O que é a polêmica na arte? Trata-se de uma questão atemporal que não possui respostas corretas ou erradas. É uma questão que varia consideravelmente ao longo das épocas e, com o tempo, algo chocante pode se tornar revolucionário.
Ao longo da história, várias pinturas e obras de arte foram alvo de polêmicas e críticas devido à representação de uma realidade excessivamente crua. No entanto, hoje, essas obras são consideradas essenciais para a história da arte.
Para ilustrar essa evolução na percepção da polêmica na arte, analisaremos tanto obras antigas quanto contemporâneas. Vale ressaltar que nem todas as obras polêmicas no presente serão necessariamente vistas como importantes no futuro. Em alguns casos, a rejeição das obras se devia à incompreensão do público da época.
1 – Davi, de Michelangelo (1501-1504)
Uma das esculturas mais famosas da história continua a ser alvo de polêmicas até os dias de hoje. Por exemplo, de acordo com a BBC, a diretora de uma escola na Flórida, nos Estados Unidos, pediu demissão devido à pressão do conselho da escola. O motivo foi a reclamação de pais de alunos que alegaram que seus filhos haviam sido expostos à pornografia, pois ela exibiu, em sala de aula, imagens da famosa escultura de Davi, de Michelangelo.
Se isso ainda acontece em pleno 2023, na época da criação da escultura, a situação não foi diferente. As acusações de indecência eram recorrentes e resultaram em uma adaptação inusitada: cobriram-na em determinado momento com uma espécie de tanga feita de folhas de figueira de metal para amenizar a suposta falta de pudor. Infelizmente, até hoje, isso ocorre com réplicas da estátua em exposições ao redor do mundo.
2 – Saturno Devorando um Filho, de Francisco de Goya (1819-1823)
Trata-se de um afresco da série “Pinturas Negras” do pintor espanhol. São um total de 14 obras que ganharam este nome devido aos pigmentos escuros e à temática sombria.
A obra retrata o mito romano de Saturno, que devorava seus filhos com medo de ser destronado, logo após o parto de Réia, a mãe deles. A representação cruel da cena, na qual observamos a figura disforme do titã idoso devorando um homem adulto, suscita questões sobre a motivação de Goya para a pintura.
Para alguns, Goya a criou como uma crítica ao contexto político espanhol da época, representando o poder destrutivo da tirania, violência e insanidade. Goya pintou a obra em meio a um período de turbulência política e violência na Espanha, e muitos a consideram um reflexo dos horrores da guerra e do abuso de poder.
É importante mencionar que o título da obra não foi atribuído pelo artista espanhol, mas sim por historiadores de arte que tentavam identificar as figuras que ele representou nas “Pinturas Negras”.
3 – O Urinol, de Marcel Duchamp (1917)
Falamos talvez de uma das obras mais controversas e polêmicas na arte do século XX. Ela consiste simplesmente em um urinol com a inscrição ‘R.Mutt 1917’ e esteve presente no Salão da Sociedade Nova-Iorquina de Artistas Independentes. Apesar de ter sido rejeitada pelos organizadores, eles não puderam desclassificá-la, já que uma cláusula no regulamento do evento exigia que todos os trabalhos inscritos e pagos fossem expostos.
A presença da obra atendeu aos objetivos de Duchamp: gerar discussão sobre o que significa arte. Partiu-se da reflexão sobre como um objeto comum do dia a dia poderia ser considerado uma obra de arte, desde que o ambiente em que ele se encontrava o definisse como tal.
A partir desse momento, vários artistas passaram a seguir uma linha similar. A ideia desta corrente é priorizar a mensagem, tornando-a mais importante que a obra em si, como no caso do Urinol. O próprio Marcel Duchamp usou repetidamente uma frase que explica bem este conceito:
“Será arte tudo o que eu disser que é arte”.
4 – Shark, de David Cerný (2005)
No século XXI, uma obra causou considerável polêmica quando foi exposta pela primeira vez. Ela consistia em um tanque de água com uma escultura do ex-ditador Saddam Hussein com as mãos amarradas e flutuando.
Sua morte ainda era recente (2003), e a obra recebeu críticas tanto do público como de especialistas. A crítica principal era o tratamento quase vitimizado do ex-ditador. Junto a isso, muitos a consideraram uma forma de agressão visual.
Sua inspiração veio de outra obra polêmica dos anos 90. O artista Damien Hirst criou “The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living” (ou “A Impossibilidade Física da Morte na Mente de Alguém Vivo”). A obra, de 1991, apresentava um tubarão suspenso em uma solução de formol e também gerou bastante repercussão quando ele a lançou.
5 – Tree, de Paul McCarthy (2014)
Não confundam com o ex-Beatle. Este é um artista estadunidense, e o motivo da polêmica é, no mínimo, curioso. A enorme escultura inflável estava em exibição de Natal na Praça Vendôme, em Paris, mas permaneceu disponível por pouco tempo para o público.
Segundo as autoridades locais, vândalos a derrubaram e esvaziaram. O motivo foi a semelhança da escultura com um acessório sexual, o que inicialmente indignou os observadores e resultou na sua posterior vandalização..
O próprio Paul McCarthy foi vítima destes observadores. Um visitante, indignado com a obra ‘Tree’, questionou o artista e, em seguida, lhe deu três tapas no rosto antes de desaparecer na multidão.
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Autoria: Departamento de Pesquisa e Cultura ABRA