Neste Dia Internacional da Mulher, vamos falar um pouco mais de uma das mulheres mais importantes da história da arquitetura moderna: Lina Bo Bardi. Com uma visão revolucionária para época, ela conseguiu trazer uma nova linguagem para área, além de contribuir com diversas construções que são marco no Brasil.
O começo na arte e a mudança para arquitetura
Apesar de muitos acharem que ela era brasileira, Achilina di Enrico Bo Bardi, nasceu em Roma na Itália, em 1914. Até por influência de seu pai, que era engenheiro, pintor e construtor, Lina começou a mostrar sua vocação para arte aos dez anos.
Inicialmente ela tinha começado com a pintura em guache e aquarela e o apreço pela arte a fez concluir sua formação no Liceu Artístico em 1933. Contudo, ela migraria para arquitetura ao ingressar na Facoltá di Architettura da Università degli Studi di Roma, na qual se formou arquiteta aos 25 anos.
Só que o que chamou atenção foi o seu trabalho de conclusão. Com o título de “Núcleo Assistencial da Maternidade e da Infância”, ele trazia o que seria uma de suas grandes marcas arquitetônicas: a estrutura de concreto armado com vidros aparentes. Juntamente com isso, tínhamos um projeto que mostrava inovação frente ao estilo oficial da escola.
A 2ª Guerra Mundial e as primeiras experiências de Lina Bo Bardi na arquitetura e fora dela
Com a Guerra em curso, Lina Bo Bardi muda-se para Milão em 1940 e se associa com Carlo Pagani. Juntos eles fundam o escritório Bo e Pagani, realizando trabalhos para um arquiteto renomado da época, Gio Ponti.
Juntamente com isso, ela começou a escrever artigos para periódicos italianos, tanto em conjunto, como sozinha. Sua experiência editorial foi além, pois ela começou a participar da ilustração e editoração de diversas revistas da época.
Lo Stile – nella casa e nell’arrendamento, Grazia, Belleza, Vetrina e L’Ilustrazionoe Italiana foram apenas o começo dela na área. Posteriormente ela foi chamada para codirigir a revista Dommus e ainda fundou com Pagani a Quaderni di Domus.
Neste período ela começou a mostrar sua preocupação além dos projetos, quando fundou junto com Pagani e a colaboração de Raffaele Carrieri e Bruno Zevi e revista A Cultura della Vita. A ideia era levar os problemas da reconstrução a um público não especializado. Mas além disso, discutir temas cotidianos a partir da realidade pós-guerra do país.
Inclusive Lina Bo Bardi chegou a ter seu escritório bombardeado durante a guerra. Após a guerra, ela retornou a Roma, onde conheceu seu marido Pietro Maria Bardi em uma visita ao Studio d’Arte Palma. Eles se casaram em 1946.
A chegada de Lina Bo Bardi ao Brasil
Pensando nas possibilidades de um país com cenário artístico e arquitetônico promissor, Lina e Pietro decidem vir para o Brasil, mas inicialmente para o Rio de Janeiro. Eles ficaram poucos meses no estado, pois logo mudaram-se para São Paulo a convite de Assis Chateaubriand para fundar e dirigir o MASP (Museu de Arte de São Paulo).
Primeiramente ele contou com uma sede provisória na Rua 7 de Abril (anos antes de ir para sua sede definitiva, na Av. Paulista). Um ano depois, Lina Bo Bardi junto com seu marido, com o arquiteto Giancarlo Palanti e Valeria Piacentini Cirell fundaram o Estúdio de Arte Palma. Este era dedicado ao desenho de mobiliários modernos e industriais.
Em 1950 e 51, ela e o marido fundaram respectivamente a revista Habitat e o Insituto de Arte Contemporânea, ambos vinculados ao MASP. Este último inclusive foi a primeira iniciativa de ensino de design no Brasil. Mas o ano de 1951 guardava outro importante momento para Lina: quando ela se tornou cidadã brasileira.
Contudo a sua primeira grande obra arquitetônica viria também em 1951: a Casa de Vidro. Construída no Morumbi, ela era um projeto bastante ousado para a época e serviu por mais de 40 anos como residência para o casal. O destaque é que ainda nesta época ainda o local contava com muita mata atlântica e Lina buscou harmonizar a casa junto com a floresta nativa do terreno.
A Casa De Vidro (hoje sede do Instituto Bardi)
Mostrando sua versatilidade, entre os anos de 1955 e 56 ela chegou a ser professora na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Lecionava Teoria da Arquitetura, mas apenas em caráter temporário. Ela chegou a tentar integrar o corpo docente da faculdade, entretanto indeferiram sua tese de magistério.
Lina Bo Bardi: o MAM-BA e a nova sede do MASP
Em 1958, um ano depois de ser chamada para fazer o projeto da nova sede do MASP na Avenida Paulista, a convidam para ir a Bahia e fazer o restauro do Solar do Unhão, que viria a ser a sede do MAM (Museu de Arte Moderna) da Bahia.
Ela fica na Bahia até 1963, período em que ajuda a organizar a exposição “Bahia no Ibirapuera” na V Bienal de Arte de São Paulo, em 1959 e ainda faz a curadoria da primeira exposição no MAM-BA, chamada “Nordeste”.
Já de volta à São Paulo, retoma o projeto do MASP, fazendo o acompanhamento das obras, além de fazer várias adaptações no projeto. Por exemplo: a ideia do vão livre foi para tornar o local um espaço de convivência e que ligasse o externo e interno do museu. Juntamente com isso, já dentro do espaço, os cavaletes foram idealizados como forma de fazer parte da arquitetura.
A inauguração do MASP foi em 1968 com a exposição “A mão do povo brasileiro”.
MASP
Sai a arquitetura, entra a cenografia
Em 1969, no auge da ditadura, Lina afasta-se dos projetos arquitetônicos e passa a dedicar-se à cenografia. Ela passou tanto pelo teatro, com a peça “Na Selva das Cidades” de 1969, como pelo cinema. Neste segundo ela criou os cenários de “Prata Palomares” e “Gracias Señor” de 1970 e 71 respectivamente.
De volta a arquitetura: SESC Pompeia e outros grandes projetos
No ano de 1977 Lina Bo Bardi retorna para arquitetura para fazer o projeto do SESC Pompeia. Anteriormente com uma fábrica no local, ela teve um grande desafio para criar aquilo que desejava para lá. Um dos destaques é o teatro do local, pois ao invés do formato tradicional, o público fica dos dois lados do palco, ou seja, um de frente para o outro.
Além disso, a forma como os espaços são interligados foi cuidadosamente pensada. Segundo ela, os locais “feios e inacabados” para que o próprio público possa construí-los e reconstruí-los e assim ganharem significados. Por fim vale dizer que as janelas “tortas” na verdade são referências as batatas brasileiras, pois estas surpreenderam Lina quando ela chegou ao Brasil.
SESC Pompeia
Ela voltou a lidar com o teatro, mas desta vez fazendo a reforma do Teatro Oficina em 1984, o qual seria inaugurado apenas em 94 (dois anos após sua morte). Contudo ela lidou com um projeto ainda mais grandioso, que foi a revitalização do centro histórico de Salvador.
Juntamente com ele, fez ainda Teatro e Fundação Gregório de Mattos, a Casa do Benin (no Pelourinho), a recuperação das encostas da ladeira da Misericórdia e a Casa do Olodum. De volta para São Paulo, fez seu último projeto: a nova sede do Palácio da Indústrias para a prefeitura de São Paulo, em 1990. Ainda neste ano, ela e o marido fundaram o Instituo Quadrante, atual “Instituto Bardi/Casa de Vidro”
Lina Bo Bardi faleceu em 20 de março de 1992 aos 77 anos.
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