir a obra;
- Foi exposta pela primeira vez em Paris, no pavilhão espanhol durante a exposição internacional;
- Guernica esteve em diversas exposições pelo mundo, mas sua casa temporária era o MoMa (Museu de Arte Moderna de Nova York). Ele ficou lá até o fim da ditadura de Franco, em 1981. Atualmente a obra encontra-se no Museu Nacional de Arte Rainha Sofia em Madrid;
- Ela já passou pelo Brasil no ano de 1953, durante a 2ª Bienal Internacional de São Paulo;
- Por fim, vale mencionar a resposta que Picasso deu a um representante da Alemanha Nazista, quando este foi visitar o pavilhão em Paris. Ao ser questionado por ele se aquela obra era sua, o artista respondeu: “Não, a obra é de vocês!”
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