Durante o começo do século XX, os Estados Unidos tornaram-se um importante polo artístico mundial. Entre os muitos motivos, podemos citar o fato de que muitos ícones europeus buscaram o país como refúgio da Primeira Guerra Mundial. Graças a essa importante troca de conhecimento que tivemos artistas estadunidenses surgindo e entre eles, temos Man Ray. 

Ele foi um artista bastante versátil, não se prendendo apenas a pintura, mas explorando principalmente a fotografia, área em que foi responsável por muitas inovações. Será sobre esse importante nome das artes o tema deste artigo. 

Man Ray: o início e o primeiro contato com o dadaísmo 

Emmanuel Rudnitsky (seu verdadeiro nome), nasceu na Filadélfia, nos Estados Unidos, no dia 27 de agosto de 1890. Quando ainda era criança, ele mudou-se para o Brooklyn, em Nova York, mas não fica por lá para fazer seus estudos. Isso porque em 1909 inicia na The Social Center Academy of Art, que fica em São Francisco, na Califórnia. 

Foi neste período que ele adotou o pseudônimo de Man Ray e iniciou sua carreira artística em 1912. Já de volta a Nova York, ele rapidamente consegue fazer amizade com os artistas de vanguarda da pintura e fotografia da região. No entanto, a grande mudança em sua carreira veio em 1915, quando conheceu dois pintores franceses: Marcel Duchamp e Francis Picabia. 

Ambos haviam se mudado para Nova York e junto com eles fundaram o grupo dadá nova-iorquino. O movimento dadaísta da região tinha um caráter deliberadamente provocativo e buscava através de obras que chocassem, tirar as pessoas de um estado de complacência em que estavam. Durante esse período funda a primeira revista dadaísta dos Estados Unidos, chamada The Ridgefield Gazook. 

Com isso, pretendiam que elas criassem uma forma de arte livre dos valores e ideias que a haviam precedido. Vale mencionar que nesta primeira fase de sua carreira, Man Ray fazia pinturas cubistas, seguindo a influência estética de Picasso. Inclusive um dos exemplos é a obra “Orquestra Sinfônica”, de 1916. 

A mudança para Paris e o primeiro contato com a fotografia 

Em 1921 Man Ray separa-se de sua mulher, a poeta belga Adon Lacroix, e muda-se para Paris, envolvendo-se artisticamente novamente com Marcel Duchamp, pois lá ele participa do movimento dadaísta parisiense. E neste momento que ele tem contato pela primeira vez com o surrealismo na pintura.  

Neste momento ele já havia começado a trabalhar com fotografia, mas inicialmente usando-a como um meio de financiar sua pintura. Neste período ele experimenta principalmente o uso de tinta spray em suas obras, provavelmente fruto de influências do muralismo, que também começava a ganhar espaço nos EUA.  

Ele então começa a fazer experimentações com fotos e desenvolve sua arte através delas. Neste momento ele cria a “raiografia” (também chamada de fotograma). Trata-se de uma técnica em que os objetos são colocados sobre o papel fotográfico em um quarto escuro e expostos à luz sem a utilização da câmera.  

Com o surrealismo em alta na França e com Man Ray sendo bastante influenciado pelo movimento, ele faz uso dele junto com a fotografia, criando uma de suas obras mais famosas: “Le Violon d’Ingres”. A fotografia em preto e branco de 1924 mostra uma mulher de costas com os recortes comuns ao violino nela. 

A estreia de Man Ray no cinema

O ano de 1928 mostrou toda versatilidade de Man Ray nas artes, pois foi quando ele lançou seu primeiro filme nos cinemas. Chamado “L’Étoile de Mer”, tratava-se de um curta que usava uma técnica chamada solarização, pela qual inverte parcialmente os tons da fotografia. 

Durante esse período ele atuou de forma revolucionária na fotografia, além de fazer uma série de nus de Meret Oppenheim, uma artista surrealista que se permitiu ser fotografada por Man Ray. Além disso, em 1932 é quando cria outra de suas fotos mais famosas. Com o título de “lágrima”, ele dá um close no rosto de uma mulher e se utiliza de gotas de vidro para imitar as lágrimas. 

Ele segue morando na França até 1940, quando finalmente retorna para os EUA, por conta agora da Segunda Guerra Mundial. Só que desta vez para morar na Califórnia.  

O breve retorno aos EUA e o reconhecimento internacional 

Durante o período em que morou nos EUA, Man Ray seguia com suas experimentações com a fotografia. Só que ao mesmo tempo, também fotografa diversas estrelas de Hollywood, entre elas Ava Gardner, Marylin Monroe e Catherine Deneuve. Ao mesmo tempo, ele passa a lecionar sobre fotografia.  

Sua estada dura até 1946, quando ele retorna para a França, já com a guerra encerrada. Ao longo de sua carreira, Man Ray sempre defendeu a fotografia como forma de arte e mostrou isso ao longo de muitas experimentações. Inclusive ele tem uma definição bastante interessante sobre quando usar fotos e quando pintar: 

“Em lugar de pintar pessoas, comecei a fotografá-las, e desisti de pintar retratos ou melhor, se pintava um retrato, não me interessava em ficar parecido. Finalmente conclui que não havia comparação entre as duas coisas, fotografia e pintura. Pinto o que não pode ser fotografado, algo surgido da imaginação, ou um sonho, ou um impulso do subconsciente. Fotografo as coisas que não quero pintar, coisas que já existem.” 

No entanto, o reconhecimento internacional de Man Ray veio apenas nos anos 60. Foi na Bienal de Fotografia de Veneza de 1961, quando ele recebeu a medalha de ouro. Dois anos depois, ele lança sua autobiografia. Posteriormente em 66 ele volta aos EUA para fazer sua primeira grande retrospectiva no Los Angeles County Museum of Art. 

Ele ainda consegue ver no início dos anos 70 com o pós-modernismo e a pop art de Andy Warhol, a fotografia se afirmar de vez como obra de arte. Man Ray falece em 1976 em Paris. 

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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA