O mundo da alta costura por muito tempo ignorou a moda plus size em suas coleções, limitando-se a criar roupas apenas sob encomenda. Porém, desde os anos 2000 que vemos uma luta por maior inclusão de outras categorias de corpos que saiam daquele padrão magérrimo, marca dos anos 90 nos desfiles.
Apesar de muitos avanços, o cenário ainda está muito longe do ideal, como vamos mostrar melhor neste artigo.
A origem da moda plus size
Esse termo pode parecer novo, mas já possui mais de 100 anos, sendo utilizado pela primeira vez em 1920 pela estadunidense Lane Bryant. Ela criava vestidos para gestantes e durante este período percebeu uma lacuna no mercado de vestidos de tamanhos maiores. Para encontrar a modelagem ideal, ela chegou a medir mais de 4.500 clientes, antes de lançar sua própria marca.
Um dos anúncios da marca Lane Bryant na época
A premissa da designer era fornecer roupas de boa qualidade (e dentro das tendências) para mulheres fora das medidas padrões. O sucesso foi tanto, que muitas lojas de departamento passaram a colocar esta modelagem de roupa para vender também. A marca inglesa Evans seguiu uma linha similar e conseguiu um alcance mundial na época.
Contudo, nesta época apenas as roupas eram vistas como “plus size”. O termo passou a ser utilizado para pessoas apenas em 1953, em um anúncio da marca Korrel.
As polêmicas relacionadas a magreza das modelos
Ao longo da história o padrão de beleza feminino variou demais. Por exemplo: na idade média, a mulher mais “cheinha” era sinal de que ela era bem de vida, já que comida farta era luxo. Em outros tempos tivemos a cintura fina como referência (por conta dos espartilhos) e por aí vai.
Todavia, a alta costura em determinado período definiu como padrão de beleza corpos extremamente magros como sendo o modelo ideal. Muitos colocam a modelo dos anos 60 Twiggy (significa graveto em inglês) como a precursora desse movimento.
A modelo Twiggy, uma das primeiras top models super magras
Os anos 90 contaram com seu auge, com diversas modelos tornando-se celebridades que extrapolavam o mundo da moda. Isso faz com que muitos estilistas e marcas ainda vejam esse como “os anos de ouro da alta costura”. Este período teve modelos ao estilo “Califórnia” (bronzeadas e mais torneadas), mas que perderam espaço para o controverso “heroin chic”.
Com Kate Moss como maior exemplo, esse visual passou a ser tendência, com modelos extremamente magras, com olheiras, cabelos bagunçados e pouca maquiagem. O mais grave deste momento da moda é que as drogas (especialmente a heroína e cocaína) eram vistas com naturalidade no meio e em alguns casos até incentivadas.
A perturbadora tendência do heroin chic dos anos 90
Esse movimento perdeu força a partir da tragédia envolvendo o casal Davide Sorrenti (fotógrafo) e Jamie King (modelo). Ele morreu de overdose e ela foi levada para a reabilitação no fim dos anos 90. Desde então, cada vez mais questionamentos acerca da saúde das top models eram feitos.
O casal Jamie e Davide, que sofreu as consequências desse perigoso movimento de culto as drogas na moda
Os anos 2000 e o combate a cultura da magreza
Muitas modelos, inclusive a própria Kate Moss, apareciam para dizer que não sofriam com distúrbios alimentares como bulimia ou anorexia. Entretanto, tantas outras falavam do problema que sofriam (algumas até em condição de anonimato) e da pressão das marcas e estilistas para elas manterem o corpo magérrimo.
Tivemos até casos de modelos serem proibidas de desfilar se estivessem com o índice de massa corporal abaixo do limite considerado saudável. Ainda assim, muitas marcas e estilistas ignoravam isso e seguiam mantendo o padrão de antes, julgando que isso era apenas “politicamente correto” e que as regras eram “ridículas”.
Justamente neste cenário que a moda plus size começou a ganhar mais espaço, para ser uma antítese daquele padrão.
O maior espaço ao plus size
Essa tendência fez com que algumas marcas passassem a colocar modelos plus size em seu desfile, até pensando num aspecto que ganhou muita força na década de 2010: o impacto das redes sociais. Com elas fazendo cada vez mais barulho e com a capacidade de afetar a imagem de uma grife consideravelmente, muitas passaram a fazer essa inclusão.
A própria opinião pública também já se posicionava a favor deste movimento, porque através de muitas reportagens investigativas, tiveram consciência do perigoso cenário que tínhamos na alta costura.
Posteriormente, começaram a surgir top models plus size desfilando para grandes marcas. Alva Claire, Paloma Elsesser, Ashley Graham e Jill Kortleve são vistas como pioneiras nas passarelas. As quatro inclusive foram capas juntas da Vogue italiana, em que falaram das experiências e da expectativa que o trabalho duro para conquistar espaço que elas tiveram facilite futuras top models.
Vogue Itália e as pioneiras modelos plus size. Da esquerda para a direita: Alva Claire, Paloma Elsesser, Ashley Graham e Jill Kortleve
A própria Vogue passou a dar mais espaço a modelos plus size, com elas estampando suas capas ao redor do mundo. Ainda assim, o cenário atual deixa muito a desejar.
O atual cenário da alta costura em relação à moda plus size
Depois de uma alta durante o período da pandemia, tivemos marcas apresentando suas coleções de inverno de 2023 com pouca ou nenhuma representatividade das top models fora daqueles padrões mais esguios.
Segundo a revista Vogue, a representatividade em eventos como New York Fashion Week e Paris, tiveram apenas marcas que já encampam essa diversidade, como Karoline Vitto. O que se discute é o motivo dessa queda e duas hipóteses são vistas como prováveis:
- A primeira trata que a preferência por modelos esguias nunca deixou de ser a preferência e as marcas fizeram essa inclusão por pura questão mercadológica. Ou seja, quando atingiram o status que julgavam necessário, colocaram isso de lado;
- A segunda é mais preocupante e trata de uma onda relacionada ao remédio Ozempic. Apesar de sua indicação para tratamento de diabetes, muitos o usam de forma indiscriminada, buscando perder peso rápido.
Infelizmente como podemos ver, as grandes marcas seguem ainda certos vícios que parecem difíceis de acabar. Junto a isso, questões perigosas de saúde, como uso sem orientação de medicamentos, parecem se renovar. Ainda assim, os avanços que temos para maior inclusão e uma moda plus size não sendo apenas uma tendência de época, são consideráveis.
Somado a pauta da inclusão, que a “geração Z” defende, é possível que esse retrocesso não perdure e logo tenhamos a moda plus size definitivamente integrada a alta costura.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA