Com uma carreira meteórica, que infelizmente foi abreviada por sua morte prematura, Jean-Michel Basquiat conseguiu colocar seu nome na história. Destacando-se no efervescente cenário artístico nova-iorquino dos anos 80, e sendo até hoje um dos artistas negros de maior destaque no mundo.
Vamos conhecer um pouco sobre sua carreira e como ele se consolidou como um dos grandes nomes da arte no século XX.
A infância de Jean-Michel Basquiat e a importância da mãe em sua carreira
Sempre que falou sobre suas influências, Jean-Michel Basquiat (que era autodidata) destacava a importância da sua mãe para ele ter se tornado o artista que se tornou.
Isso porque, desde pequeno, sua mãe (que também desenhava) sempre o manteve muito próximo da arte. Ela o levava frequentemente a exposições no Museu Metropolitano de Arte e no Museu do Brooklyn. Inclusive, existe boa documentação que comprova que foi ela quem o inspirou a seguir a carreira artística.
Em 1986, o próprio artista falou sobre o tema:
“Já declarei que minha mãe me deu todas as coisas primárias. A arte vem dela.”
Ela teve influência nisso até mesmo no momento mais difícil do artista, quando Basquiat foi atropelado por um carro, sofrendo diversas fraturas. Durante o período que ficou internado no hospital, sua mãe o presenteou com uma cópia do livro Anatomia de Gray. Este viria a se tornar uma inspiração para seus desenhos anatômicos.
A adolescência conturbada e a vida nas ruas de Nova Iorque
Sua infância foi relativamente tranquila, mas quando ele ficou mais velho tudo mudou. Jean-Michel Basquiat era filho de Gerard Jean-Basquiat, ex-ministro do interior do Haiti, e de Mathilde Andrada, de origem porto-riquenha. Seu pai, quando foi para os EUA, se tornou proprietário de um grande escritório de contabilidade, o que o manteve com uma vida relativamente tranquila.
Só que seus pais se separaram, o que o fez mudar-se para Porto Rico com seu pai e irmãs, morando no país entre 1974 e 76. Nesse período, ele se tornou um jovem rebelde, fugindo várias vezes de casa. Posteriormente, já de volta aos EUA, ele seguiu com o mesmo comportamento, sendo inclusive expulso por má conduta da escola alternativa City-As-School, de Nova York, aos 17 anos.
Com 18, ele saiu de casa e foi morar com alguns amigos, momento que mudou para sempre sua vida artística.
O período nas ruas, a entrada no mundo do grafitti e o SAMO
Apesar de toda a rebeldia que tomou conta da vida de Jean-Michel Basquiat ter sido um dos principais motivos de sua morte prematura, ela também foi um dos principais elementos para a criação de sua arte.
Durante o período, ele fez amizade com Al Diaz e juntos criaram um projeto de graffiti chamado SAMO (Same Old Shit ou “sempre a mesma merda”, em tradução literal).
Este projeto conceitual tinha uma peculiaridade: diferente de muitos graffitis que ficavam apenas na periferia de Nova York, estes eram feitos em sua maioria próximos a galerias importantes da época. Ainda assim, também era possível ver alguns em estações de metrô e na baixa Manhattan.
As obras tinham uma característica em comum: todas traziam a inscrição ‘SAMO’ ou ‘SAMO shit’. Essa assinatura surgiu em 1977, quando Basquiat criou o personagem que leva o mesmo nome, que ganhava a vida vendendo uma religião falsa.
Muitas destas obras traziam poemas e reflexões filosóficas sobre diversos temas, incluindo política e religião.
Ele começou a ganhar notoriedade quando, em 1978, o jornal The Village Voice escreveu sobre o trabalho SAMO. Contudo, apenas um ano depois, tivemos o fim do conceito (por conta de um desentendimento entre os dois artistas), com uma mensagem “SAMO is dead” (SAMO está morto) que foi feita nas paredes de prédios do SoHo de Nova York.
Um fato interessante é que ainda em 1978 ele teve seu primeiro contato com Andy Warhol, quando este comprou um de seus cartões postais.
A versatilidade artística de Basquiat e suas primeiras exposições
Indo do desenho ao graffiti, ele mostrou até mesmo inclinação para a música, quando em 1979 formou a banda “Channel 9”, que mais tarde foi renomeada como “Test Pattern”.
Durante este período, ele seguiu criando cartões e camisetas para seu sustento e começou a se relacionar com diversas pessoas do meio da arte. Por exemplo, conheceu Glenn O’Brien, que começou a lhe dar espaço na TV Party, do próprio O’Brien.
Além disso, ele conheceu Diego Cortez, uma figura influente na cena dos clubes de East Village que Basquiat frequentava, como o Mudd Club. Cortez apreciou sua arte e o apresentou a Henry Geldzahler, que se tornou o primeiro colecionador de suas obras.
Finalmente, em 1980, ele participou de sua primeira exposição, chamada “Times Square Show”, uma exposição coletiva feita em um prédio vago e com diversos outros nomes do cenário alternativo da região.
O evento foi muito bem recebido pelo mundo da arte, sendo Jean-Michel Basquiat um dos nomes mais falados. Um ano depois, ele foi convidado por Diego Cortez para o “New York/New Wave”, exposição na qual ele participou junto de Andy Warhol.
Deslancha a carreira de Jean-Michel Basquiat
Ele passou a participar de diversas exposições nos EUA e até mesmo na Europa, quando expôs suas obras na Itália. Um ano depois, ele conheceu Shenge Kapharoah, um artista de Barbados, e tornaram-se grandes amigos. Essa amizade foi importante, pois foi a primeira pessoa que ele conheceu que tinha ideologias similares, referentes à cultura africana, racismo, assim como sua diáspora.
Em 1982, ele se mudou para Los Angeles e rapidamente se integrou ao cenário artístico local, conquistando a simpatia dos colecionadores. Além disso, foi convidado para uma grande exposição na Alemanha, onde estavam presentes diversos nomes consagrados, e ele, com apenas 21 anos, era o mais jovem entre os 176 artistas.
Durante esse período, ele conseguiu “furar a bolha” de artistas da periferia e começou a expor em locais que normalmente não os aceitavam. Junto a sua carreira artística, ele produziu um disco de rap com diversos artistas, incluindo Al Diaz (com quem voltou a falar), além de trabalhar diversas vezes como DJ em clubes de Manhattan.
A relação com Andy Warhol
Há muita polêmica em torno da relação entre os dois, mas ao que tudo indica, eles de fato tinham uma amizade, ainda que muitos questionem que Warhol usava muito o jovem artista para se promover.
A relação entre os dois se aprofundou em 83, quando Jean-Michel Basquiat alugou um apartamento de Warhol. A proximidade entre os dois se revelou em retratos pintados um do outro, discussões filosóficas, artísticas e até experiências familiares de Basquiat.
Inclusive, aqui tem um ponto positivo sobre a relação dos dois: Warhol o aconselhava constantemente, tanto para ter uma relação melhor com sua família, como lidar melhor com bebidas e drogas (que eram um problema desde sua adolescência).
Em 1984, muitos amigos ficaram preocupados com o uso excessivo de drogas de Basquiat, que o levou até a destruir rascunhos e desenhos em seu estúdio. Já em 85, após críticas a um trabalho colaborativo, a amizade entre Warhol e Basquiat ficou estremecida.
Ainda assim, eles mantiveram algum contato, mas seguiram de forma independente, com Basquiat expondo em diversas grandes galerias nos EUA e na Europa entre 1985 e 86. Só que a morte de Warhol em 87 colocou a carreira (e a vida) de Basquiat rumo ao fim.
Os últimos meses de vida de Basquiat
A morte de Warhol teve um impacto devastador na vida de Basquiat, mas principalmente na sua saúde mental, pois pessoas próximas diziam que ele era o único que conseguia tirar o artista do “abismo”.
Ainda assim, ele seguiu expondo entre 87 e começo de 88, mas em um determinado momento Basquiat parece que finalmente se rendeu ao tratamento contra as drogas. Algum tempo depois, Brian Williams (seu antigo assistente em Los Angeles) falou que ele estava feliz e dizendo estar livre das drogas.
Contudo, em 12 de agosto, ele foi encontrado morto em seu estúdio, justamente por overdose.
Uma triste ironia é que ele morreu aos 27 anos, mesma idade que os ídolos dele, Jimi Hendrix e Janis Joplin, morreram. Ainda assim, o legado de Basquiat para as artes perdura até hoje, sendo um dos grandes nomes da arte contemporânea e um dos artistas negros mais proeminentes da história.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA