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Os mangás hoje são histórias em quadrinhos de alcance mundial, mas que por conta da forma como chegaram no ocidente (especialmente no Brasil, que será nosso tema), tivemos uma certa confusão, onde tudo acabava sendo rotulado como shonen. Isso porque falamos do mais popular estilo do gênero. 

Ela inclusive é responsável por alguns dos títulos mais populares no Brasil, especialmente Cavaleiros do Zodíaco. Sendo assim, hoje falaremos mais sobre esse estilo de mangá, assim como algumas das suas principais obras. 

O que é shonen? 

A pergunta é interessante, pois há uma análise um tanto quanto equivocada sobre o tipo de histórias que podemos encontrar em mangás shonen. Primeiramente vamos definir que o termo significa literalmente “quadrinhos para garotos” e isso refere-se especialmente para qual público-alvo que ele se encaixa.  

Trata-se de um dos cinco principais estilos, junto com kodomo (crianças), josei (mulheres adultas), shoujo (mulheres adolescentes) e seinen (homens adultos). Em alguns casos, você tem temáticas bem mais recorrentes, mas em outros a abrangência de temas é muito maior, como é o caso do shonen. 

Contudo, há algumas características recorrentes nos shonens. Por exemplo: o traço costuma ser um pouco mais cartunesco (especialmente em relação ao seinen), os protagonistas normalmente são homens na faixa de idade de 12 a 18, a mesma do público-alvo e eles costumam trazer algumas temáticas e/ou desafios comuns a essa faixa de idade. 

Shonen são apenas os de luta? 

Essa é uma dúvida comum por conta de alguns dos mangás mais populares e de maior sucesso por aqui. Naruto, Dragon Ball, Cavaleiros do Zodíaco, One Piece, My Hero Academia, entre outros, são shonens e isso faz com que muitos pensem que se trata de um gênero e com apenas essa temática de luta. 

Contudo, essa é uma avaliação equivocada. Isso porque temos uma variedade consideravelmente maior de histórias e temáticas, que não necessariamente encaixam-se nesse estilo. Por exemplo podemos citar “Orange”, que traz um grupo de estudantes que lidam com temas bem complexos como depressão e suicídio, mas que a história em si não traz lutas, nem ação como vemos nos citados acima. 

Outro exemplo, mas bem mais conhecido é Death Note. Apesar de ser um anime de suspense policial, ele enquadra-se também no gênero shonen. Por fim, podemos destacar os mangás com temáticas esportivas, como Captain Tsubasa (aqui conhecido como “Super Campeões”), ou mais recentes como Haikyu!!  

Ambos se enquadram no estilo e até trazem certa similaridade com o pano de fundo daqueles de luta. Neste caso, com um protagonista desacreditado que se supera para atingir seus objetivos.  

A origem do estilo

Os primeiros registros relacionados a estilo shonen, datam do final do século XIX, mais precisamente de 1895. A revista chamava-se Shōnen Sekai e foi criada por Iwaya Sazanami, famoso escritor de japonês de literatura infantil. Ela teve uma forte ênfase sobre a Primeira Guerra Sino-Japonesa e neste período, os mangás ficaram conhecidos como Ponchi-ê (uma abreviação de Punch-picture, ou imagem Punch). 

Exemplo da página da Shonen Sekai, de 1895

Posteriormente, a revolução para chegarmos ao shonen como conhecemos hoje, veio em meados do século XX, com o lendário Osamu Tezuka. Contudo, é importante ressaltar que suas obras vinham com grande influência da Walt Disney, especialmente características faciais semelhantes às dos desenhos, em que olhos, boca, sobrancelhas e nariz são desenhados de maneira bastante exagerada para aumentar a expressividade dos personagens. 

Sua primeira criação foi do gênero Shin Takarajima (“A Nova Ilha do Tesouro”), de 1947. Por fim, vale mencionar a importância dele na questão do anime, que também veio através de um shonen. Foi com Astro Boy, em 1963, pois ela foi a primeira série animada da TV japonesa com história contínua e personagens recorrentes.  

Desde então o crescimento do mangá e especialmente do shonen vem diretamente ligado ao sucesso dos animes. Isso porque já há um bom tempo, as editoras e/ou produtoras usam das produções animadas como forma de divulgar determinada publicação que começa a despontar entre os leitores. Em muitos casos, o lançamento dos desenhos, vem com aumento de receita dos quadrinhos. 

Shonens famosos 

Agora vamos trazer alguns exemplos de histórias shonen de grande sucesso no Brasil. 

1 – Cavaleiros do Zodíaco/Saint Seiya 

Primeiramente vem a principal para os brasileiros. O motivo é que graças ao sucesso do anime, outros foram trazidos e possibilitou que se pavimentasse o caminho para o cenário atual. Inclusive um dos primeiros mangás a chegar nos anos 2000 foi justamente o deles, juntamente com o de Dragon Ball. 

A publicação original é de 1986 até 1990, mas não limitou-se a ela. O universo expandido de Saint Seiya (o nome original) conta com uma sequência direta chamada Saint Seiya Next Dimension, que começou em 2006 e ainda não terminou. Além dela, temos três spinoffs: 

  • Saint Seiya: Episódio.G – focado nos cavaleiros de ouro jovens e que conta com três serializações diferentes: o primeiro de 2002 a 2013, o segundo chamado “Assassin” de 2014 a 2019 e o “Requiem”, que começou em 2020 e ainda não terminou; 
  • Saintia Sho – que traz uma nova classe de cavaleiras, que não estavam presentes na série original. Esta durou de 2013 até 2021; 
  • Saint Seiya: The Lost Canvas – conta a história da primeira guerra santa contra Hades. Foi de 2006 até 2011. 

2 – Captain Tsubasa/Super Campeões 

Trata-se de um dos mangás shonen de esporte mais populares que temos mundo afora. Inicialmente a série tinha a intenção de popularizar o esporte no país, por isso a produção de Captain Tsubasa foi patrocinada pela Associação Japonesa de Futebol durante o desenvolvimento do anime. Apesar de termos várias adaptações diferentes para anime, a série original é de 1981 a 88. 

A história tem como protagonista Oliver Tsubasa e mostra sua trajetória como jogador de futebol, de seu início no juvenil, até virar estrela profissional e chegar na seleção japonesa. O interessante dessa obra são as citações ao futebol brasileiro. Por exemplo o fato do próprio Oliver Tsubasa jogar no futebol brasileiro ou mesmo o treinador dele ser um ex-jogador da seleção (Roberto Hongo, na história). 

3 – Dragon Ball 

O mangá de Dragon Ball trouxe algo diferente para as histórias shonen da época, pois pela sua duração ele mostrou o crescimento do protagonista. Só que nesse caso, falamos crescimento de idade mesmo, não aquele da “jornada do herói”. Isso porque no começo da história, temos um Goku criança, pequeno e ao longo do tempo ele cresce, se casa, tem filhos. 

De certa forma, isso ia ao encontro dos fãs da história, já que ela foi uma das mais longevas da shonen jump (principal revista do estilo) durando 11 anos, de 1984 até 1995. Caso alguém ainda não conheça, ela mostra inicialmente a jornada de Goku e Bulma em busca das sete esferas do dragão, que realizam qualquer tipo de desejo.  

Inicialmente ele misturava um enredo comédia com batalhas, mas com o tempo e especialmente na fase “Z”, ele focou-se mais em batalhas. Desde 2015 o mangá voltou, com o título de “Dragon Ball Super” e está em produção até os dias de hoje.  

Por fim, vale citar que Dragon Ball, junto com o mangá dos Cavaleiros, iniciaram essa fase de mangás publicados no Brasil, que dura até hoje, no início dos anos 2000. Além disso, o anime teve importante papel de consolidação, num momento em que não existia mais a Manchete, que era a principal emissora a transmitir animes. Com menções honrosas a Pokémon na Record e Digimon na Globo. 

 

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