Desde a concepção do primeiro modelo autopropulsado até o carro como conhecemos hoje, tivemos diversas mudanças que acompanharam a evolução tecnológica deles. Já o design automotivo passou por uma verdadeira ressignificação ao longo do caminho, pois no início era algo sem valor, mas hoje é parte fundamental na criação de um veículo, tanto pela estética quanto pela questão aerodinâmica.
Acompanhe neste texto o quanto o design automotivo mudou desde a criação do carro!
Design posto de lado em razão de questões técnicas: os primeiros automóveis
Primeiramente, precisamos citar que o primeiro design de um veículo autopropulsado foi de Leonardo da Vinci. O aspecto mais intrigante é que, além de sua ideia funcionar como um relógio a corda (mesmo sem este ter sido inventado), o design sequer lembrava uma carruagem, mas sim uma carroça sem cavalos.
Apesar da sua ideia, o primeiro modelo de um automóvel surgiu apenas no século XVIII, com o francês Nicolas-Joseph Cugnot. O modelo, nada mais era que uma carruagem movida a vapor com três rodas.
Essa base serviu de fundamento para muitos dos modelos posteriores, uma vez que priorizava o correto funcionamento ao invés de aspectos como praticidade e estética visual.
Os primeiros veículos com motor a combustão e a primeira mudança estética
Foi durante o século XIX que tivemos a primeira grande evolução nos automóveis, que veio através da dupla Karl Benz e Gottlieb Daimler. Isso porque, eles criaram aquele que é considerado o primeiro automóvel com motor a combustão.
Ele seguia o princípio de dar maior foco a funcionalidade, mas ele já contava com uma estética um pouco mais agradável. O automóvel era como uma charrete com rodas enormes e bem finas, como das primeiras bicicletas. É muito provável que isso tenha sido feito para proporcionar uma viagem mais confortável nas precárias ruas da época. Uma característica distintiva era que esses veículos ainda mantinham três rodas.
Os primeiros veículos de quatro rodas
Foi novamente através da dupla Karl Benz e Gottlieb Daimler que tivemos o primeiro projeto de um modelo que contaria com quatro rodas, além de um foco um pouco maior no design automotivo. Era uma versão que já contava com uma capota escamoteável, uma suspensão primitiva que permitiu o uso de rodas menores de madeira, mecânica coberta, bem como um anteparo frontal para proteção da perna dos passageiros e faróis a óleo ou acetileno.
Contudo, nenhuma destas mudanças foi tão impactante quanto à padronização do uso das quatro rodas, a qual continua até hoje. Ela surgiu devido à evolução técnica: o sistema patenteado de direção biarticulado (como são todos atualmente), em que cada roda dianteira conta com seu eixo de esterçamento.
Ainda assim, havia um grande problema com este e outros modelos que se sucederam: nenhum deles era feito em escala industrial, o que encarecia demais o produto. Só que tudo mudou quando Henry Ford lançou o icônico “modelo T”.
O modelo T marca a chegada da produção em escala industrial
O Ford modelo T é um carro fundamental na história automobilística por ser o primeiro carro popular da história. Isso veio da forma como ele foi concebido, pois eram veículos que se baseavam em um chassi sobre o qual eram montados o motor à frente e uma carroceria que contava com paralamas e para-brisas.
Apesar de haver variações e versões do modelo T, Henry Ford padronizou o que seria conceitualmente um automóvel para ser montado em linha de produção. E uma coisa a se destacar é que mesmo visando uma produção fácil e rápida, já havia uma preocupação estética muito maior com o veículo. Ainda assim, ele trazia muitas semelhanças com as carruagens, especialmente pelas rodas e a presença do estribo.
O design automotivo passa a ser ponto de interesse para as montadoras
Naturalmente, com a evolução tecnológica dos carros, passou-se a ter um maior interesse dos consumidores pelo fator estético. Isso porque durante muito tempo os veículos eram um artigo de luxo.
Só que no início a principal forma com que se era dado este aspecto luxuoso era fazendo um automóvel maior e com peças feitas de materiais nobres. E com a melhora das vias, pode-se trabalhar com veículos mais baixos e sem aquela aparência de carruagem.
A década de 1910 trouxe algumas evoluções importantes:
- Em 1911, Charles F. Kettering e Henry M. Leland, da Dayton Engineering, desenvolveu o primeiro sistema de partida elétrica nos EUA. Seu principal impacto foi popularizar os veículos entre as mulheres, que evitavam utilizar o sistema de partida a manivela dos modelos à combustão;
- Em 1912 surgiram os primeiros faróis com lâmpada elétrica. Esta invenção impactou diretamente o design dos carros, que não precisariam mais usar aquelas lanternas que lembravam as de residências.
Com o passar dos anos, vimos montadoras apostando no design automotivo que remetesse à “art déco”, como, por exemplo, a GM, que conseguiu tomar o posto da Ford. Isso ocorreu principalmente por Henry Ford insistir em manter o design base do modelo T, sem buscar modernizá-lo. Tal mudança só ocorreu quando seu filho, Edsel Ford, o convenceu a investir em um desenho mais moderno, surgindo assim o “modelo A”.
O primeiro departamento de estilo da indústria automobilística e a criação do monocoque
A GM tem grande importância na evolução do design automotivo, pois foi ela a primeira a ter um departamento de estilo, desenvolvido em 1927. Inclusive, se olharmos o modelo roadster de 1928, já podemos notar uma maior preocupação com o design e até mesmo a presença de linhas mais arredondadas em determinadas partes do veículo.
Já nos anos 1930, tivemos outra importantíssima inovação técnica, quando foi criado o “monocoque”, ou chassi de casco único. Isso tornou os carros mais leves, simples de produzir e estruturalmente mais sólidos.
O impacto disso foi que os conjuntos passaram a ser montados sobre as longarinas. Este conceito de monobloco permitiu que tudo fosse montado dentro delas, baixando ligeiramente a altura dos veículos e eliminando os estribos.
O maior impacto desta nova tecnologia foi no design dos novos modelos, pois as peças anteriormente isoladas do corpo principal, como paralamas, faróis e estribos, começaram a ser integradas à carroceria.
Os efeitos pós-guerra
A rápida evolução que a indústria automobilística passava teve uma estagnação por conta da II Guerra Mundial, pois as fábricas foram todas usadas para criar veículos de guerra. Com isso, quando o conflito acabou, o que observamos eram essencialmente automóveis com design e tecnologia semelhantes às dos anos de 1938 e 1939.
Foi apenas no fim da década de 40 que voltamos a ter novidades, sendo que foi o momento de grande diferenciação entre a indústria dos EUA e da Europa.
Isso porque, nos EUA, tínhamos os veículos que passaram a abusar do uso de aço, tendo um design robusto e o paralama definitivamente integrado à carroceria. Também chamava atenção o tamanho reduzido dos vidros destes modelos.
Por outro lado, na Europa, o desperdício não era uma opção. Assim, começamos a observar carros mais leves, econômicos e com designs mais acanhados em comparação aos dos EUA. Contudo, essa abordagem acabou se tornando a tendência adotada no resto do mundo devido à relação peso-potência.
Linhas quadradas x linhas redondas: a diferença no design automotivo de EUA e Europa
Depois de um período dominado por carros com desenho curvilíneo, entre os anos 30 e 60, os automóveis “quadradões” tomaram conta da década de 70 e 80, especialmente nos EUA. Foi a “era” das linhas retas no design automotivo.
Enquanto isso, a Europa ia por outro caminho, pois as linhas arredondadas passaram a fazer ainda mais sucesso por lá, dando aos automóveis uma aerodinâmica melhor. E esta foi uma tendência que acabou sendo exportada para o mundo todo, especialmente pelos carros esportivos.
Montadoras como Porsche, Mercedes-Benz, BMW e Audi foram referência neste tipo de modelo. Até por isso, esse design passou a ser associado ao luxo e sofisticação, já que eram montadoras de veículos para classes mais altas. Porém, a questão ia além do design, pois o para-brisa mais inclinado e superfícies curvas oferecem menor resistência ao vento, fazendo com que o veículo gaste menos gasolina ao percorrer a mesma distância que um automóvel de linhas retas.
Os anos 90 e o uso da tecnologia no design automotivo
Os anos 90 marcaram avanços no que se refere à forma como os carros são desenhados. Para entendermos: antes os projetos eram feitos em argila, madeira e outros materiais. A partir da década de 80, eles passaram a ser produzidos no computador e na década de 90, graças ao avanço do 3D, foi possível criar carros com ainda mais fluidez.
Esse avanço tecnológico também foi responsável por baratear a produção dos automóveis e de novas chapas curvas de metal, ajudando a popularizar os carros curvilíneos. Atualmente, até vemos carros com linhas mais retas, porém com um detalhe: eles sempre mantêm as quinas arredondadas, melhorando a aerodinâmica e ajudando a reduzir o consumo de combustível.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA