Pedro Américo conta com algumas das pinturas mais importantes do segundo império e do início da república no Brasil. Apesar de trazerem alegorias de momentos históricos, são até hoje importantes fontes de estudo, especialmente para entender o cenário da época. Entre elas, temos “Libertação dos Escravos”, que mostra um dos últimos eventos de impacto pré-proclamação de 1889 e que atualmente se encontra no Acervo dos Palácios, em SP.
Contexto da criação de “Libertação dos Escravos”
Boa parte das obras que retratam feitos históricos contam com um contexto por trás, porque quase todas foram feitas sob encomenda do império. Ou seja, elas visavam criar uma imagem romantizada do que aconteceu, sempre exaltando o regime.
O caso da obra “Libertação dos Escravos” é ainda mais peculiar, pois envolve uma obra que foi feita durante a transição dos regimes. Por conta disso, a versão final desta tela nunca foi pintada, fazendo com que ela seja considerada um estudo em esboço. Inclusive isso explica o porquê na tela temos elementos que remetem tanto à república, quanto ao império.
Ele começou a esboçar a tela ainda em 1886, fato que chama atenção se pensarmos que ainda faltavam dois anos para a Lei Áurea. No entanto, isso indica que a ideia do Estado era lançar essa pintura no mesmo período.
Essa temática abolicionista tornou-se recorrente especialmente nos anos de 1880, quando os movimentos pelo fim da escravidão tomavam as ruas. Dessa forma, muitos eram os artistas que pintaram sobre o assunto naqueles anos.
Erros e inconsistências na obra de Pedro Américo
Antes de analisarmos mais a fundo a obra, precisamos observar elementos dessa alegoria criada em “Libertação dos Escravos” e os muitos erros que ela possui. Assim como a obra “Independência ou Morte”, “Tiradentes Esquartejado”, “Batalha do Avaí”, entre outras, esta também trazia uma visão romantizada do evento.
Exceção feita a pintura de Tiradentes, todas as outras foram encomendas da corte. Ou seja, não surpreende que elas contenham uma visão positiva e até mesmo heroica do império. Para outras obras, o impacto histórico é relativamente pequeno (tanto que muitas até viraram imagens de livros escolares), pois contam com inconsistências que não alteram tanto a mensagem que ele desejava passar.
Porém, no caso de “Libertação dos Escravos”, temos muitos erros graves. Por exemplo: o fato de os negros agradecerem de forma submissa pela conquista da liberdade, passa a impressão de que abolição fosse uma espécie de dádiva dada aos escravizados e eles tivessem um papel apenas passivo neste curso.
Tal avaliação ignora as muitas lutas violentas que ocorreram durante o período e os muitos mártires que morreram por essa liberdade. A própria representação da igreja, com a cruz etérea, como se os escravizados também estivessem agradecendo a ela, traz graves erros.
Isso porque, muitos negros no período se converteram para obter a proteção por serem cristãos. Entretanto, essa proteção não acontecia para os não convertidos, vistos como “sem alma” e abandonados por esta mesma igreja. Com essas considerações feitas, podemos analisar de forma adequada a obra.
Análise de “A Libertação dos Escravos”
Primeiramente pode-se perceber que Pedro Américo buscou criar uma impressão de que o evento ocorreu em um teatro de arena, para aumentar o impacto dramático. Isso foi possível graças ao muro em formato de arco, que também limita a visão do horizonte, possibilitando apenas ver o céu.
Em destaque, temos homens escravizados maltrapilhos reverenciando uma mulher. Ela conta com diversos elementos que remetem à deusa Atena, o que pode ser uma alegoria ao fato de que ela representa o senso de justiça. Como ela também é a deusa da guerra, podemos concluir que ela acabou de batalhar e matar o demônio, que jaz inerte atrás dos negros.
Acredita-se que este demônio represente a escravidão e que sua morte (e não prisão), significa que não há o risco de ele retornar.
A disposição das pessoas na obra, como em uma câmara, faz referência já ao novo regime. Neste momento, podemos observar a ambiguidade da obra, pois como elemento central, temos uma mulher sentada no trono e segurando um cetro. Estudiosos apontam que ela representa a princesa Isabel e estar centralizada, mostra sua posição de grande importância no acontecimento, fazendo exaltação ao império.
Por fim, temos os anjos e a cruz etérea, que simbolizam uma “bênção divina” ao ocorrido. Elas conversam diretamente com a figura do demônio, representando justamente a batalha do bem contra o mal, com seres celestiais estando ali para comemorar o feito.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA